Este foi um ano de pandemia e, como tal, os lançamentos foram reduzidos. Algumas coisas saíram via streaming, mas a maioria foi postergada para o ano que vem. Se já somos naturalmente mulheres dos clássicos, em 2020 mergulhamos neles, assistindo pela primeira vez - ou pela décima oitava - a filmes feitos há cem, sessenta, cinquenta anos. E sabe de uma coisa? Eles seguem atuais.
Listamos os filmes preferidos que assistimos em 2020. Eles são clássicos, documentais ou adaptações literárias. E são maravilhosos.
Helen, redatora de música e arte
O Golem, Como Ele Veio ao Mundo (1920)
Direção: Paul Weneger e Carl Boese
Dirigido por Paul Wegener, O Golem é um filme expressionista baseado numa famosa lenda do folclore judaico e no romance de Gustav Meyrink, publicado em 1915. Conta a história do Rabino Loew (Albert Steinrück), líder de uma comunidade judaica em Praga, que cria o Golem (Paul Wegener) para defender seu povo de ações e decretos do Imperador que os queria expulsos do local. A criação do Golem está atrelada à leitura astrológica dos astros e procedimentos mágicos como a invocação do espírito Astaroth.
A Morte Cansada (1921)
Direção: Fritz Lang
Uma obra expressionista de Fritz Lang, A Morte Cansada (Destiny, no original) possui três histórias dentro de uma: é a peleja entre uma moça apaixonada e a Morte, onde a primeira pretende provar que o amor é maior que a própria morte. O ceifeiro então a desafia a salvar o seu amado em três ocasiões. A partir daí, o filme se baseia em contos persas (retirado de As Mil e Uma Noites), veneziano (romance renascentista) e comédia chinesa, narrando as aventuras da moça que desafiou a Morte.
Fausto (1926)
Direção: F. W. Murnau
Dirigido por F. W. Murnau, Fausto é baseado tanto no legendário personagem histórico como, principalmente, na versão clássica de Goethe, de 1808. Fausto (Gösta Ekman) é um alquimista objeto de aposta entre o demônio Mefistófeles (Emil Jannings) e um arcanjo (Werner Fuetterer). Se Mefisto conseguir corromper sua alma, terá então o Diabo domínio sobre a terra. A partir de uma praga enviada pelo Diabo e a descrença e dúvida que assolam a alma do alquimista, Fausto e Mefistófeles se encontram, selando um pacto. O protagonista é exposto a amor, fortuna e juventude, e vai alimentando uma ambição de viver e modernizar o mundo em seu entorno. Enquanto isso, o demônio atenta. O Mefisto muito se assemelha ao retratado a óleo por Eduard von Grützner, em 1895.
O Mágico de Oz (1939)
Direção: Victor Fleming
Nada do que foi falado de bom sobre esse filme é um exagero. É absolutamente impressionante, em atuação e cores, além de repleto de curiosidades e problemas - graves, como assédio sexual, intoxicação e possível suicídio - nos bastidores. Em O Mágico de Oz, Judy Garland conseguiu me fazer gostar de um musical, e me emocionou bastante. O filme conta a história da pequena Dorothy, residente no Kansas, que, a partir de um tornado, acaba caindo no mundo mágico de Oz. Buscando retornar à casa que morava com os tios, conhece um espantalho sem cérebro, um homem de lata sem coração e um leão sem coragem. Com esses amigos, segue numa jornada até o feiticeiro de Oz, o único que pode enviá-la de volta ao lar. Para os progressivos, é possível ainda assistir ao filme sintonizando-o com o disco The Dark side of the moon (1973), do Pink Floyd. O filme é baseado em The Wonderful Wizard of Oz (1900), primeiro de uma série de 14 livros sobre a Terra de Oz escritos por L. Frank Baum.
Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita (1970)
Direção: Ennio Morricone
Um crime de feminicídio. Pistas deixadas de propósito. Investigação de um cidadão acima de qualquer suspeita. Poder político conservador alimentando a estrutura do Estado. Muita corrupção. Não, não estamos falando de nossa sociedade em plena pandemia, mas do filme italiano dirigido por Elio Petri, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1971. O Inspetor de polícia, interpretado pelo elegante Gian Maria Volonté, comete um crime e deixa pistas para seu próprio pessoal investigar, mas o que acontece é inacreditável, mesmo que muito comum ainda nos dias de hoje. Além da trama investigativa, o filme é repleto de ironia, discurso pesado antirrevolucionário, e conta ainda com a atriz brasileira e cearense Florinda Bolkan no papel de Augusta Terzi. Trilha sonora de Ennio Morricone.
Os Demônios (1971)
Direção: Ken Russell
A história se repete, disse Hegel, primeiro como tragédia e depois como farsa, acrescentou Marx. Me deparei por acaso com essa obra extraordinária de Ken Russell, um drama histórico tão atual e lisérgico ao mesmo tempo. O filme se passa na França do século 17 com cenários que mesclam outras temporalidades, e é encenado por um grupo de atores que transmite em suas atuações a atmosfera, o frenesi teatral e a afronta jovem dos anos 1970, falando de assuntos tabus atemporais: doença, religião, sexo, abuso sexual e de poder político e econômico, condenação de inocentes e tortura praticados por líderes do cristianismo e seus aliados. As atuações são de tirar o fôlego, sobretudo as de Vanessa Redgrave (Irmã Jeanne des Anges) e Oliver Reed (Padre Urbain Grandier) - nessa ordem. O filme foi baseado em personagens reais e nas obras Os Demônios de Loudun, de Aldous Huxley, e The Devils, de John Whiting.
Profissão: repórter (1975)
Direção: Michelangelo Antonioni
Sou fã de Michelangelo Antonioni desde Zabriskie Point, que descobri por conter Pink Floyd em sua trilha sonora. De todos os filmes do diretor italiano a que assisti, o que talvez tenha mais me tocado é Profissão: repórter (ou ainda: The Passenger), com o queridíssimo Jack Nicholson e Maria Schneider. Conta a história do jornalista David Locke, que aproveita uma situação inusitada em uma viagem ao Chade para sumir no mundo: seu vizinho de quarto em um hotel morre e, por “sorte”, tinha estrutura física parecida com a sua, facilitando a troca de identidade (num mundo offline esse tipo de coisa era mais fácil). O filme trata de guerra civil no Chade, tráfico de armas, infelicidade numa vida burguesa “de sucesso”, arquitetura, Antoni Gaudí e ambientes belíssimos, mas que dizem muito de cada personagem e o sentido da vida: observar ou agir?
Jess, editora de cinema e teatro
A Carta (1940)
Direção: William Wyler
Um dos clássicos do gênero noir, A Carta é um filme que revisitei durante muitas vezes em 2020. O filme conta a história de Leslie Crosbie (Bette Davis), que, na primeira cena, assassina um homem na varanda de sua casa. Essa cena por si só já mostra que A Carta tem camadas além daquelas que aparecem diante da tela. Ao longo da trama, algumas revelações começam a questionar o caráter de Leslie e os motivos de ela ter assassinado brutalmente aquele homem. A Carta conta com uma das minhas parcerias atriz-diretor preferidas do cinema: William Wyler e Bette Davis. Eles estavam no auge do romance secreto entre eles, e você consegue perceber pela maneira como o diretor filmou Davis: é quase como se a câmera também fizesse amor com ela.
O Pirata (1948)
Direção: Vincente Minnelli
O último filme de Judy Garland para a MGM é uma ode ao que o estúdio oferecia: um escapismo recheado de momentos musicais, com atores e atrizes deslumbrantes e muitas vezes vivendo momentos difíceis por trás das câmeras. Os bastidores de O Pirata é o oposto do que vemos na tela. Naquela época, Judy já sofria com o vício em tranquilizantes e afins, e algumas pessoas afirmam que ela estava sob o efeito de remédios enquanto rodava as cenas de canto e dança com Gene Kelly. O filme conta a história de Serafin (Gene Kelly) que assume a identidade de Mack, um pirata que faz parte da lenda com a qual Manuela (Judy Garland) sonha. A química entre o casal é incrível e rende diversos momentos inesquecíveis.
Abracadabra (1993)
Direção: Kenny Ortega
Tenho uma relação muito afetiva com esse filme, muito porque ele foi um dos primeiros signos cinematográficos que me fizeram perceber que eu me sentia romanticamente atraída por mulheres, leia-se Bette Midler como Winnie Sanderson. Produzido pela Disney, ele conta a história de três bruxas que, depois de 300 anos, são invocadas e voltam para assombrar a cidade de Salém. Assim como A Morte lhe Cai Bem, Abracadabra também pode ser lido como um filme que retrata o envelhecimento pelo viés da comédia e, mais especificamente, pela bruxaria. Abracadabra se tornou um clássico da nossa infância sem querer e foi criada uma aura em torno do filme. Não é à toa que as três protagonistas realizaram o sonho dos fãs e se reuniram virtualmente para matarmos as saudades das irmãs Sanderson. A quarentena não foi feita apenas de choros.
A Noiva Estava de Preto (1968)
Direção: François Truffaut
Toda vez que alguém me diz que ama Kill Bill, eu recomendo A Noiva Estava de Preto, pois já nos anos 1960 Jeanne Moreau saiu matando todos os homens que fizeram mal a ela, uma vingança de dar inveja. Dirigido por François Truffaut e com trilha sonora de Bernard Hermann, ele conta a história de Julie (Jeanne Moreau), que decide se vingar dos assassinos de seu noivo, morto no dia do casamento deles. Apesar de Jeanne não ter gostado muito de rodar o filme, A Noiva Estava de Preto nos oferece a oportunidade de assistir a um noir dirigido por um diretor francês. Ele não discute grandes questões, mas a vingança de uma mulher é o suficiente para nos manter vidrados na trama.
Marina, redatora de literatura e arte
A felicidade não se compra (1946)
Direção: Frank Capra
O clássico dos clássicos, o filme de Frank Capra é muito mais do que um filme doce sobre o espírito de Natal. Presenciamos as várias fases de vida do protagonista George Bailey (o excelente James Stewart), um jovem que sonha ir muito além dos muros da cidade pequena, mas que assume o compromisso da empresa de empréstimos do pai, abrindo mão dos sonhos. Aos poucos, ele transforma várias vidas confrontando a figura de Henry Potter, que domina todos os negócios da cidade. A grande premissa da história é o momento fatídico em que Bailey pensa em se suicidar, e então um anjo aparece para lhe mostrar como seria o destino de todos se ele simplesmente não existisse. Um filme divertido, delicado e com muita consciência social. Para mim, até hoje, ainda não houve um filme natalino que superou o poder desse clássico.
O Iluminado (1980)
Direção: Stanley Kubrick
Completando 40 anos em 2020, esse clássico continua vivo. Stanley Kubrick transforma o universo do Overlook, do livro O Iluminado, de Stephen King, para as telas com muito poder. A trama e a ação funcionam bem no filme: temos Jack (Jack Nicholson), um escritor com bloqueio criativo e um passado de expiação contra o alcoolismo, aceitando o posto de zelador no hotel Overlook. Ele vai com a esposa Wendy (Shelley Duvall) e o filho Danny (Danny Lloyd) para o local, retirando-se bem na época do inverno, em que o hotel fica isolado. Nesse confinamento, a tensão é crescente e o sobrenatural do hotel aparece para perseguir a família. Confesso que gosto tanto do filme quanto do livro, acho que a ação e o universo funcionam para aterrorizar no filme, enquanto no livro podemos ter mais da construção psicológica dos personagens, de forma gradativa.
Saiba mais: O Iluminado: estigmas de saúde mental no terror
Be Natural: A História Não Contada da Primeira Cineasta do Mundo (2018)
Direção: Pamela B. Green
O documentário é uma preciosidade que apresenta toda a carreira da diretora Alice Guy-Blaché (1873-1968), nome pouco mencionado mas tão gigante quanto os irmãos Lumière e Georges Méliès foram para o cinema. Temos vislumbres dos curtas-metragens que a diretora produziu, a recuperação da memória de uma cineasta que produziu muito mais do que os outros, mas foi esquecida por ser mulher. Sua relevância é simplesmente a de ser a primeira cineasta e roteirista de filmes ficcionais, isto é, enquanto os demais cineastas testavam a câmera com cenas cotidianas, Blaché já estava criando um mundo com fadas, enredos feministas, histórias dramáticas e cômicas. Foram mais de mil filmes em vinte anos de carreira, e agora o mundo começa a saber mais de seu trabalho.
Mia, editora de literatura, do podcast e colagista
Emma (2020)
Direção: Autumn de Wilde
Se tivesse de escolher apenas um filme como o melhor do ano, certamente seria Emma. Dirigido por Autumn de Wilde, finalmente temos aquela que me atrevo a chamar de a versão mais fiel à obra. O livro, de nome homônimo, escrito por Jane Austen, é a obra-prima da autora. E, embora a diretora não seja a reencarnação de Austen, ela consegue capturar muito bem todas as nuances do livro, nos entregando um filme quase perfeito. É bem verdade que ele não possui a sutileza da crítica ao comportamento enquanto homem rico de Mr. Knightley (Johnny Flynn), porém a diretora foca na comédia e faz isso da melhor maneira possível. A personagem título, interpretada por Anya Taylor-Joy, também está irretocável. Outro ponto importante é que ela ama fotografia e arte e, conhecendo bem como era o esquema de cores da Inglaterra no início do século XIX, ela decidiu fazer tudo muito colorido, com tons vivos, vibrantes. Ficou bem diferente do esperado, mas encantador.
Adoráveis Mulheres (2020)
Direção: Greta Gerwig
Esse foi o último filme que assisti no cinema antes da pandemia nos fazer entrar em quarentena. Já havia lido o livro, publicado por aqui com o título Mulherzinhas, da Louisa May Alcott, e amado. Mas a experiência de assistir a Adoráveis Mulheres, sob a direção de Greta Gerwig, no cinema foi única. Saí de lá chorando, pois ver a trajetória de Jo March (Saoirse Ronan) foi catártico. A vida em família, os conflitos entre ser quem se deve ser e ser quem se é, os sonhos, o respeito pela jornada de cada uma e seu valor enquanto indivíduo. Se existe algum filme perfeito, é esse.
Alucarda (1977)
Direção: Juan López Moctezuma
Sempre via esse filme em listas de recomendações de terror, mas acabava deixando para assisti-lo depois. No entanto, após ler Carmilla, de Sheridan Le Fanu, decidi que assistiria a todas as adaptações disponíveis. Não consegui ver todas ainda, mas, dentre as que vi, Alucarda é a minha preferida. Ela subverte diversos estereótipos e muda um pouco a história clássica: ao invés de uma vampira, temos uma jovem que faz um pacto com um demônio e torna-se uma bruxa. O filme possui cenas bem oníricas e chocantes e tem um ritmo maravilhoso. É daqueles que recomendo a todos.
Saiba mais: Alucarda: entre bruxaria e repressão
Os Inocentes (1961)
Direção: Jack Clayton
Talvez o filme de terror mais assustador que já vi, Os Inocentes é a adaptação clássica de A Outra Volta do Parafuso, de Henry James. O filme é sinistro. A história do livro está basicamente toda ali, não há muitas invenções, mas o uso da câmera e da iluminação é magistral. O tom do filme é claustrofóbico e é impossível não sentir medo de cenas como a da janela ou daquela apresentação de teatro das crianças. A obra é absolutamente perfeita e a trilha sonora fica na sua cabeça, especialmente à noite, quando você não consegue dormir e sente-se vigiado.
Saiba mais: A Outra Volta do Parafuso: o que assombra Bly?
Sofia, editora de música e colagista
Paris, Texas (1984)
Direção: Wim Wenders
Neste ano, revisitei Paris, Texas após ter entrado para o catálogo do MUBI. Não assisto todos os filmes da plataforma, mas este não podia deixar passar, porque me marcou muito. O longa de Wim Wenders, de 1984, é um clássico road movie, estilo de filme que me agrada muito. Após desaparecer por quatro anos, Travis (Harry Dean Stanton) é encontrado em um deserto e acolhido por seu irmão, Walt (Dean Stockwell). Permeado por mistério, o filme narra o tenso reencontro de Travis com a família, de quem passou muito tempo afastado. A história revela, aos poucos, detalhes sobre o passado do protagonista, conforme ele recupera a memória e os personagens vão retomando os laços afetivos.
Os Pássaros (1963)
Direção: Alfred Hitchcock
Este é um dos últimos clássicos da carreira de Alfred Hitchcock. O suspense de 1963, que também inclui aspectos de drama e romance, pode ser considerado um dos mais importantes filmes da história do cinema, assim como diversas outras produções do diretor. O filme gira em torno da protagonista, a socialite Melanie Daniels (Tippi Hedren), embora sua figura seja rodeada de mistério, o que suscita curiosidade sobre a personagem. No primeiro trecho da narrativa, a impressão é de se estar assistindo a um romance. Contudo, conforme a história vai se desenvolvendo, o eixo principal da narrativa passa a ser o suspense e a tensão com o surgimento dos misteriosos ataques de pássaros em Bodega Bay.
Mesmo que você seja fã de filmes do Hitchcock, se você for assistir o filme pela primeira vez, assim como o fiz em 2020, perceba como as emoções vão se transformando ao longo do filme. A atmosfera de tensão na narrativa, que vai surgindo aos poucos, é muito potente. Algo achei muito interessante no filme é que não há trilha sonora — na verdade, a construção sonora do longa é feita por meio de ruídos urbanos, os sons ambientes e das aves. Isso tornou o filme ainda mais perturbador, especialmente nas cenas de maior tensão. Talvez seja um dos mais perturbadores clássicos de Hitchcock, por isso, se você gosta de um bom thriller, vale a pena conhecer.
Adoráveis Mulheres (1994)
Direção: Gillian Armstrong
Após o lançamento de Adoráveis Mulheres de Greta Gerwig, no final de 2019, decidi conhecer, em 2020, outra adaptação do clássico de Louisa May Alcott — o longa homônimo de 1994. Dirigido por Gillian Armstrong, o filme tem no elenco grandes nomes, como Winona Ryder (Jo March), Kirsten Dunst (Amy March), Susan Sarandon (Margaret March), Christian Bale (Laurie) e Claire Danes (Beth March). As atuações são incríveis e a fotografia do filme é muito bonita. A leitura de Armstrong é muito sensível e envolvente, vale a pena conhecer a produção.
Mary Shelley (2017)
Direção: Haifaa al-Mansour
Em 2017, a Netflix lançou Mary Shelley, filme inspirado na vida da escritora britânica, dirigido por Haifaa al-Mansour e escrito por Emma Jensen. O longa narra aspectos como a relação de Shelley com a família e seu relacionamento com o poeta Percy Shelley. Além disso, conta a história de como ela escreveu o maior romance gótico de todos os tempos — Frankenstein ou O Prometeu Moderno, publicado originalmente em 1818. Por outro lado, o filme não aborda os acontecimentos posteriores da vida da escritora, que faleceu em 1851. Contudo, a produção é esteticamente impecável e muito fiel aos fatos.
Um aspecto importante destacado no filme é a relação de Mary Shelley com sua mãe, Mary Wollstonecraft. A escritora não chegou a conhecer a mãe, mas os estudos e escritos de Wollstonecraft sobre feminismo e os direitos das mulheres exerceram grande influência sobre Shelley e suas escolhas, o que é muito bem retratado no filme. Mesmo não aparecendo no longa, a mãe de Shelley e sua importância na vida da escritora são lembradas a todo momento.
Dirty Dancing: Ritmo Quente (1987)
Direção: Emile Ardolino
Sempre gostei muito de filmes musicais — não somente dos musicais propriamente ditos, mas de filmes que giram em torno da arte e, especialmente, da música. Por outro lado, sou fã de filmes românticos e de comédias românticas. Dirty Dancing: Ritmo Quente junta as duas coisas e, por isso, é um dos meus filmes favoritos. Dirigido por Emile Ardolino, o clássico de 1987 é estrelado por Jennifer Grey e Patrick Swayze. O longa conta a história de “Baby” Houseman, uma jovem de família nobre que se vê envolvida com alguém totalmente de fora de sua bolha social — Johnny Castle, o instrutor de aulas de dança da colônia de férias onde ela foi passar o verão com a família.
O filme faturou US$ 213 milhões, sendo que sua produção custou apenas US$ 6 milhões. Em 2020, recebemos a notícia de que haverá uma sequência de Dirty Dancing, ainda sem previsão de data de lançamento (o motivo de eu ter decidido rever o filme, porque não sei quanto tempo terei de esperar até o próximo). Até o momento, só foi divulgado que o novo filme terá participação da estrela do clássico, Jennifer Grey.
Gatinhas & Gatões (1984)
Direção: John Hughes
Assim como Clube dos Cinco, Sixteen Candles (ou Gatinhas e Gatões) é um clássico do diretor John Hughes. O filme de 1984 é uma daquelas comédias românticas adolescentes em que, basicamente, você passa o filme inteiro na expectativa do tão aguardado encontro do par romântico — mas durante todo o filme o casal só tem desencontros, com muitas trapalhadas envolvidas. A protagonista é Sam Baker (Molly Ringwald), uma adolescente com o típico perfil de jovem desajustada, que sente vergonha de sua família imperfeita e tem inseguranças por estar longe dos padrões de beleza ideais da época.
Eu gosto muito dessa estrutura narrativa em filmes românticos, da expectativa e daqueles momentos “will they won’t they”, por isso, revisitei o clássico, que acho muito divertido. Entretanto, cabe ressaltar que o filme tem graves problemas, mesmo sendo uma produção dos anos 1980. Algo que me incomoda muito nele, além da xenofobia e de piadas racistas, é a apologia ao estupro, presente em diversas cenas do longa. Foi bom revisitar o filme e assisti-lo com outros olhos, atentando a essas questões.
Tati, editora de literatura
Clube dos Cinco (1985)
Direção: John Hughes
Um dos principais nomes do subgênero do brat pack, Clube dos Cinco coloca cinco adolescentes com personalidades opostas convivendo por horas na sala de detenção. A personalidade "irresponsável" de John Bender (Judd Nelson) não combina com a perfeita e popular Claire Standish (Molly Ringwald), que tanto irrita a introvertida Allison Reynolds (Ally Sheedy), o oposto de Andrew Clarke (Emilio Estevez), o atleta da escola que gosta de estar no centro das atenções, ao contrário de Brian Johnson (Anthony Michael Hall), o estudioso que não se dá tão bem nas quadras esportivas. As vivências tão diferentes poderiam levar os jovens ao isolamento até a hora final da detenção, ou ao completo caos através dos pontos que não se conectam entre eles, mas o que realmente acontece dentro da biblioteca escolar é bem diferente disso. Apesar das disparidades, quando os estudantes começam a conversar e compartilhar suas opiniões um com o outro percebem que sentem desconfortos muito semelhantes, e que esse tempo todo estavam tão preocupados em cumprir com o esperado de acordo com seus grupos, que não conseguiam visualizar nos outros o lado humano. Se depois das conversas profundas no sábado tedioso eles continuarão se ignorando pelos corredores da escola ou não, já não cabe ao roteirista nos dizer, mas como frisa a música tema do filme, Don't You (Forget About Me, do Simple Minds, sabemos que eles não vão esquecer do que compartilharam uns com os outros.
Imagem de destaque: Sofia Lungui
Comentários
Postar um comentário