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Spock & Kirk: spirk em Star Trek e as fanfics gays dos anos 60 e 70


Jornada nas Estrelas (Star Trek), série estadunidense criada por Gene Roddenberry, não é famosa somente por criar uma incrível história sobre a exploração de novos mundos, novas vidas e novas civilizações, mas também pelo seu impacto na ficção científica como gênero e na evolução do relacionamento entre obra e público.

O seriado entrou para a história da TV justamente porque expõe um lado esperançoso, evolutivo e pacífico da humanidade, e os roteiristas abordaram isso da melhor maneira possível: na qual os seres humanos, de vários lugares, culturas e vivências do planeta Terra se unem para explorar o universo.

As três temporadas, que foram ao ar entre 1966 e 1969, tiveram um papel fundamental na criação do que se tornaria o maior fandom daqueles tempos. É um fato que sempre existiram grupos de admiradores ao redor do mundo, sendo de artistas dos mais diversos nichos, como literatura, cinema ou a própria televisão, mas é inegável que Star Trek evoluiu completamente o conceito de ser um fã ao contribuir, e muito, para uma das melhores coisas existentes no mundo: as fanfictions.

A origem da ficção de fã é o tipo de mistério que não tem uma resposta exata e provavelmente nunca terá, pois, querendo ou não, muitas criações que consideramos como originais apresentam elementos que vieram de outras obras. Isso acontece desde as peças de William Shakespeare até a saga de livros Crepúsculo, de Stephenie Meyer. As fanfics existiam antes da internet ou do próprio termo “fanfic” se popularizar, mas Star Trek, principalmente o relacionamento entre James Kirk (William Shatner) e Mr. Spock (Leonard Nimoy), teve um papel crucial na jornada e no conceito das fanfics que conhecemos atualmente.

A premissa spirk em Star Trek

A premissa de que Kirk e Spock são personagens muito íntimos veio, na verdade, de uma ideia do aclamado autor de ficção científica, Isaac Asimov, que era fã do seriado e amigo próximo de Gene Roddenberry.

O capitão Kirk foi criado para ser a estrela e o foco da história, mas os telespectadores acabaram se afeiçoando muito mais pela personalidade do vulcano Spock, algo que não estava nos planos dos roteiristas. Com isso, Roddenberry pediu ideias para colocar Kirk novamente como o personagem central, e Asimov o respondeu com uma carta que sugeria um processo de desenvolvimento maior na intimidade e confidencialidade entre Kirk e Spock, fazendo os dois personagens funcionarem como um salva-vidas um do outro e, assim, tornarem-se a dupla inseparável que conhecemos e adoramos.

Gene Roddenberry gostou da ideia e logo a colocou em prática, mas felizmente as coisas “saíram do controle” mais uma vez quando muitos espectadores passaram a interpretar o relacionamento entre Spock e Kirk não só como uma amizade devota, mas também como uma conexão de almas gêmeas e de uma intimidade sexual forte.

Jacqueline Lichtenberg, escritora e “fã profissional” de Star Trek, se aprofundou na dinâmica entre obra e fandom através da sua famosa coleção de fanfics, Kraith, que tinha como objetivo explorar a cultura vulcana e o vínculo telepático e empático entre Spock e Kirk com contos e novelas. Todas as histórias eram compartilhadas pelos correios da época e circulavam nos grupos “secretos” do fandom da série.

Em uma entrevista ao The Fifty-Year Mission Volume 1, Jacqueline explica que: “Quando os Trekkers [fãs de Star Trek] estudaram a série de TV, eles viram Kirk e Spock como uma unidade, como uma entidade, como uma necessidade de 'juntar', como dois pólos de um imã, porque GR [Gene Roddenberry] os criou para serem duas metades de um todo [...]. A hipótese da alma gêmea é profunda na literatura romântica e muitas das mulheres atraídas pelo fandom de Star Trek, que escreveram fanfic, não eram leitoras ou fãs de ficção científica tanto quanto eram leitoras e fãs de romance. As outras partes do fandom feminino de Star Trek eram formadas por cientistas, [...] outras eram bibliotecárias e professoras cuja educação e profissões incluíam a sociologia como ciência [...] e, de repente, as pessoas em todos os lugares estavam discutindo a hipótese escrevendo histórias. Simultaneamente, a comunidade gay estava em processo de sair do armário, então, enquanto muitas histórias de [Star] Trek eram baseadas em fem-lib [libertação feminina], outras eram baseadas em gay-lib [libertação gay]. Minha tese é que a ficção popular segue e reflete as tendências sociais, mas não as causa. A ficção popular pode e ajuda as pessoas que não fazem parte de uma determinada tendência social a entender as pessoas que fazem parte dessa tendência social.”.

Obviamente, nas décadas de 1960 e 1970, ser gay ou compartilhar histórias com teor homoafetivo não era bem-visto por muitas pessoas, então algumas das fãs de K/S nomearam o relacionamento como “A Premissa”. Quando elas conheciam e conversavam com outro fã de Star Trek, fosse por cartas, telefonemas ou pessoalmente, e queriam saber se essa pessoa shippava Spirk (apelido que os fãs deram ao casal, sendo uma junção dos nomes Spock e Kirk), elas discutiam sobre “A Premissa”. O termo era utilizado tanto por fãs que não gostavam da premissa de Spirk quanto pelos fãs que a amavam e a defendiam. É possível ler o termo sendo usado em discussões nos zines e cartas entre os fãs da série.

Se formos parar para pensar a respeito disso, essas discussões dos anos 70 não são muito diferentes do que vemos hoje em dia na internet, pois sempre teremos um grupo contra a ideia de um relacionamento entre dois personagens masculinos e um outro grupo a favor, assim como os dois lados irão discutir e argumentar seus pontos de vista por diversos motivos, seja por amor ou ódio ao casal de maneira puramente emocional ou de maneira racional ao fazer análises com base no entendimento da obra. Isso acontece desde seriados, filmes e livros clássicos até os mais atuais, como Sherlock Holmes, O Grande Gatsby, X-Men, Star Wars, Supernatural, Merlin, House M.D, Succession, e a lista continua.

Um olhar queer na jornada de Spock e Kirk 

O relacionamento entre Spock e Kirk era de grande interesse para os fãs de Star Trek e acabou se tornando um tópico importante de discussão nas várias conversas por cartas, telefonemas ou em encontros na vida real. Essas discussões eram voltadas para o que esse relacionamento significava de verdade e movia teorias e análises de vários diálogos e cenas dos episódios do seriado ou dos filmes.

No episódio 9 da primeira temporada, “Dagger of the Mind”, o personagem Dr. Tristian Adams (James Gregory) diz a Kirk: “Você está loucamente apaixonado por Helen, Capitão. Você mentiria, trapacearia, roubaria por ela, sacrificaria sua carreira, sua reputação. Essa declaração é considerada importante porque mostra como Star Trek define as ações de alguém completamente apaixonado. É alguém que, basicamente, faria de tudo, até mesmo atitudes consideradas erradas, pela pessoa amada. O curioso do episódio é que Kirk nunca chegou a fazer todas essas coisas por Helen, mas sim por outro personagem: Mr. Spock.

No primeiro episódio da segunda temporada, “Amok Time”, Kirk mente para a federação sobre levar Spock ao seu planeta natal, Vulcano, e arrisca a sua carreira para que o amigo sobreviva. Esse tipo de situação acontece mais de uma vez no seriado e também na saga de filmes que vieram depois.

O relacionamento entre os dois protagonistas é visto como algo totalmente platônico por muitas pessoas, incluindo o ator William Shatner, que já afirmou que considera seu personagem um homem heterossexual. No entanto, isso não impede que um grupo de fãs interpretem essa mesma história como uma linda jornada de amor gay, principalmente quando há diversas cenas que apresentam um possível teor romântico e sexual entre os dois personagens.

Spock e Kirk construíram uma bela amizade na missão de 5 anos que acontece na série original de Star Trek. Eles desenvolvem uma aliança tão profunda e significativa que até mesmo os sentidos racionais de Spock, o vulcano que tenta a qualquer custo deixar seus sentimentos de lado, ficam confusos. Isso pode ser observado logo na primeira temporada, no episódio quatro, “The Naked Time”, quando Spock não consegue controlar suas emoções e manifesta seus sentimentos claramente pela primeira vez a Kirk: “Eu respeitava meu pai, nossos costumes. Eu tinha vergonha do meu sangue terrestre… Jim, quando sinto amizade por você, fico envergonhado

A maneira como Spock lida com suas emoções é desenvolvida algumas vezes no seriado, mas também nos filmes. No início de Jornada nas Estrelas: O Filme, Spock começa um processo que eliminaria as suas emoções por completo através de uma fusão mental com V’Ger, mas o problema é que depois de experimentar isso, Spock não fica satisfeito. Ele, na verdade, percebe que uma vida sem emoções não resolveria suas aflições, muito pelo contrário. O processo todo deixou claro para Spock que essa não era a maneira que ele gostaria de viver.

“V’Ger tem conhecimento que abrange este universo. E, ainda com toda essa lógica pura, V’Ger é estéril, frio, sem mistério, sem beleza. Eu deveria saber… [...] Jim, este simples sentimento está além da compreensão de V’Ger.” Spock diz essas palavras em um momento vulnerável com Kirk, no qual ambos estão próximos, abraçados e logo depois ficam de mãos dadas enquanto encaram os olhos um do outro. É um momento simples e sincero que reflete em segundos todos os sentimentos que os dois compartilham um pelo outro: respeito, carinho, amizade, devoção e… Amor?

Há quem diga que as fanfiqueiras levam as leituras das cenas longe demais, mas pensem na seguinte situação: se essas mesmas cenas entre Spock e Kirk fossem interpretadas por um homem e uma mulher, não é óbvio que todos os telespectadores assumiriam que os dois nutrem sentimentos românticos um pelo outro? Mas como são dois homens isso “não faz o menor sentido”? O fato é que a cena pode sim ser lida como romântica. 

De acordo com o The Original Series Novel: Recovery, os vulcanos são sensíveis em relação às suas próprias mãos porque eles são telepatas de toque, logo, tocar é quase sagrado para eles. É através delas que eles demonstram afeto e, na série, esse afeto é demonstrado como romântico em muitos momentos. Então a cena em que Spock e Kirk estão colados e de mãos dadas em um momento vulnerável é algo muito significativo. “Como eles [vulcanos] são telepatas de toque, eles preferem não ter contato físico durante cumprimentos como quando duas pessoas apertam as mãos, pois os vulcanos têm uma intrusão mental desagradável pelo breve contato.”

No filme Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan, Spock já se encontra confortável em relação aos seus sentimentos de “amizade” por Kirk. Isso é evidente quando ele mesmo demonstra ao dizer: “Você é meu oficial superior. Você também é meu amigo. Eu fui e sempre serei seu”, mas, infelizmente, sabemos que no final do filme Spock arrisca a vida pelo tripulação e acaba morrendo, deixando Kirk de coração partido. A cena de “despedida” entre os dois pode ser considerada como uma das mais belas e trágicas da franquia Star Trek, por mais que a qualidade dos filmes seja questionada por muitos fãs.

Em Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock, Kirk denuncia a federação somente para trazer Spock de volta à vida após sua trágica e dolorosa morte. Ele arrisca tudo para isso, sua carreira, seus homens e até mesmo sua nave, sendo esse último sacrifício muito significativo levando em conta que Kirk sempre dizia que não há nada que ele ame mais do que sua nave. Curioso, não? Ele sacrifica tudo sem hesitar apenas para ver Spock novamente e segurá-lo em seus braços (sim, essa cena está literalmente no filme), porque isso é o que realmente importa para ele. 

A cena do reencontro é tão bela e trágica quanto a cena de despedida, porque Spock, depois de voltar à vida, não se recorda da missão de 5 anos que aconteceu na série original. Kirk fica abatido com a situação, mas logo é surpreendido quando Spock revela a primeira coisa de que se lembra: “Eu fui e sempre serei seu amigo [...] Jim, seu nome é Jim”. O quão poderoso e significativo é isso: a primeira coisa que Spock se lembra de todos aqueles anos é Kirk. No final das contas, os dois sempre foram e sempre serão dois lados da mesma moeda. A cena é quase um clichê da famosa trope de fanfics sobre perda de memória.

Aliás, há uma quantidade muito significativa que explora mais esse tropo de perda de memória e muitos outros antes mesmo do site Archive Of Our Own existir.

Jornada nas Fanfics: indo onde nenhum fã jamais esteve

Apesar de sabermos que não existe, de fato, uma história que originou as fanfics, o mesmo pode ser dito sobre as K/S. Talvez a primeira fanfic tenha sido escrita por alguém que nunca a compartilhou com outra pessoa, talvez a primeira fanfic tenha ficado somente entre um grupo pequeno e fechado de amigos. Nunca saberemos. Mas sabemos de algumas que acabaram caindo nas mãos de mais pessoas do que os autores desejaram.

A primeira fanfic com a dinâmica que conhecemos hoje em dia surgiu, possivelmente, em 1968, com The Ring of Soshern, escrita por Jennifer Guttridge. É um romance K/S de 40 páginas e seria só uma história para um grupo privado, mas os fãs começaram a distribuí-la sem consentimento. Essa circulação saiu tanto do controle que, em 1987, The Ring of Soshern foi publicada no zine Alien Brothers sem a permissão da autora, que acabou sabendo da publicação só décadas depois.

A fanfic contém muitos dos elementos que os fãs de spirk amam: pon farr, que “força” a primeira relação sexual entre os dois. Na história, os dois estão em uma caverna de um planeta pré-histórico cheio de perigos e Kirk se recusa a deixar Spock morrer por não fazer o coito. Há também elementos de “angst/comfort” e “fluffy”, tornando a história pioneira em muitos aspectos. Hoje, a fanfic pode até parecer clichê, mas ela foi considerada praticamente uma obra-prima em 1975 por muitos fãs.

Uma outra fanfic K/S que pode ser considerada pioneira é Green Plague, escrita por Audrey Baker no final da década de 60, mas só publicada em fevereiro de 1977 no zine Son of Grope. O anúncio afirma que a história foi “escrita nos anos 60, mas ainda é muito boa. Esta foi provavelmente a primeira história de K/S a ser publicada em um zine britânico; certamente uma das primeiras escritas”. A fanfic de Baker é sobre um ferimento de Kirk e como isso afeta o relacionamento entre ele e Spock. Há uma cena em que Kirk pensa que vai morrer e começa a se recordar de quando fez amor com seu melhor amigo vulcano. A fanfic tem um teor cômico e um final feliz. 

No entanto, uma fanfic que realmente teve um impacto bem maior e é considerada “a primeira fanfic K/S” por muitos (apesar de não ser realmente a primeira) é A Fragment Out of Time, de 1974, escrita por Diane Marchant. A história tem só duas páginas com aproximadamente 500 palavras, e foi impressa na edição de setembro de 1974 no Grup #3, um zine de Star Trek. Apesar de nenhum dos personagens ser propriamente nomeado e haver também um jogo no uso de pronomes que não deixa totalmente claro que são dois homens em um encontro romântico, a história também foi acompanhada de um desenho feito pela própria Marchant no topo da folha, no qual Kirk e Spock estão abraçados, então acaba ficando bem claro que se trata de uma fanfic spirk.

Em uma entrevista, pouco antes de sua morte em 2007, Diane se recusou a receber qualquer crédito pelo fenômeno Kirk/Spock: “Eu não tive nada a ver com o conceito inicial, pois [Kirk/Spock] estava se desenrolando em nossas telas enquanto assistíamos ao nosso amado Star Trek. Eu, bem, apenas aceitei um desafio e tentei sutilmente apresentar a ideia (com leves conotações humorísticas) como um cenário que a maioria poderia achar aceitável naquele momento”

Apesar de não ter a intenção, Diane Marchant provocou diversos debates por anos nos círculos de fãs de Star Trek e também fez com que Kirk/Spock se tornasse praticamente o pai das fanfics gays, pois tudo isso acabou gerando zines, arte e mercadorias dedicadas somente para apreciar o casal.

Um dos zines de K/S mais famosos é Thrust, uma antologia de 181 páginas publicada em 1978, por Carol Frisbie. O zine chamou a atenção quase imediatamente entre os fãs devido a sua ousadia na descrição das relações eróticas entre Kirk e Spock. Há um anúncio em Scuttlebutt #5 (janeiro/fevereiro de 1978) que diz sobre o conteúdo da antologia: “Uma exploração do lado erótico/sensual de Star Trek. O primeiro zine totalmente erótico de Kirk/Spock estará pronto para envio pelo correio até 15/02/78 ou para retirada na ST Expo”

O zine gerou tanta polêmica no fandom que alguns haters mandaram o conteúdo para produtores da Paramount, mas, no final nada aconteceu, felizmente. Em 1984, Carol Frisbie deu uma entrevista ao Not Tonight, Spock! a respeito da antologia: “Em 1977-78, houve muita oposição ao K/S, e eu senti que um tratamento sensível e inteligente do tema só poderia ajudar a mostrar que o K/S representa mais do que as fantasias lascivas de mulheres frustradas - que pode ser bonito e comovente, assim como erótico, e que algumas das melhores escrituras do fandom são K/S…. Eu queria que o 'Thrust' carregasse uma variedade de histórias que fariam as pessoas pensarem e que promoveriam minha firme crença de que, extrapolando suas personalidades, Kirk e Spock gradualmente chegariam a seu relacionamento de união por meio do amor, não por causa da homossexualidade inata”

Star Trek vive! E Spirk também vive!

No livro Star Trek Live!: Personal Notes and Anecdotes, escrito por Jacqueline Lichtenberg, Sondra Marshak e Joan Winston, o capítulo final descreve o fenômeno das fanfics e fanzines dentro do fandom e a influência disso em outras obras da época.

Há uma participação de Gene Roddenberry no livro através de entrevistas, e quando ele é questionado sobre o relacionamento entre Spock e Kirk, Gene responde: “Eu definitivamente projetei isso como um relacionamento amoroso. E espero que para os homens... que têm medo de tais relacionamentos... que eles [Spock e Kirk] os encorajem a serem capazes de sentir amor e afeição, afeição verdadeira... amor, amizade e profundo respeito. Essa foi a relação que tentei desenhar. Acho que também tentei criar um sentimento de crença de que poucos de nós somos completos. É uma coisa adorável... onde duas metades formam um todo”

Roddenberry com certeza estava ciente das fanfics e outras artes relacionadas a spirk e aparentemente não via nenhum problema nisso, pois comentava sobre o assunto com educação e até mesmo interesse e apoio quando questionado. E mesmo que ele não apoiasse o ship, como William Shatner já deixou claro em alguns momentos, isso não seria um problema.

É difícil para algumas fãs lembrarem que, fora da premissa spirk, o público de Star Trek não vê o relacionamento de Kirk e Spock como, de fato, algo romântico, pois no cânone da série original e outras adaptações, como os seriados e filmes mais atuais, os escritores preferem continuar com os interesses amorosos femininos para ambos os personagens.

No entanto, a cabeça das fanfiqueiras funciona de maneira diferente. Elas criam uma realidade na qual Spock e Kirk são casados, porque isso faz sentido para o que elas veem na série. Isso continua até os dias atuais, por isso, as fanfics spirk nunca saíram de moda desde a década de 60 (há quase 20 mil histórias dos dois no AO3). 

Star Trek ainda é uma das franquias mais famosas do mundo e o relacionamento entre Spock e Kirk prevalece no coração de muitos, porque o ship não foi somente responsável por incentivar e inovar a ficção de fã, mas também por fazer com que as histórias gays pudessem ser escritas, lidas e apreciadas por várias pessoas em uma época que essa prática não era comum e muito menos aceita.

Spirk é um casal especial porque o amor entre os dois não tem uma forma física, uma morte ou um fim. A alma de Spock sempre estará entrelaçada com a de Jim Kirk, já que eles estão destinados a explorar novos mundos, novas vidas e novas civilizações juntos, lado a lado. E todos nós sabemos que esse amor e conexão é tão singular quanto irrevogável.

Referências




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Sharline Freire
Estudante e leitora voraz de fanfics, assiste filmes e séries mais do que deveria e escuta músicas dos anos 40. Parece fria e séria, mas já chorou escrevendo sobre Sherlock Holmes e John Watson na internet.

Comentários

  1. Star Trek tem um legado incrível em mostrar homens sensíveis, que não têm medo de expôr seus sentimentos e de falar a respeito deles. Em várias séries, além da Clássica, os homens choram, falam de seus medo e receios, se declaram apaixonadamente. Mesmo que muitos desses relacionamentos sejam héteros, há também amizades masculinas genuínas, o que mostra que dá sim para ter amizades sem competição, com afeição e apego sem rótulos. Enquanto a TV era bombardeada por imagens de homens oleados e hiper másculos, Star Trek trazia uma proposta de resistência que é pioneira até hoje. 🖖

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