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6 filmes sobre cultos no horror clássico


A temática dos cultos é muito recorrente em filmes de horror, e isso tem a ver com o caráter intrinsecamente psicológico e social desses fenômenos. Embora vários dos filmes envolvam elementos narrativos fantasiosos, os cultos estão conectados à realidade, e a influência de uma seita sobre as pessoas pode ser algo assustador. A exemplo disso, temos o Templo Popular de Jim Jones, o culto sexual NXIVM, o Children of God e os adeptos de Osho, dentre tantos outros grupos que conquistaram e ainda conquistam milhares de seguidores ao redor do mundo.

Um culto envolve, necessariamente, os seguintes elementos — deve haver um líder a ser seguido e adorado, identificado pelos seguidores como figura divina; os integrantes da comunidade passam por uma espécie de doutrinação, com o controle de suas mentes e, muitas vezes, dos corpos, que acabam se tornando uma forma de exploração dos membros da seita. Por isso, pessoas em condição de saúde mental instável ou delicada são as mais suscetíveis aos cultos, já que o indivíduo é submetido a uma lavagem cerebral, uma verdadeira manipulação. Ao ingressar no culto, o sujeito se torna alguém alienado da realidade, e geralmente isso ocorre após a pessoa ter vivido algum desafio ou situação delicada, como a morte de um parente.

Este é exatamente o caso retratado em Midsommar (Ari Aster, 2019), filme que vem sendo muito aclamado. Mas, partindo para o passado, muitos filmes clássicos de horror têm os cultos como tema central e serviram como inspiração para obras mais recentes. Abaixo, estão listadas algumas obras que tratam sobre cultos.

O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby, 1968) 

O clássico de Roman Polanski é um filme grandioso, que passa por questões psicológicas e sociais. A narrativa mexe com o espectador durante todo o longa, com diálogos e situações desconfortáveis que tiram qualquer um do sério, como as diversas violações à privacidade e ao corpo da protagonista, a presença do estupro e a manipulação psicológica velada. Protagonizado por Rosemary Woodhouse (Mia Farrow), o filme conta a história da moça e de seu marido, o ator Guy (John Cassavettes), que vivem em Nova York e decidem mudar de apartamento.

No novo prédio, o casal começa a passar por situações estranhas, e convivem com os vizinhos mais velhos, Roman (Sidney Blackmer) e Minnie Castavet (Ruth Gordon), que se aproximam cada vez mais deles e, aos poucos, ganham a desconfiança de Rosemary. Ao investigar os acontecimentos, a protagonista descobre que o companheiro estava envolvido em um culto de devoção ao Diabo, liderado pelos vizinhos, que o recrutaram. A história é muito perturbadora, mas isso nada tem a ver com os elementos estéticos no filme, que apresenta poucas cenas explícitas macabras, mas sim com o desenvolvimento psicológico das personagens e das relações ali presentes.

Rosemary representa a mocinha da história e também a “outsider”, ou seja, a pessoa de fora do culto, e por isso suas opiniões e percepções são constantemente invalidadas pelas demais personagens, confundindo o espectador. O filme merece a notoriedade que recebe até os dias de hoje, embora o diretor tenha se revelado um abusador, condenado por diversos crimes. Pouco tempo depois do lançamento do longa, em 1969, ironicamente, Sharon Tate foi assassinada pelos seguidores de Charles Manson, a seita que é conhecida como um dos episódios mais assustadores na história dos Estados Unidos. Antes de sua morte, a atriz tinha um relacionamento com Roman Polanski.

As Bodas de Satã (The Devil Rides Out, 1968)

Ambientada no sul da Inglaterra, a história aborda um culto satânico sob diversos aspectos, desde a relação entre os integrantes da seita com o exterior até suas práticas, que envolvem magia negra e rituais macabros. Dirigido por Terence Fisher, o filme britânico apresenta cenas mais apelativas e explícitas — e assustadoras, sendo um dos filmes mais sinistros sobre o tema, com a figura de Satanás, criaturas bizarras e uma estética gótica.

O longa gira em torno de Nicholas, Duc de Richleau (Christopher Lee), um duque francês que começa a notar o estranho comportamento de Simon Aron (Patrick Mower), um conhecido, após uma visita à sua casa. Junto de um amigo, Rex Van Ryn (Leon Greene), o protagonista tenta reverter a lavagem cerebral a que Aron tinha sido submetido, procurando resgatá-lo da seita.

O Estigma de Satanás (The Blood on Satan's Claw, 1971)

A obra, que completa 50 anos em 2021, é uma das produções mais representativas do folk horror. A história retrata a aniquilação de uma comunidade, elemento narrativo que aparece muito dentro do gênero. Em O Estigma de Satanás, essa destruição se dá a partir de um culto satânico, que é desenvolvido ao longo do filme.

Dirigida por  Piers Haggard, a história se passa no século XVII, em um vilarejo inglês cujos habitantes passam a presenciar cenas estranhas. Em certo dia, um morador encontra no campo um crânio deformado e um pedaço de pele. Após esse acontecimento, as personagens mudam de comportamento e começam a cometer atos de crueldade. Como um vírus, o mal vai tomando a comunidade — e as crianças são as mais afetadas pela força sobrenatural que acomete o vilarejo. Para além das cenas sinistras de violência, com uma cena exagerada de estupro, inclusive, as atitudes maléficas das personagens são horripilantes.

O Homem de Palha (The Wicker Man, 1973)

Assim como O Estigma de Satanás, este filme narra a proliferação de uma seita. Ambas as produções fazem parte da trilogia profana, que conta também com o filme O Caçador de Bruxas (Witchfinder General, 1968). Dirigida por Robin Hardy, a premiada obra de 1973 é notável por sua originalidade, condensando o folk horror e o gênero musical em uma história misteriosa e dramática.

Após o desaparecimento de Rowan Morrison, uma jovem garota, o sargento Neil Howie (Edward Woodward) vai a Summerisle, onde teria acontecido o fato, para investigar o caso. Na ilha escocesa, o policial se vê envolvido em um festival de primavera que faz parte da tradição local, e descobre, aos poucos, os rituais de adoração pagã que ali ocorrem.

Os habitantes da ilha juntam esforços para ocultar o desaparecimento da menina, tentando convencer Howie de que ela nunca havia existido, demonstrando verdadeira tática de lavagem cerebral e controle digna dos cultos. O filme Midsommar (2019) possui referências a ele. 

Suspiria (1977)

O filme de estética excêntrica e criteriosa escolha de cores é um importante clássico do horror. Dirigido por Dario Argento, a produção italiana é repleta de simbolismos e, dentre eles, estão elementos que remetem à bruxaria e também aos cultos. A história é envolta em mistério, e pouco se revela sobre o segredo final ao longo do filme, mas é muito interessante observar os símbolos que aparecem durante toda a narrativa.

Suspiria conta a jornada de Suzy Bannion (Jessica Harper), bailarina estadunidense que viaja para Freiberg, na Alemanha, para frequentar aulas em uma prestigiada e tradicional academia de dança. Após os primeiros contatos com a escola, suas responsáveis e as demais alunas, Suzy percebe que há algo de misterioso e perturbador naquele local. O espectador acompanha as descobertas da personagem ao longo da história e também seus sentimentos conflitantes à medida em que vão acontecendo mais e mais situações esquisitas na Tanz Akademie, muitas delas envolvendo a protagonista. O longa, que mais parece um sonho psicodélico interminável, cheio de nuances e com uma aura incrível, merece ser assistido pelo menos duas vezes.

Colheita Maldita (Children of the Corn, 1984)

Adaptação do livro homônimo de Stephen King, publicado em 1977, o filme retrata um culto liderado por crianças, apresentando de forma sinistra o poder de controle da mente e manipulação exercidos por integrantes de uma seita. Com direção de Fritz Kiersch, a história é ambientada na cidade fictícia de Gatlin, que é tomada por uma entidade maligna que passa a controlar as crianças da comunidade. Possuídas, elas passam a assassinar todos os adultos do local em rituais perturbadores.





Arte em destaque: Mia Sodré 

Sofia
Jornalista e instrumentista com as emoções à flor da pele. Tenta parecer menos pisciana neurótica do que realmente é. Santista perdida em Porto Alegre que sente falta da praia mas adora explorar os sebos. Sonha com uma vida em que não seja necessário dormir para que possa assistir e ler tudo o que gostaria.

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