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7 clássicos da literatura em Chaves e Chapolin


Quem nunca assistiu a pelo menos um episódio de Chaves ou Chapolin? Os dois seriados alcançaram o sucesso e favoritismo no Brasil no final dos anos 1980 e começo dos 1990, quando seus episódios foram dublados pelo estúdio MAGA e exibidos na TV. Mas as duas series foram criadas vinte anos antes, no México por Roberto Goméz Bolaños. Ele, além de ser intérprete do menino órfão e do "herói mais inteligente que um asno" também era a  mente criativa por trás dos episódios. Todos os roteiros eram seus e, devido ao seu desempenho criativo desde cedo, ganhou o apelido de Chespirito, o que seria algo como “pequeno Shakespeare”, por sua baixa estatura e capacidade de criar historias.

O artista mexicano buscou inspiração em diversas obras de sucesso da sua época ou anterior à década de 1970. Em alguns episódios, ele fazia referência a clássicos do cinema e até mesmo paródias de obras clássicas da literatura mundial. Listamos aqui 7 clássicos da literatura mundial que foram parodiados ou citados nas obras do roteirista mexicano. 

Romeu e Julieta – William Shakespeare

Episódio: Juleu e Romieta (1975), história dividida em duas partes. Em 1979, recebeu um remake sem Carlos Villagrán no elenco.                                                                     

Não é preciso ler a peça Romeu e Julieta para conhecer sua história. A clássica obra de William Shakespeare recebeu inúmeras adaptações para o cinema e para o teatro, ganhando também uma paródia sagaz e bem humorada no seriado Chapolin em 1975. Os episódios contam a historia do jovem casal Juleu Montesco (Carlos Villagrán) e Romieta Capuleto (Florinda Meza). Ambos estão apaixonados e desejam se casar mas, devido a uma rixa entre as duas famílias, o pai da moça (Ramon Valdes) a proíbe de manter o romance com Juleu. Desesperado, o personagem de Villagrán recorre a Chapolin para ajuda-lo a conseguir se casar com a sua amada Romieta. Diferente de outros episódios parodiados, nesse Chapolin participa como personagem da história e não apenas como narrador. 

É um dos meus episódios favoritos, com diálogos engraçados, tornando impossível não rir das trapalhadas dos personagens. E vale a pena conferir principalmente pelo número musical entre Bolaños, Villágran e Rubén Aguirre na segunda parte do episódio. 

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Branca de Neve – Irmãos Grimm

Episódio: Branca de Neve e os Sete Tchuim Tchuim Tchum Claim (1978), a história foi dividida em três partes. 

Bolaños gostava bastante de contos de fadas e produziu algumas paródias de contos famosos, como Cinderela e A Bela Adormecida, escrita pelo francês Charles Perrault. A mais notável é a adaptação de Branca de Neve, lançada em 1978, que foi dividida em três episódios. A primeira parte inicia de uma forma bem diferente, na escola do professor Girafales com as crianças fazendo bagunça. No começo, parece mais um episódio de Chaves, mas depois de um pedido coletivo, Chapolin entra em cena. As crianças pedem para que ele conte uma história para elas. O herói, exercendo o papel de narrador, começa a contar sobre uma princesa que “gostava tanto de bolo de coco que todo mundo a chamava de Branca de Neve”. A jovem, por ser bela demais, sofria com a inveja de sua madrasta, a Rainha (Maria Antonieta De Las Nieves). Branca de Neve (Florinda Meza) foge para a floresta, onde encontra a casa dos sete Tchuim Tchuim Tchum Claim, que seriam como os sete anões do conto original. O roteiro segue semelhante ao conto dos Grimm e ao filme da Disney, mas o final é diferente. O despertar da princesa acontece por causa de Chapolin que aparece, brevemente no final do terceiro episódio, e o final da madrasta de Branca de Neve foge totalmente ao esperado. 

E para curiosos, foram exibidas apenas as duas primeiras partes no Brasil, em 1990, isso porque a última parte não estava nos lotes dublados pela MAGA. Apenas em 2018 que foi possível assistir a terceira parte, exibida no Multishow. Imagina só ficar esse tempo todo sem saber o final da história. 

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O Alfaiate Valente – Irmãos Grimm

Episódio de Chapolin: O Alfaiatezinho Valente (1978), a história foi dividida em quatro partes.

Outro conto dos irmãos alemães que Chespirito adaptou para o seriado Chapolin foi "O Alfaiate Valente". O personagem do alfaiate é interpretado pelo próprio Bolaños, que não perdia a oportunidade de brincar com a sua baixa estatura. 

Chapolin aparece nos episódios apenas no início de cada um deles para nos contar o que aconteceu no episódio anterior e para dar continuidade a história. Na versão contada por Chapolin, que afirma que “muitos já conhecem a história, mas garanto que ninguém a conhece como eu conheço”, ela se passa em um país chamado "Tontolândia" governado por um rei (Carlos Villagrán) que "tinha a fama de não ser lá muito inteligente". O rei gostava de assinar decretos; um deles era de que seus súditos nunca vissem o rosto de sua filha, proibindo-a, dessa maneira, de sair do castelo. 

A princesa (Florinda Meza), chateada, acaba fugindo do castelo para visitar a aldeia e lá conhece o alfaiatezinho, por quem se apaixona. A narrativa de Bolaños se aproxima mais do conto original, especialmente na última parte onde o personagem principal conhece o gigante. A história também faz referência ao conto "A Roupa Nova do Rei", de Hans Christian Andersen.

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Drácula – Bram Stoker 

Episódios de Chapolin: O Vampiro (1973) e seus remakes Os Vampiros Não Sabem Fazer Outra Coisa Que Não Seja Chupar Sangue (1974) e Um Giro com o Vampiro (1978). O episodio de 1974 foi perdido. 

Lendas de vampiros são muito antigas, fazendo parte do folclore europeu mais popularmente entre nós, embora quase todo povo tenha sua versão do mito, mas foi graças ao escritor irlandês Bram Stoker que as histórias de vampiros como as conhecemos se tornaram tão conhecidas. Drácula, o vampiro criado por Stoker cujo nome dá título ao livro, se aproveita de suas vítimas em sua maioria enquanto dormem. Ao longo dos anos foram lançadas inúmeras adaptações para o cinema, e possivelmente Bolaños tenha se inspirado em alguma delas para o episódio O Vampiro (1973) no seriado Chapolin. Uma jovem (Maria Antonieta De Las Nieves) é quase atacada por um vampiro (José Luiz Fernández), enquanto dormia. Assustada ela grita e conta ao seu pai (Ramon Valdés) o que viu, mas ele não acredita na filha e diz que ela teve um pesadelo. Chapolin aparece após a garota pedir ajuda, incorporando uma espécie de Van Helsing com anteninhas para acabar com o morto-vivo. 

O episódio de 1978 tem um roteiro diferente, mas é bastante divertido. Nele, o Conde Drácula é até mesmo citado, fazendo uma referência direta ao romance de Stoker. 

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Frankenstein – Mary Shelley 

Episódios de Chapolin: Por favor, é aqui que vive o morto? (1974) e seu remake O Monstro de Cemitério (1977)

O título do episodio de 1974 é possivelmente o meu favorito; esses trocadilhos eram comuns em alguns episódios de Chapolin. 

Nele, a maior referência é o clássico livro Frankenstein, da escritora Mary Shelley, que conta a história do cientista Victor Frankenstein que se dedica a criar um ser humano a partir de restos mortais. Após conseguir o feito, Frankenstein foge, abandonando a Criatura.

No episodio de 1974, um cientista (Carlos Villagrán), Dr. Lobstein, primo de Frankenstein, mas nascido em Pirapora, está criando um monstro com restos humanos. No entanto, para a criatura sobreviver, ele precisa do sangue de uma jovem. 

Certo dia, uma moça catadora de lenha (Florinda Meza) encontra-se com o cientista. Ela pede ajuda a Chapolin para que o herói a acompanhe até sua casa, mas eles acabam se perdendo dentro do cemitério. A moça se separa dele e é capturada por Lobstein, o que deixa ao nosso herói atrapalhado a tarefa de salva-la. É um dos episódios mais aterrorizantes do seriado que, apesar do humor, não deixa de ter uma pitada de terror. 

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O Homem Invisível – H. G. Wells

Episódios de Chaves: O Homem Invisível (1974) e Invisibilidade (1976). 

O livro O Homem Invisível, escrito por H. G. Wells, narra a história de um cientista que inventa uma fórmula para ficar invisível. Ingenuamente, ele acredita que isso pode beneficia-lo, mas acaba descobrindo que pode ser muito perigoso. 

Um dos episódios mais memoráveis do seriado é Invisibilidade (1976). Nele, Chaves e Quico procuram pelo homem invisível que eles acreditam que existe e que estaria atormentando a vila.

O paralelo com a obra de Wells acontece quando Chiquinha tenta pregar uma peça nos meninos, fazendo-os acreditar que existe, sim, uma formula para ficar invisível. Os ingredientes eram os piores possíveis, como óleo de rícino, alho, vinagre e até pelos de gato. Chaves não consegue os três pelos de gato, e Quico acaba tomando o líquido estranho, confiando no que Chiquinha diz.                   

Quico: “Você disse que os três pelos de gato eram para deixar um gostinho melhor?”
Chiquinha: “Sim”
Quico: “Estão fazendo falta”

O resto do episódio acaba com mais confusões, envolvendo até tinta, uma solução criativa para o problema da invisibilidade. Em Chapolin, também há referências ao livro, como em O Espião Invisível (1973) e O Verniz Invisibilizador (1974). 

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Dom Quixote – Miguel de Cervantes

Esquete do Programa Chespirito: Dom Quixote (1974), que antecede o episódio Isto Merece Um Prêmio, do seriado Chaves.                                                                      

Dom Quixote de la Mancha foi escrito pelo espanhol Miguel de Cervantes, tendo sido publicado em duas partes: a primeira em 1605 e a segunda dez anos depois. 

A obra conta história de Dom Quixote, um fidalgo que, após ler muitos romances de cavalaria, começa a imitar os heróis das obras que leu, aparentemente perdendo a sanidade. O livro narra suas aventuras ao lado de seu fiel escudeiro, Sancho Pança. O objetivo de Cervantes ao escrever Dom Quixote era ridicularizar os romances de cavalaria, que ainda faziam muito sucesso na Espanha daquele século.

Na esquete de 1974, Dom Quixote (Ramon Valdés) e Sancho Pança (Bolaños) entram em uma taverna para descansar e tomar vinho. Quixote diz está apaixonado por uma das moças que atende no estabelecimento, chamando-a de Dulcinéia. Lógico que isso é mais um de seus delírios - na obra original, o personagem principal também é apaixonado por uma mulher que vive em sua imaginação e que atende pelo mesmo nome, Dulcinéia. Sancho é a voz da razão; em um dos diálogos do episódio, ele discorda de seu parceiro, que afirma ter lutado contra gigantes, mas Sancho diz que foi contra moinhos de vento. No livro, Dom Quixote também acredita que lutou contra gigantes, sendo essa uma das passagens mais memoráveis do clássico. 

Em alguns episódios de Chaves, também é citado o livro de Cervantes, como no episódio O Atropelamento (1975), o qual em um momento Seu Barriga bate na porta da casa de Dona Florinda e seu filho atende, referindo-se ao dono do cortiço como Sancho Pança. 

Seu Barriga: “Sua mãe está?”
Quico: “Da parte de quem?”
Seu Barriga: “Dom Quixote de la Mancha” 
Quico: “Disse Dom Quixote ou Sancho Pança?”
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Infelizmente, desde julho do ano passado, Chaves, Chapolin e outros programas de Roberto Goméz Bolaños não são mais exibidos no Brasil devido a conflitos entre a Televisa e os filhos do artista mexicano. A exibição dos seriados foi retirada do SBT, após 36 anos no ar, Multishow, Prime Vídeo e bloqueados no Youtube. Torcemos para que Chaves e Chapolin voltem logo a ser exibidos no nosso país, nos lembrando dos tempos de nossa infância e criando novas memórias nas gerações por vir. 


Texto: Maria Fontenele 
Imagem de destaque: Mia Sodré 

Maria Fontenele
Piauiense, nascida em 2000, se arrisca a escrever desde pequena. Apaixonada por reprises de filmes antigos, sonha em viver num musical dos anos 60, mesmo sem saber cantar. Chora ouvindo Scorpions, e tem uma lista tão grande de livros que jura que vai ler tudo antes de morrer.

Comentários

  1. Que texto mais lindo! Você escreve com a alma. Parabéns!

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  2. Uau, que texto mais perfeito!
    Eu sempre adorei Chaves e, principalmente, Chapolin. E mostrar como há clássicos referenciados nas séries é muito maravilhoso :D
    Amei!

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  3. Faltou Fausto de Goethe. Lembra do cherrin cherrion do diabo?

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  4. Amooo! Meu favorito é o Fausto de Goethe <3

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