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Juventude Transviada: uma rebeldia bem à frente do seu tempo


Filmes e obras com temática adolescente têm sido criticados desde sempre, seja porque a história é irreal demais, ou pesada demais, ou então pelo elenco não ter a idade apropriada. Entretanto, alguns acabam sendo reverenciados, como é o caso de Juventude Transviada (1955), filme responsável por eternizar James Dean no mundo do cinema.

Em Rebel without a cause, como foi intitulado em seu idioma original, Dean interpreta James “Jim” Stark, um jovem com pinta de bad boy problemático, cujos pais vivem mudando de cidade em cidade até pararem em Los Angeles, onde Jim é preso por embriaguez e desordem. Na delegacia, conhecemos Judy (Natalie Wood), uma jovem que fugiu de casa depois do pai tê-la chamado de vagabunda simplesmente por ter se maquiado, e John “Platão” Crawford (Sal Mineo), que está detido por ter atirado em cachorrinhos.

Podemos dizer que um dos principais problemas de Jim está no assombro de ser como seu pai, um homem completamente submisso diante da esposa e de qualquer um. Por isso, se recusa a fugir diante de situações que exigem coragem ou testem sua honra de homem.

No dia seguinte ao encontro na delegacia, Jim está prestes a ter seu primeiro dia de aula em sua nova escola, quando descobre Judy por lá, por quem se sentiu atraído desde o início, tenta ser simpático e lhe oferece uma carona. A garota é rude e diz que prefere ir com a sua “galera”. Em seguida, um carro repleto de jovens chega e começam a implicar com Jim.

Mais tarde no mesmo dia, após uma excursão escolar ao Observatório Griffith, o líder da “gangue” e namorado de Judy, Buzz (Corey Allen), começa a provocar Jim. O jovem Stark, acompanhado de Platão, retifica que não quer confusão e pede que lhe deixem em paz, porém, tudo muda quando o acusam de ser um covarde. Uma briga de facas começa até que um policial intervém. Por terem sido interrompidos, Buzz propõe a Jim que o encontre na mesma noite perto do penhasco para que possam acertar as contas em um racha.

A necessidade de Jim de provar sua honra e coragem sempre que é testado não existe somente devido ao medo de se tornar como o pai, mas também como um retrato da masculinidade tóxica. Essa necessidade de não fugir de brigas, de ser violento quando lhe levantam a voz e de nunca perder uma oportunidade de “bancar o machão” são consequências do patriarcado.

Juventude Transviada pode ser considerado um filme coming-of-age, mesmo que tenha sido lançado antes do termo ganhar o significado pelo qual o conhecemos, e que tenha alguns elementos que o diferem da maioria dos filmes do gênero em sua trama. Ainda assim, ele é um filme sobre jovens amadurecendo e tentando dar um sentido a suas vidas.

O roteiro faz questão de dar ao trio de protagonistas problemas diferentes, e cada um deles representa um tipo de problema familiar. Jim sofre com a falta de autoridade paterna e o excesso de zelo; Judy é infantilizada pelos pais que não admitem que a filha chegou à maturidade sexual; e Platão é vítima de abandono parental e falta de atenção e afeto.

Em determinado momento do filme, vemos os três em uma mansão abandonada, e é nessa cena que notamos como eles se complementam. A sensação de refúgio fica aparente quando eles estão juntos e se mostram aliviados, parecendo que tiraram um peso das costas. Podemos então assistir Jim, Judy e Platão serem apenas adolescentes em um momento descontraído, totalmente despreocupados, como todos deveriam ser. Situação completamente oposta ao que testemunhamos na cena da delegacia. 

O Jim Stark de James Dean personifica todo o tormento, a incerteza, a desorientação e o sentimento de insuficiência que fazem parte da adolescência. A atuação intensa de Dean deixa implícita a razão para que esse seja considerado um dos melhores filmes de sua curta, porém brilhante, carreira.

Rebel without a cause é simplesmente genial em cada detalhe, mas se tornou ainda mais por definir toda uma geração de jovens que lutavam por sua autenticidade, para não serem como seus pais, e buscavam o direito de expressar todas suas angústias, sonhos e carências.





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Lilia Fitipaldi
Jornalista; virginiana com ascendente em aquário; 27 anos; lufana orgulhosa, escritora. Cinéfila - de E o Vento Levou a Vingadores Ultimato. Louca das séries, do esoterismo, dos gatos, dos musicais, a maior fã/defensora de Taylor Swift, Sara Bareilles e Maggie Rogers que você vai conhecer. Me esforço para descobrir o máximo do mundo da Broadway e às vezes me perco no mundo dos livros e das séries.

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