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6 filmes de horror escatológico

Amantes do gênero de horror cinematográfico provavelmente estão familiarizados com cenas asquerosas repletas de sangue, vômito ou outros dejetos. Essas fazem parte de todo um grupo de filmes escatológicos, muito presentes nos anos 1970 e 1980, como uma onda de efeitos práticos do cinema de horror. O escatológico tem como uma de suas definições “ciência que se dedica ao estudo dos excrementos”, ou seja, toda reação física sintomática referente ao ato de expelir substâncias de seu corpo. Pensando nisso, foi feito um compilado de seis filmes, em ordem cronológica, nos quais aparecem essas cenas absurdas, tão escandalosas que beiram o grotesco e que causam diversão ou náuseas em espectadores de filmes de horror trash, slasher, gore ou body horror.

Este texto apresenta conteúdo sensível e explícito e contém spoilers.

O Exorcista (1973)

O Exorcista é um dos primeiros e mais célebres filmes a exibir cenas escatológicas explícitas. Apesar da mais conhecida ser a cena do primeiro vômito, em que Regan (Linda Blair) expele um líquido verde e denso no rosto do Padre Karras (Jason Miller) após ele questioná-la sobre qual era o nome do meio de sua mãe, há outras cenas no filme a que o escatológico é atribuído. Dentre elas está aquela em que Regan urina no tapete durante a festa de sua mãe, quando a possessão começa a se afirmar e a cena em que a jovem contorcida desce as escadas e vomita sangue. A mais brutal e aterrorizante, em sentidos psicológicos, é aquela em que Regan se masturba violentamente com um crucifixo, gritando heresias e expelindo sangue pelos lençóis, deixando sua mãe horrorizada.

O filme é uma das grandes referências de cenas envolvendo escatologia, até por representar um elemento real, sintomático de diversas doenças, inclusive as psicossomáticas. A excepcional produção de efeitos práticos e maquiagem tornou O Exorcista um marco dentre os filmes de horror, promovendo uma grande leva de obras que utilizam do escatológico e do monstruoso repugnante como elemento principal, dentre elas Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio (1981), Um Lobisomem Americano em Londres (1981), A Hora do Pesadelo (1984), A Hora do Espanto (1985), além de tantos outros. 

Possessão (1981)

Em Possessão, há muitas cenas que remetem ao escatológico. Desde a cena de autoflagelação de Anna (Isabelle Adjani) e Mark (Sam Neill) com a faca elétrica até a aparição da criatura monstruosa e disforme, da qual escorre sangue e pus pelo apartamento, esse tipo de horror marca presença, mas é quando Anna percorre os corredores do metrô que ocorre um dos momentos mais emblemáticos do filme. Na cena, Anna, se sentindo possuída, caminha de forma estranha com uma expressão de terror nos olhos e esvazia-se de todos os seus líquidos de forma muito gráfica, o que provoca no espectador diversos sentimentos, dentre eles o de abominação. Anna representa o abjeto feminino, assume todo o horror que vive em seu corpo, a possessão é uma resposta a sua repressão em suas relações afetivas e profissionais, a sensação de impotência e invisibilidade a faz recorrer ao que existe de mais visceral como último recurso.

Demons: Filhos das Trevas (1985)

No filme, uma das espectadoras do cinema, Rosemary (Geretta Geretta), ao ver uma máscara prateada de demônio exposta no hall, decide colocá-la, mas ao tirá-la percebe que há um corte em seu rosto. Logo o filme em exibição revela que aqueles que colocam aquela exata máscara se tornam demônios através da marca do corte, que os faz ficarem possuídos. Na sala em que ocorre a sessão, a mulher percebe que há algo de errado, o corte não para de sangrar, e precisa sair dali para ir ao banheiro verificar o que está ocorrendo. Nesse momento ocorre a cena grotesca da mulher tomando forma demoníaca, de possuída. A cena provoca agonia, a personagem toca em sua ferida e sente ela pulsando para fora como uma bolha, que começa a expelir pus. Na cena em que a colega vai procurá-la no banheiro, ao chamar Rosemary, ela vira e demonstra sua aparência monstruosa: unhas enormes e pontudas, olhos alaranjados e uma boca aberta de forma animalesca, pela qual sai um vômito esverdeado, como referência a O Exorcista, que também apresenta essa escatologia. 

Outro momento relativo é o que mostra as unhas enormes de outra infectada (atacada pela possuída) emergindo das suas próprias, cujo efeito foi criado de forma explícita, com o sangue escorrendo de seus dedos. Além de apresentar os mesmos sintomas de Rosemary, a possuída também vomita sangue enquanto crescem suas enormes presas, expelindo seus dentes originais. A partir de então, mortes extremamente sangrentas são provocadas pelas criaturas bestiais que se tornaram as vítimas após a morte, num ciclo vicioso repleto de gore (violência e sangue). A cena mais interessante do ponto de vista escatológico é o nascimento de um demônio diretamente das costas da amiga possuída da protagonista, Cheryl (Natasha Hovey), após ser atacada na nuca - similar ao mito grego do nascimento de Pégaso e Crisaor do pescoço degolado da Medusa -, provocando enorme repulsa naqueles que observavam o ocorrido. 

A Mosca (1986) 

Transformações graduais ocorrem incessavelmente com Seth Brundle (Jeff Goldblum) após testar-se em sua máquina de teletransporte, que falha e o mescla com uma mosca que estava em uma das cápsulas. A partir de então, seu corpo incha e ele adquire poderes sobre-humanos, tornando-se um híbrido homem-mosca. Em algumas cenas, as transformações são tão intensas que tornam-se repugnantes aos seus próximos, como os estranhos pelos que são expulsados de sua pele e a grossa saliva que escorre de sua boca, que é utilizada pelas moscas para dissolver o alimento.

Hellraiser (1987)

O escatológico habita no sangue, nos músculos e na pele, no clássico Hellraiser. Durante o filme, acompanhamos como os renegados retornam do inferno e parecem renascer do corpo quando o sangue humano fresco cai sobre o seu. Também existe a associação com a autoflagelação, pois os guardiões do cubo, os chamados Cenobitas, apresentam-se com imagens de constante autoflagelação, com pinos na cabeça ou partes da pele arrancadas e presas a ganchos de metal, dentre outras coisas. 

A cena do renascimento de Frank (Sean Chapman), a partir de um aglomerado de massa corpórea, é singular na obra. A partir do sangue e corpo gerados das mortes realizadas por sua amante, Julia (Clare Higgins), Frank pode começar a se restabelecer como ser humano, parte por parte, em todo o seu organismo. No final do filme, entretanto, ele retorna a seu sofrimento, uma reviravolta de seus atos cruéis, com correntes em ganchos prendendo-se à sua pele e então a removendo de forma extremamente gráfica, gerando uma explosão de seu corpo. 

Begotten (1990)

Apesar de conter uma estética que remete mais ao início do século XX, Begotten é um filme da década de 1990 cuja definição lembra o efeito embaçado dos filmes mudos, provocando uma estranheza amedrontadora nos espectadores. Seu maior elemento de horror é o bizarro e o escatológico, com enfoques de cena e tratamento de imagem que geram dificuldade de compreensão de seu significado. Feito como produção experimental, o enredo aborda questões teológicas e apresenta diversos personagens estranhos, como criaturas encapuzadas chamadas de Vida, e Deus, que protagoniza as cenas mais bizarras do filme. 

Em relação à visualidade, o intérprete que atua como Deus expressa a cena mais conhecida, em que com uma navalha ele se fere e ocorre uma hemorragia que mancha toda a sua túnica branca. Logo após, uma mulher aparece e realiza atos sexuais com ele, recolhendo seu sêmen, para criar a analogia da criação do mundo. Existem outras cenas pesadas e incômodas durante o filme, mas nenhuma tão marcante quanto a inicial mencionada. 

As marcas reais do escatológico 

O escatológico reflete um dos maiores temores da humanidade: a degeneração. Esses filmes mostram o quanto de psicológico existe dentro desses atos, talvez vistos como repugnantes, mas comuns de ocorrerem na natureza, como as doenças e a decomposição, servindo de excelente memento mori ("lembra-te de que morrerás"), pois recorda o espectador sobre a fragilidade da vida, de que tudo é cíclico, com a vida gerando morte e vice-versa. 

A presença do exagero, do escândalo provocado pelo escatológico, revela muito sobre o público. A intenção é chocar, amedrontar, trabalhar a criatividade e, por vezes, a crítica. Logo, esses filmes podem conter reflexões, poesia, ou apenas jogar com a fantasia inspirada em eventos da vida real do imaginário lendário. Não há apenas horror, pois tudo o que é visceral é revelador, expõe a crueza da vida, denuncia a violência e questiona dogmas religiosos e perspectivas políticas. O horror está muito mais enraizado na humanidade do que se admite, assim, tenta-se ocultá-lo, por medo de aceitar que não existe apenas felicidade e saúde, nossas vidas estão em constante degradação, provocadas pelo tempo e por nós mesmos, e é assim que ocorre na natureza. 



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