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Melhores do ano: literatura


Existem anos que entram para a história e sempre são lembrados de forma negativa. 2020 parece ser um desses. É difícil pensar que encaramos todo um ano de pandemia, ansiedade e diversos problemas políticos e sociais e estamos aqui para contar a história. Se em anos normais a arte é um dos pilares que sustentam o nosso cotidiano, neste ano ela se fez mais presente. Sem nossos livros, o que teríamos feito? A literatura não é, necessariamente, uma fuga da realidade, mas ela pode ser um refúgio, um lugar onde podemos habitar por algum tempo. E, às vezes, isso é tudo de que precisamos. 

Na nossa primeira edição do melhores do ano, listamos os clássicos da literatura que nos acompanharam durante 2020. Pegue um chá, sente confortavelmente e anote as dicas, pois estes são livros que nos acalentaram em um ano tão difícil quanto este. Esperamos que eles também tornem-se especiais para vocês.
 

Helen, redatora de música e arte 

O Mito de Sísifo, de Albert Camus




O Mito de Sísifo é um ensaio existencialista (ou absurdista) escrito pelo filósofo franco-argelino Albert Camus em 1941, que trata da busca pelo sentido da vida, o suicídio, a felicidade e o absurdo, onde o homem é comparado a Sísifo, personagem mitológico que foi condenado pelos deuses a subir uma pedra em direção ao cume de uma montanha, mas, toda vez que chega próximo de seu propósito, a pedra rola montanha abaixo, fazendo-o repetir a atividade todos os dias pela eternidade. O absurdo seria a relação entre o homem e o mundo, onde o primeiro lança as perguntas e o segundo lhe nega qualquer resposta. Como resposta ao castigo dos deuses, Sísifo deve mostrar-se feliz com a árdua tarefa eterna, uma comparação com o cotidiano dos trabalhadores de nossa sociedade. Tal pensamento foi publicado numa Europa em meio à Segunda Guerra Mundial. (Encontre na Amazon)

Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto


Um auto de Natal pernambucano, Morte e Vida Severina é o poema que consolidou a obra de João Cabral de Melo Neto, escritor e diplomata pernambucano. Produzido entre 1955 e 1956, conta a história de morte e vida de vários Severinos, retirantes no interior e litoral de Pernambuco. O poema escancara a realidade social de uma época, relata dificuldades do lavrador entre a seca, os engenhos e a cidade grande, e sua lida com terra, que lhe confere trabalho e morada na vida e na morte: são Severinos que “morrem de velhice antes dos trinta”. Posteriormente musicado por Airton Barbosa e Chico Buarque, a versão em disco já foi peça no Tuca - Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1966). A faixa Funeral de um Lavrador foi gravada também em italiano (Funerale di un contadino) pelo cantor e compositor carioca junto a Ennio Morricone, assim como por Mike Patton e Anthony Pateras com o projeto musical Tetema. O poema completa a trilogia sobre o rio Capibaribe, precedida por O Cão sem plumas (1950) e O Rio (1953). (Encontre na Amazon

Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons


Escrita por Alan Moore e ilustrada por Dave Gibbons, é a única história em quadrinhos a aparecer na lista de 100 melhores romances de todos os tempos da revista Times, em 2005. Conta a história de um grupo de heróis, chamados vigilantes (Watchmen), vivendo no ano de 1985, em meio à Guerra Fria. A história é narrada pelo mascarado Rorschach, e gira em torno do mistério do assassinato de seu colega Comediante enquanto há perseguição da sociedade americana contra esses vigilantes violentos - mais anti do que heróis, dada a carga de questões éticas e morais abordadas, o que faz essa obra um marco na história das HQs -, junto ao medo de uma terceira guerra mundial entre EUA e URSS. A história foi publicada mensalmente em 12 quadrinhos entre 1986 e 1987 pela DC Comics, e hoje pode ser encontrada em edições definitiva e deluxe, pela DC (em inglês) e Panini (em português). A partir do original de Moore e Gibbons, foram produzidas adaptações em filme (2009) e série (2019). (Encontre na Amazon)
 

Jess, editora de cinema e teatro 

A Sucessora, de Carolina Nabuco 

A Sucessora é uma das obras que eu gostaria de ter lido durante a faculdade de Letras. Fico um pouco triste quando as únicas autoras citadas do século XX são Lygia Fagundes Telles e Clarice Lispector, enquanto temos Carolina de Jesus e Júlia Lopes de Almeida ainda muito desconhecidas do público. O romance de Carolina Nabuco conta a história de Marina, uma mulher que começa a se sentir assombrada pela falecida primeira esposa do marido, Roberto, quando eles se mudam para o Rio de Janeiro. Crônica de seu tempo, Nabuco discute diversas questões dentro do romance, mas principalmente o Rio de Janeiro do fim dos anos 1920. Um Rio de Janeiro pavimentado pelo Prefeito Pereira Passos, às custas da desapropriação da casa de pessoas humildes. Tudo em nome do progresso. Há sempre um embate entre o Brasil de Marina e o de Roberto. Essa, para mim, é a parte mais interessante do romance, muito mais significativa do que soubermos o que se esconde por trás do fantasma da primeira esposa. (Encontre na Amazon)

Saiba mais: A Sucessora: sob as palmeiras, uma assombração  

Três Mulheres Altas, de Edward Albee (1991)

Quem fomos? Quem somos? Passado, presente e futuro encontram-se em Três Mulheres Altas, peça de teatro do dramaturgo Edward Albee. Meu apego a essa obra começa pelo fato de que minha atriz preferida, Nathalia Timberg, tinha planos de reencená-la. Ela seria a personagem A, a mais velha das três protagonistas do espetáculo (A, B e C). No entanto, a pandemia deixou um gosto amargo nos lábios, preenchido pelo fato de que comecei a sonhar com o espetáculo depois que o li. Apesar de ser curtinha, apenas dois atos, Edward Albee faz um mergulho difícil e intenso no envelhecimento feminino. Por meio de A, B e C, nos identificamos com o medo de envelhecer, de sermos enganadas por nossas memórias, com a ilusão de que antes era melhor. No fim das contas, é como B diz: "O melhor momento é o agora". (Encontre na Amazon)

Saiba mais: Três Mulheres Altas: quem fomos e quem somos agora? 

Marina, redatora de literatura e arte 

Orgulho e Preconceito, de Jane Austen


Este foi o ano em que me propus a reler esse clássico de Jane Austen e me encantar novamente com a história. O enredo se constrói em torno das mudanças de perspectivas que Elizabeth Bennet e Mr. Darcy fazem um do outro e a relevância do matrimônio para a sobrevivência das mulheres. Jane Austen construiu uma obra que consegue falar do matrimônio sem reduzir sua protagonista feminina a uma personalidade perfeita. Tanto Lizzie quanto Darcy são imperfeitos e crescem demais na trama, numa relação que passa por diversas provas para formar certa igualdade entre eles. (Encontre na Amazon)

Mulherzinhas, de Louisa May Alcott

Essa obra é um daqueles casos em que você se pega degustando a leitura, de tão deliciosa que é. Em vários momentos, é possível se sentir em casa com a família March. Como leitores, crescemos com as meninas Jo, Meg, Amy e Beth: cada uma tem um talento e sonhamos com a imaginação delas enquanto vemos um romance se formar pela simplicidade do trivial. É uma história adorável sobre gentileza e bondade, sobre fazer sonhos amadurecerem, viver amores e amar amigos e família em volta da mesa de Natal. (Encontre na Amazon)

Orlando, de Virginia Woolf

Uma das melhores surpresas deste ano, o livro Orlando, de Virginia Woolf, me conquistou totalmente. Com a ousada construção de uma personagem que muda de gênero, atravessamos 300 anos com junto a ela, que nos apresenta a história da poesia inglesa por referências cômicas e metáforas. Narrado como se fosse uma biografia dessa personalidade fictícia, Orlando, é um livro sobre amor e identidade, mas principalmente aborda as concepções em torno da escrita que se precisa deixar cair uma a uma para, então, se dizer escritora de seu manuscrito, produzir literatura além da crítica e da fama, um ato vivo de escrever superando os limites dos séculos. (Encontre na Amazon)

A outra volta do parafuso, de Henry James

A novela de Henry James, que originou a série A Maldição da Mansão Bly, traz uma atmosfera incerta e misteriosa. Na véspera de Natal, Douglas resolve contar uma história de fantasmas a partir de um manuscrito de uma governanta e amiga. Ingressamos nessa mansão com o relato de uma protagonista que vira babá de duas crianças, Miles e Flora, seres doces e incólumes, mas que começam a provocar dúvidas na babá, ao mesmo tempo em que ela passa a ver fantasmas na mansão. Uma trama perturbadora, que permanece na mente do leitor após o seu término. (Encontre na Amazon)


A vagabunda, de Colette

Misturando ficção com realidade, Colette conta a história de uma mulher que ganha a vida trabalhando como atriz de pantomimas no teatro francês, fazendo tour com dança e mímica. Ela conhece um homem que logo passa a querer se casar com ela. Mas, para isso, ela tem de abandonar a vida vagabunda e errante de artista. Os dilemas começam, e com a escrita extremamente direta e atemporal de Colette, a autora parece descrever aqueles por que uma mulher do século XXI passava. Se "vagabunda" significar ser artista errante e livre, que sejamos vagabundas mundo afora. (Encontre na Amazon)


Mia, editora de literatura, do podcast e colagista 

O Jardim Secreto, de Frances Hodgson Burnett 


2020 foi um ano difícil - nem é preciso dizer o quanto. Por um lado, havia esse montante de preocupações, ansiedade e caos acontecendo. Por outro, nós, tentando achar uma forma de lidar com tudo isso. A minha sempre foi através da arte, e isso não foi diferente neste ano. Porém, quando a pandemia começou, tive uma dificuldade enorme para me concentrar em qualquer coisa. Tentei ler vários livros e não consegui. Até que, certo dia, comecei a leitura de O Jardim Secreto, da Frances Hodgson Burnett. Foi como mágica. 

Eu amo literatura infantil, especialmente a clássica. Embora costumem ser livros repletos de mensagens pedagógicas escondidas na narrativa, eu simplesmente deixo isso de lado e sigo com a leitura, feliz por encontrar personagens e cenários tão encantadores. Em O Jardim Secreto, Mary Lennox fica órfã e vai para a casa de um tio a quem nunca viu, no interior da Inglaterra. A mudança da Índia para as terras inglesas certamente deixa Mary sentindo-se fora do eixo, especialmente porque a casa de seu tio é uma mansão digna de um livro gótico. No entanto, a autora subverte o gótico e apresenta uma história sobre se abrir para o desconhecido e realmente viver, com tudo o que isso implica. O livro é lindo do início ao fim e foi uma leitura perfeita, especialmente neste ano. (Encontre na Amazon)


Emma, de Jane Austen 


Eu não sou uma fã de Jane Austen. Gosto muito de seus romances, mas não são os meus preferidos. Porém, Emma é maravilhoso em todos os sentidos. Emma Woodhouse, a personagem-título, é uma jovem de vinte e um anos rica, bonita e que nunca havia tido problemas na vida até o dia em que sua governanta casou. Tendo sido criada por ela, Emma sentiu-se sozinha, embora feliz pela união, que ela acreditava ter orquestrado. Pensando ter algum talento como casamenteira, ela toma por protegida Harriet Smith, uma jovem de uma escola próxima cuja origem é desconhecida. Harriet passa a ser seu projeto pessoal e Emma a envolve em rocambolescos românticos na esperança de que a amiga case com um verdadeiro cavalheiro. Nem é preciso dizer o quão errado isso dá. 

Emma é um livro divertido, com um humor perfeito, diversas alfinetadas em questões sociais (como é próprio da Jane Austen), um mistério que nos envolve durante toda a história e um romance bonito, nada forçado. Como pessoa que passa longe de histórias de amor, fiquei muito feliz com a condução do casal principal, que desenvolve uma sólida amizade antes de pensar em qualquer coisa - e me identifiquei com o quanto Emma é tapada para o amor. (Encontre na Amazon)


A História Secreta, de Donna Tartt 

Nunca havia lido Donna Tartt, mas sabia que ia gostar. Era bem óbvio, desde a capa, com referências à cultura grega clássica, até à sinopse falando de um jovem no meio de uma turma especial que se envolve num mistério estranho. A História Secreta foi um dos melhores livros que já li, certamente. Ele me acompanhou por muitos meses, porque lia algumas páginas, parava, pensava naquilo, escrevia textos enormes e voltava para ler um pouco mais. 

Livro de estreia da autora, A História Secreta nos coloca dentro da mente de Richard, um jovem pobre que consegue uma bolsa para estudar grego clássico numa faculdade de elite. Tentando ser parte de algo, ele finge ser rico enquanto entrosa-se com a turma pequena e exclusiva de alunos daquele curso. Mas logo ele descobre que há algo de muito errado com aquelas pessoas e, ao mesmo tempo que aspira a ser uma delas, se percebe cada vez mais deslocado e enredado naquela tragédia. E é uma tragédia, de fato. (Encontre na Amazon)


O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë 


Já li O Morro dos Ventos Uivantes algumas vezes, mas nunca deixarei de me surpreender com esse livro. Único romance de Emily Brontë, trata-se da história surpreendente de Cathy e Heathcliff, dois irmãos de criação que possuem um vínculo emocional intenso e violento. A tragédia que se abate sobre as vidas deles se estende também para aqueles de quem são próximos, criando uma corrente de desgraça que perdura por gerações. 

O Morro dos Ventos Uivantes não é uma história de amor, mas sim de obsessão e vingança. Todas as personagens são perturbadas e não há ninguém realmente bom ali. Talvez por isso o livro seja tão incrível: Emily Brontë escreveu personagens humanas, repletas de falhas, mas que não deixamos de amar, embora saibamos de seus problemas. (Encontre na Amazon)


Carmilla, a vampira de Karnstein, de Sheridan Le Fanu 


Raramente leio sinopses, então Carmilla foi uma grande surpresa. Tudo o que eu sabia a respeito era que tratava-se da história de uma vampira que tinha um relacionamento lésbico com uma jovem. Mas não sabia como isso era conduzido, tampouco de nenhum detalhe da obra. Foi incrível, portanto, conhecer Carmilla Karnstein e perceber que ela foi escrita de uma forma bem diferente da que eu imaginava. Carmilla não é sensual da forma lasciva como pensamos em vampiras hoje. Ela é lânguida, delicada e muito emotiva. Sua monstruosidade, enquanto vampira, é escondida e questionável. Até que ponto Carmilla é realmente a vilã da história? Embora eu goste da narrativa da Laura, gostaria de ouvir mais a voz da Carmilla. Porém, isso não diminui o livro, que é realmente surpreendente - e inspirou a estrutura de Drácula, o vampiro mais famoso da literatura, escrito por Bram Stoker alguns anos depois do lançamento de Sheridan Le Fanu. (Encontre na Amazon)


Mary Ventura e o Nono Reino, de Sylvia Plath 


Um conto no formato de livro, Mary Ventura e o Nono Reino é assustador. Com apenas 48 páginas, Sylvia Plath nos faz mergulhar numa narrativa desesperadora de uma jovem que se percebe com pouco tempo para reparar um erro fatal. A tensão presente no conto é algo único. (Encontre na Amazon)


Vitorianas Macabras, de Marcia Heloisa (org.) 


A pesquisadora Marcia Heloisa reuniu uma coletânea muito especial de contos vitorianos de horror escritos por mulheres. São várias as autoras presentes na antologia Vitorianas Macabras que nunca haviam sido traduzidas para a língua portuguesa. O livro é excelente, tanto em conteúdo quanto no cuidado com a edição, que possui ilustrações, pequenas propagandas da era vitoriana e diversos extras, contanto um pouco da história da Inglaterra daquela época. 

Muitos contos são realmente assustadores, mas o terror não precisa ser, necessariamente, assustador. O importante é possui uma sensação de estranhamento, um certo desconforto - o que permeia todas as narrativas escolhidas na obra. Conheci diversas autoras de cuja existência eu não fazia ideia e agora espero que alguma editora publique outras obras dessas mulheres aqui. Quero ler todas. (Encontre na Amazon)


Sofia, editora de música e colagista 

Profissões para mulheres e outros artigos feministas, de Virginia Woolf 


Profissões para mulheres e outros artigos feministas é uma coletânea que reúne sete ensaios de Virginia Woolf. Todos os textos permeiam o mesmo tema: a mulher e sua relação com o mundo do trabalho. Os textos foram publicados, originalmente, entre 1905 e 1941, o ano da morte da escritora. Os ensaios apresentam pertinentes reflexões sobre os desafios impostos às mulheres naquela época, especialmente àquelas que tentavam inserir-se no meio intelectual. Para isso, Woolf resgata, por exemplo, as trajetórias de suas antecessoras, realizando análise histórica e política sobre a condição social da mulher.

“Talvez não tenha sido apenas na intenção de receber críticas imparciais que George Eliot e Miss Brontë adotaram pseudônimos masculinos: talvez quisessem libertar a própria consciência, enquanto escreviam, das expectativas tirânicas em relação a seu sexo.”

Lançada em 2013, essa edição da L&PM me acompanhou na adolescência — a li pela primeira vez aos 17 anos. Depois disso, li a obra mais duas vezes, uma delas em 2020. Percebi que, a cada leitura, destaquei diferentes trechos dos artigos, porque cada leitura suscitou novas ideias e pensamentos. (Encontre na Amazon)

Os diários de Sylvia Plath 


A editora Biblioteca Azul lançou, em 2017, nova edição de Os diários de Sylvia Plath. A obra reúne escritos da autora que datam de 1950 a 1962, organizados cronologicamente, incluindo manuscritos originais do Smith College, além de lindas fotos de vários períodos da vida de Sylvia Plath. Comprei esse livro em 2020, bem no começo do ano, antes de sequer sonhar que viveríamos o que estamos vivenciando e a pandemia ainda era algo distante da realidade. A ideia era ler em um momento em que estivesse com a cabeça no lugar, saúde mental estável. Porém, conforme o tempo foi passando, o ano se tornou cada vez mais difícil, e em alguns momentos tive dificuldade para ler coisas muito longas. Decidi ler coisas leves, como poesia, livros de contos, e… Diários. Apesar de os diários da Plath não serem nada leves, o fato de ser um conteúdo fragmentado ajudou, por isso, acabei lendo parte deles. 

Ainda há muitos relatos, cartas, crônicas e fragmentos para serem lidos — são mais de 800 páginas, um condensado de 12 anos da vida da escritora. Apesar de alguns trechos serem muito melancólicos, a escrita de Plath é incrível e a leitura é muito envolvente. Ela consegue tornar poéticas e envolventes situações muito mundanas e pacatas à primeira vista, como um passeio solitário por uma rua deserta à noite. Sempre levantando questionamentos pertinentes, a autora indaga e nos faz indagar sobre tudo ao nosso redor. (Encontre na Amazon)

Tati, editora de literatura 

It — A Coisa, de Stephen King 


Em 2020, decidi que queria ter meu primeiro contato com a escrita do rei do horror, Stephen King. Até comentei sobre a vontade em algumas redes sociais, pedindo sugestões de qual deveria ser a minha primeira leitura do autor, e nenhuma delas envolvia o livro que nos apresenta Pennywise. Apesar disso, foi justamente ele quem me apresentou à cidade de Derry, utilizada em outras ficções de King, e me fez querer conhecê-lo ainda mais. Como comentei na resenha publicada durante nosso especial para o mês do horror, "[...] a Coisa, para além do horror, levou seu público a repensar a infância e as consequências dela na vida futura, caracterizada pela necessidade de se fazer as pazes com o próprio passado e, como literalmente exemplificado por Pennywise e suas muitas formas, com seus medos". Com suas mais de mil páginas, a história das crianças que passam um verão inteiro notando que não estão seguras nem dentro de suas casas, e que retornam para sua cidade natal quando adultas a fim de resolverem definitivamente o mal que, literalmente, toma o solo de Derry, é envolvente e a prova de como o medo nem sempre vem do sobrenatural. (Encontre na Amazon)


Drácula, de Bram Stoker 


Um grande clássico gótico epistolar que, por tais características, pode assustar mais que a própria figura do Drácula antes da primeira leitura, mas que vale muito a pena! Ao contrário da figura assustadora e facilmente identificável como um ser diferente criada pelas tantas outras obras inspiradas na de Bram Stoker, o livro que apresentou o personagem pela primeira vez o mostra como um homem bem sucedido, cheio de contatos, e que passa a hospedar um outro homem em sua luxuosa moradia. Se não fossem as desconfianças e as imagens que seu hóspede vê quando o conde pensa não estar sendo observado, sua natureza jamais seria descoberta. Através de notícias em jornais e relatos dos personagens em seu diários, vamos pouco a pouco, junto deles, solucionando o mistério de quem, afinal, é o conde tão poderoso. (Encontre na Amazon)

A Curva do Sonho, de Ursula K. Le Guin


Encontrar uma ficção científica escrita por uma mulher já é, para mim, motivo suficiente para querer lê-la, mas outras coisas me levaram à A Curva do Sonho. O trabalho gráfico da editora Morro Branco foi com certeza um deles, com ilustrações belíssimas e uma capa que brilha no escuro, mas, além disso, a sociedade criada por Ursula K. Le Guin, seus conflitos tão próximos dos nossos atuais e a mensagem por trás de cada acontecimento com seus personagens me tornaram ainda mais interessada pelo homem que sonha e altera sua própria realidade. O livro é, resumidamente, o exemplo do que acontece quando as mãos humanas não se contentam em desempenhar seu papel que é mais de criatura do que criador. (Encontre na Amazon)



Imagem de destaque: Sofia Lungui
Mia Sodré
Mestranda em Estudos Literários pela UFRGS, pesquisando O Morro dos Ventos Uivantes e a recepção dos clássicos da Antiguidade. Escritora, jornalista, editora e analista literária, quando não está lendo escreve sobre clássicos e sobre mulheres na história. Vive em Porto Alegre e faz amizade com todo animal que encontra.

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