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Melhores do ano: televisão

O interessante da televisão é que ela engloba muitas coisas. Desde o aparelho clássico, com canais abertos, até o streaming, a televisão faz parte das nossas vidas - e segue se reinventando. Em 2020, assistimos a séries clássicas, novelas, documentários e adaptações literárias. Todas essas histórias nos fizeram um pouco mais felizes, e agora as compartilhamos com vocês.  

Helen, redatora de música e arte 

Monty Python's Flying Circus (1969-1974)

Um clássico de vanguarda da BBC britânica, Monty Python Flying Circus foi um programa humorístico de sketches totalmente não-convencional criado por cinco atores ingleses (Terry Jones, Graham Chapman, Eric Idle, Michael Palin e John Cleese) e um americano (Terry Gilliam). Com formações acadêmicas em história medieval e moderna, língua inglesa, direito, medicina e artes, o sexteto inovou no humor televisivo do final da década de 1960 e início dos anos 1970. Inspirado pelo programa de rádio The Goon Show (1951-1960) o humor dos pythons é caracterizado geralmente como "de contracultura, surrealista, escatológico, sarcástico, intelectual", tão único que possui adjetivo próprio: pythonesque. Porque, diferente dos programas de sketches de sua época, Monty Python Flying Circus não se comprometia em terminar piadas, imitar personalidades reais, ou mesmo usar bordões. Muitos personagens eram únicos para aquele sketch, que poderia ser interrompido no meio por algum acontecimento absurdo. Além disso, as cenas eram misturadas com artes gráficas de Terry Gilliam, como uma colagem entre realidade e fantasia. O sucesso foi tanto que, após o término das gravações, o grupo ainda se reuniu para três filmes lançados no cinema: Em Busca do Cálice SagradoA Vida de Brian e O Sentido da Vida.

Jess, editora de cinema e teatro 

Cambalacho (1986)

Exibida originalmente em 1986, Cambalacho, novela de Sílvio de Abreu, é o puro suco dos anos 1980 no Brasil. Desde a inflação galopante até as ombreiras e roupas coloridas, é praticamente uma etnografia do que era o Brasil naquela época, inclusive em sua temática: uma mulher pobre (Fernanda Montenegro) aplica um golpe em um rico milionário e fica rica. Como o próprio nome sugere, Cambalacho mostra como as pessoas aproveitam-se umas das outras, as pequenas corrupções do dia a dia. O elenco por si só é um primor: Nathalia do Vale, Gianfrancesco Guarnieri, Suzana Vieira, Rosamaria Murtinho e tantos outros garantem boas gargalhadas. Cambalacho me fez companhia durante a pandemia, são os 40 minutos que me fazem esquecer de tudo o que está acontecendo. É um pastelão muito diferente do que vemos na teledramaturgia atualmente - e talvez esse seu triunfo.

A Próxima Vítima (1996)

Neste ano, eu mergulhei profundamente na obra de Sílvio de Abreu. A Próxima Vítima, de 1996, é um clássico da teledramaturgia e a prova viva de que é possível escrever uma novela policial e segurar a audiência durante sete meses. A história central é que existe um assassino misterioso à solta em São Paulo, matando de acordo com uma lista de horóscopo chinês. Sílvio de Abreu escreveu a história em duas frentes: a policial e a romântica. A fusão desses dois elementos é sensacional, porque tudo vai sendo muito bem amarrado até o último capítulo. Em muitos momentos em que eu precisei escapar da realidade, mergulhei no Morumbi, no Bexiga e na Mooca, três bairros retratados na trama. Inclusive, assim como Cambalacho, A Próxima Vítima é um raio-X da São Paulo nos anos 1990.

Saiba mais: A Próxima Vítima: a novela policial-tropical

Marina, redatora de literatura e arte 

A Maldição da Mansão Bly (2020) 

Excelente surpresa do ano, a série é adaptação da novela A Outra Volta do Parafuso, de Henry James. Acompanhamos a relação de Dani (Victoria Pedretti), contratada como babá de Miles (Benjamin Evan Ainsworth) e Flora (Amelie Bea Smith), duas crianças órfãs. Convivendo com a governanta, Hannah (T'Nia Miller), o cozinheiro, Owen (Rahul Kohli), e a jardineira, Jamie (Amelia Eve), Dani passa a ver os fantasmas de dois funcionários anteriores, assim como o desvelar de todas as tragédias que guarda a mansão. Uma história de amor e de fantasmas, de rancor e libertação das dores, de memória e tempo.  



Mia, editora de literatura, do podcast e colagista

A Very British Murder (2013)

Eu amo os documentários da historiadora Lucy Worsley. Ela tem a rara capacidade de falar sobre assuntos pesados de forma leve, o que me deixa particularmente empolgada. Eu, que nunca fui uma grande fã de true crime, me vi completamente envolvida nos três episódios de sua série documental, A Very British Murder, baseada no livro homônimo da autora. O documentário narra alguns dos mais chocantes assassinatos na história britânica. Mas, para além disso, ele faz ligações entre os crimes, o interesse público pelo tema e a literatura, que fez com que tais acontecimentos horrorosos se tornassem populares. 

The Great (2020) 

Sou completamente fascinada por algumas figuras históricas, e Catarina, a Grande está entre uma das minhas preferidas. A trajetória dela é incrível e eu leio e assisto a qualquer coisa sobre ela. Portanto, quando The Great foi anunciada, fiquei muito feliz. Assim que a série estreou, fui assisti-la, o que se revelou como uma das melhores decisões que tomei neste ano, pois a produção é perfeita. Embora Catarina (Elle Fanning) seja retratada de forma cômica (o que, na verdade, não está tão longe da realidade, pois seus diários revelam uma face muito divertida da imperatriz), e os fatos históricos envolvendo Peter (Nicholas Hoult) estejam soltos no meio da trama, dá para perceber claramente que as pessoas por trás de The Great possuem um conhecimento histórico profundo a respeito da corte russa e da vida de Catarina, a ponto de conseguirem brincar com a história e entregar uma série que é ao mesmo tempo divertida, emocionante e uma bela homenagem a uma das maiores líderes políticas que o mundo já viu. 

Saiba mais: Uma história ocasionalmente verdadeira sobre Catarina, a Grande

Anne With an E (2017 - 2019) 

Já havia tentado assistir a Anne With an E, mas os rompantes emocionais do primeiro episódio me fizeram sair correndo para longe da série. Felizmente, tentei assisti-la novamente e, dessa vez, deu muito certo. Na série, acompanhamos Anne (Amybeth McNulty), uma jovem órfã que é adotada por uma casal de irmãos. Ela é, sim, uma série muito sentimental, e é quase impossível passar incólume por ela, sem chorar algumas vezes. Mas também é bonita, delicada, sensível e perfeita em todos os sentidos. Baseada nos livros de L. M. Montgomery, Anne With an E é uma bela opção de refúgio, especialmente agora. 

Saiba mais: Anne With an E: o começo de uma aventura fantástica



Imagem de destaque: Sofia Lungui 

Mia Sodré
Mestranda em Estudos Literários pela UFRGS, pesquisando O Morro dos Ventos Uivantes e a recepção dos clássicos da Antiguidade. Escritora, jornalista, editora e analista literária, quando não está lendo escreve sobre clássicos e sobre mulheres na história. Vive em Porto Alegre e faz amizade com todo animal que encontra.

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