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Os bastidores do clássico Star Trek

“O espaço, a fronteira final. Estas são as viagens da nave estelar Enterprise em sua missão de cinco anos para a exploração de novos mundos, para pesquisar novas vidas, novas civilizações... audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve.”

Essa é a frase de abertura de uma das séries mais famosas do mundo, principalmente quando se trata de ficção científica. Jornada nas Estrelas (Star Trek) foi criada por Gene Roddenberry e apresenta as aventuras da tripulação da nave estelar USS Enterprise, comandada pelo Capitão James T. Kirk (William Shatner), pelo Comandante e vulcano Spock (Leonard Nimoy), e pelo Oficial Médico Chefe Leonard McCoy (DeForest Kelley). 

O Guinness World Records reconhece Star Trek como a série que contém o maior número de spin-offs da história. Trata-se de uma franquia de oito séries de TV e treze longas-metragens (até o momento), além de outras animações e especiais.

Mas a série não foi um grande sucesso quando estreou na NBC em 1966, muito pelo contrário. Inicialmente, a audiência era baixa comparada aos outros seriados da emissora. Antes do final da primeira temporada, alguns executivos da NBC queriam cancelar o programa devido aos seus índices não satisfatórios. Ao final de sua segunda temporada, foi quase cancelada novamente. Devido a uma campanha dos fãs, Star Trek recebeu uma terceira temporada, porém depois de 79 episódios, foi definitivamente cancelada.

Somente com as reprises dos episódios na década de 1970, a série se tornou extremamente popular e conquistou milhares de fãs pelo mundo inteiro, criando seu próprio legado dentro da ficção científica e também na TV como um todo. 

Em uma época na qual os efeitos especiais não tinham a tecnologia que temos hoje, como Star Trek conseguiu criar uma história tão à frente de seu tempo, com personagens de aparência distinta dos humanos e ambientes futuristas, uma tecnologia fictícia inimaginável para aqueles anos? Isso tudo está na magia da produção.

Por trás das estrelas e das câmeras

Matt Jefferies criou o desenho da Enterprise e a maior parte do interior da nave. Também trabalhou com seu irmão, John Jefferies, para criar os phasers (um tipo de arma dentro do universo da série) e desenvolver o desenho da ponte de comando, baseando-se principalmente nas experiências que teve na Segunda Guerra Mundial e em seu conhecimento de aeronaves, criando assim um aspecto funcional e realístico.

O figurinista de Star Trek foi William Theiss. Ele criou os uniformes da Frota Estelar usados pela tripulação da Enterprise, os figurinos usados pelas atrizes convidadas e os de vários alienígenas, incluindo os klingons, vulcanos e romulanos.

O artista e escultor Wah Chang, que trabalhou para a Walt Disney Company, foi contratado para criar os objetos de cena como os comunicadores, tricorders e vários dos equipamentos usados na engenharia e enfermaria. Ele também ajudou a criar alguns dos mais memoráveis alienígenas da série, como os Gorn e a Horta.

Mas muito do crédito deve ser depositado também aos diversos roteiristas que conseguiram deixar a imaginação do público fluir, até mesmo prevendo algumas questões tecnológicas que são muito comuns nos dias atuais, mas que não eram naquela época. Por exemplo, tradutores instantâneos, impressões em 3D, fone de ouvido sem fio, realidade virtual, tela sensível ao toque, chamadas de vídeo e portas automáticas.

No piloto da série, “The Cage”, a maquiagem dos Talosianos (uma espécie alienígena) é feita de maneira impressionante, ressaltando as veias que pulsavam nas cabeças das criaturas, dando a entender que seus cérebros são maiores e mais poderosos se comparados aos dos humanos. Os cenários do planeta árido são paisagens desenhadas a mão e inseridas na edição. Esse método ocorre em diversos episódios do seriado.

Jim Rugg, o chefe de efeitos especiais da série, relatou o seguinte acerca da primeira temporada em uma entrevista: “Tudo era novidade, estávamos experimentando e ninguém sabia para onde estávamos indo. Tivemos alguns desvios, de vez em quando ficamos perdidos e outras vezes vencíamos... Foi a única série, antes ou depois, na qual os técnicos em efeitos receberam cartas de fãs”.

Antes de torcermos o nariz diante dos efeitos, devemos levar em conta sob quais circunstâncias eles foram criados. Nesse caso, temos uma série de ficção científica dos anos 1960 que sobreviveu durante três anos no ar com um orçamento menor do que o de um programa de rádio (palavra dos próprios produtores), na qual a equipe de produção, trabalhando com o material restrito, triunfou e fracassou diversas vezes no decorrer dos 79 episódios. Era sem dúvida um desafio trazer à tona esses efeitos especiais no resultado final. Além disso, tais (d)efeitos especiais colaboram para o charme da série e, por pior que possam ser, divertem também.

Naquela época, Star Trek era uma série que, mesmo que atraísse a atenção do público em termos de elenco e criatividade, lutava contra os números. Sofria para ficar dentro do orçamento e do tempo de produção, para criar efeitos visuais nunca antes tentados na TV e para sobreviver às brigas entre Gene Roddenberry e a emissora, que estavam unidos para criar um produto de primeira, mas divididos em como isso seria alcançado. E acima de tudo, a série sofria para encontrar um público.

Relatos de uma jornada em gravação

No livro 50 anos de Jornada nas Estrelas, escrito por Edward Groos e Mark Altman, há diversos relatos e impressões sobre a criação da série original. A maioria dos entrevistados no livro são atores, roteiristas ou fãs de destaque da obra.

Seth MacFarlane, ator que interpretou Ensign Rivers, um dos engenheiros assistentes na primeira nave Enterprise, disse: "As equipes de artistas e artesãos que trouxeram Jornada nas Estrelas à vida nas últimas cinco décadas. Deram corpo e voz àquela visão e, ao fazerem isso, não apenas cativaram os espectadores, mas inspiraram pessoas de todo o mundo a perseguir carreiras na ciência, engenharia e medicina, a explorar o espaço e trabalhar na busca de soluções para vários de nossos problemas aqui na Terra”.  Já Ira Steven Behr, o produtor executivo de Jornada nas Estrelas: Deep Space Nine, afirmou:

“A teoria que sempre ouvi é que, quando o faroeste morreu, a ficção científica ocupou seu lugar. Não podíamos mais sonhar com o passado, então começamos a sonhar com o futuro.”

E o vice-presidente de programação da Desilu Studios, Oscar Katz, relatou que “O segredo do sucesso da série era a atenção aos detalhes. Até aquele ponto, a ficção científica na televisão eram séries que imitavam o estilo de Irwin Allen. Já o conceito de Gene era ficção científica no verdadeiro sentido do termo. Era sobre como as coisas poderiam ser no futuro, não apenas a proporção do conceito, da nave e dos problemas encarados pelos protagonistas. Era sobre os mínimos detalhes. E Gene era obcecado por detalhes"

Katz complementou sua fala com mais explicações sobre o comportamento do criador da série: "A atenção de Roddenberry aos detalhes alcançava cada metro quadrado da Enterprise. Ele escreveu um memorando para Matt Jeffries em 24 de maio de 1966: 'Muito satisfeito com seus cenários da Enterprise, Matt. Contudo, logo mais vamos receber dois roteiros que exigem mais ambientes da nave. Me refiro especificamente à necessidade de uma ‘sala de engenharia’ ou ‘casa das máquinas’; devemos definitivamente pensar em termos de criar a ilusão de um ambiente de tamanho considerável. Temos uma nave gigantesca e definitivamente sinto que os espectadores ficarão decepcionados se não os levarmos vez ou outra para cenários que passem uma sensação de vastidão”.

Apesar de ser considerado rigoroso quanto aos efeitos especiais, cenários e maquiagem, Gene Roddenberry concedia a maior atenção aos roteiros. Ele afirmou que as histórias e personagens eram o que destacava a série: 

“Eu não queria apenas roteiristas de ficção científica, porque muitos dos que entrevistei só falavam de objetos, ciência e nada de pessoas. Metade dos roteiristas que trabalharam conosco tinha um entendimento que ia de médio a razoável sobre o estilo, pois eu queria que minha série fosse sobre pessoas, e não objetos. Quando olham para trás, a primeira coisa que vem à cabeça das pessoas são os personagens.”

Stark Trek divertiu e conquistou milhares de fãs ao redor do mundo, sendo considerada um fenômeno cultural não só pela criatividade e estranheza do roteiro ou pelos efeitos especiais impressionantes para a época, mas também porque trouxe um elenco multirracial e abordou questões sociais, políticas e morais da realidade, como guerras, tecnologia, humanidade, esperança por um futuro melhor e, principalmente, o vasto universo.

“Os dias e anos à frente valerão a pena serem vividos. Um dia, o homem vai aprender a controlar forças incríveis, energias que poderão nos levar a outros mundos em algum tipo de nave. E os homens que forem ao espaço vão conseguir achar meios de alimentar os milhões de famintos do mundo e curar suas doenças. Eles poderão dar esperança a cada um e um futuro comum, e esses serão dias que valerão a pena serem vividos.”

Referências



Arte em destaque: Caroline Cecin

Sharline Freire
Estudante e leitora voraz de fanfics, assiste filmes e séries mais do que deveria e escuta músicas dos anos 40. Parece fria e séria, mas já chorou escrevendo sobre Sherlock Holmes e John Watson na internet.

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