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A vida, a carreira e o humanitarismo de Audrey Hepburn


No dia 4 de maio de 1929, nascia Audrey Kathleen Hepburn-Ruston, em Bruxelas, na Bélgica. Sinônimo de beleza e elegância, a atriz entregou muito além dessa moldura, sendo reconhecida como ícone do cinema, da moda e também do humanitarismo. Seu pai, Joseph Ruston, dizia ser descendente de um rei escocês, o que o fez mudar seu nome para Hepburn-Ruston, pois erroneamente acreditava ser descendente de James Hepburn, terceiro marido da rainha Mary Stuart. Pouco se sabe ou foi dito sobre isso, mas, ainda assim, Joseph manteve o nome. Já a mãe de Audrey, Ella Van Heemstra, possuía ascendência nobre, com o título de baronesa.

Houve então a reviravolta que traçou a Audrey outros planos: seu pai se aliou a um grupo de fascistas, e, com eles, viajou pelo mundo e fez diversas doações para o movimento União Britânica de Fascistas. No período em que seu pai esteve distante, Audrey aprendeu cinco idiomas: inglês, italiano, francês, espanhol e holandês. Pouco tempo depois de se unir aos fascistas, Joseph parte para Londres, abandonando Audrey e sua esposa, momento ressaltado pela atriz como o "mais traumático de sua vida’’.

Os anos da guerra 


Anos mais tarde, ocorria a Segunda Guerra Mundial, e Audrey acompanhava de perto outro período que lhe assombrara. Desde então, ela e sua mãe se mudaram para a propriedade da família em Arnhem. Mais tarde, se deslocaram para Kent, onde a atriz foi enviada para estudar em um internato com a esperança de lá ser um lugar mais neutro, longe das experiências causadas pela guerra. Durante seus últimos anos no internato, ela começou suas aulas de ballet, destacando-se como "aluna estrela’’, atividade que fez grande parte de sua vida, até mesmo em sua resistência ao fascismo, pois ela entrou em um grupo antifascista, fazendo o que sabia e podia. Então, dançando ballet, arrecadou dinheiro com o intuito de doá-lo para os refugiados. A ocupação alemã fez parte de sua vida e deixou marcas, afetando sua família quando seu tio foi executado em um movimento de resistência, e seu irmão, levado a um campo de trabalho alemão, enquanto o outro se escondia para não ter o mesmo destino.

Contudo, o bloqueio da importação de comida para a Holanda foi um dos atos causados pelos alemães, o que levou Audrey, em 1944, a um período de fome extrema, momento no qual ela desenvolveu uma anemia aguda, pois a desnutrição na adolescência lhe causou certa dificuldade para engordar no futuro, deixando seu corpo frágil, já que não havia recebido nutrientes suficientes. Além disso, as propriedades de sua família também fizeram parte dessa destruição, sendo confiscadas nesse período.

Chegando no final da Segunda Guerra, sua família se deslocou para Amsterdã, com Audrey intensificando suas aulas de ballet e passando a morar com sua nova professora, Sonia Gaskell, uma das figuras do balé neerlandês, até o momento que sua mãe encontrasse um espaço e o sustento de ambas.

Audrey Hepburn nas telas 


O seu talento multifacetado era visível e também se destacava na evolução que tivera no ballet. Audrey se mudou para Londres com uma bolsa para a escola de ballet, porém, aos olhares críticos, foi dita como fraca por não possuir o porte ideal por ser "alta e desengonçada’’, mas, ainda assim, seu talento era notório, só não reconhecido como algo principal, o que foi suficiente para que ela focasse em outro ramo, ou seja, atuar. Sua primeira aparição na telona foi em 1948, quando fez uma pequena participação em Dutch in seven lessons, como uma aeromoça.

Audrey se aventurou em cada oportunidade que foi posta em seu caminho, trabalhando também como corista no teatro West End, centrado em Londres e no Cambridge Theatre, no qual teve aulas de locução. A partir daí, a atriz começou atuar em pequenos papéis, e o ballet continuava a acompanhar seus passos quando atuou no filme The secret people, se destacando por encenar seus próprios movimentos de dança. Então, iniciava sua era de destaque em seus outros trabalhos cinematográficos, sendo escalada para protagonizar o filme Monte Carlo Baby, e logo após chamada para participar do musical Gigi, passando a ser mais visível após elogios de diversos jornais e revistas.

A princesa e o plebeu foi o primeiro filme em que teve um papel de destaque, um tanto marcante, pois lhe concedeu um Oscar. Sua faceta transbordava carisma, beleza e talento, e foi assim que encantou os olhares críticos que a observavam, o que moldou sua era de destaque que se iniciava em Hollywood. Seu raro talento lhe trouxera outros prêmios após sua primeira obra interpretada, tais como o BAFTA e o Globo de Ouro, se tornando um sucesso de bilheteria, o que resultou num grande avanço. 


O trabalho árduo da atriz continuou em seus outros filmes, que mais uma vez tiveram sucesso. Um deles foi Sabrina, que alavancou mais ainda a carreira de Audrey. A comédia romântica protagonizada por ela lhe rendeu um Oscar e o Prêmio Tony, fazendo com que se tornasse uma das principais atrizes do momento.

Audrey assinou um contrato com a Paramount para protagonizar sete filmes, com a condição de que ela tivesse o intervalo de 12 meses entre cada um para que pudesse atuar também no teatro. A atriz permanecia em destaque, estrelando em filmes de sucesso com os rostos favoritos de Hollywood, citada entre as indicações de cada ano. Anos se passaram, e seu talento com a dança ainda permanecia em seu afeto, fazendo parte de suas atuações; uma delas foi em Cinderela em Paris, seu primeiro filme musical.

Seu olhar voltado ao humanitarismo se iniciou quando a atriz protagonizou Uma cruz à beira do abismo, filme que a fez perceber seu anseio de se voluntariar para trabalhos humanitários. Além disso, pelo fato de ter sido um dos papéis mais exigentes de sua carreira, ela foi indicada outra vez ao Oscar e a um segundo prêmio BAFTA. 

Em 1961, Audrey protagonizou um de seus papéis com maior destaque, considerado o maior de sua carreira. Bonequinha de luxo se tornou um dos mais famosos símbolos do cinema até os dias de hoje, sendo outro papel que a indicou ao Oscar de Melhor Atriz.

Uma cruz à beira do abismo (1959)
No avançar dos anos, a atriz não saiu ilesa às críticas. Dentro e fora das telas também fora um dos rostos de Hollywood com algo a guardar e também a revelar. Em 1961, o filme Infâmia teve suas polêmicas por ser uma obra baseada em um caso real, apresentando a história de duas professoras acusadas de viverem um "romance secreto’’ no século XIX. As professoras foram interpretadas por Audrey e Shirley MacLaine.

Outra polêmica pela qual foi criticada aconteceu por causa de seu caso com o ator Willian Holden, com quem atuou em Sabrina. Ambos se apaixonaram, sendo esta uma paixão que saiu das telas, com eles saindo de seus relacionamentos passados para estarem juntos. Mas a sorte que sorria para Audrey nas telas não se destacava da melhor forma no amor, pois a atriz possuía o sonho de ser mãe, e ao lado de Holden não parecia ser possível pelo fato de o ator ter feito uma vasectomia anos antes. A atriz passou por outros relacionamentos, tendo seus altos e baixos, desde fofocas a abortos espontâneos; em julho de 1960, nasceu seu primeiro filho, Sean Hepburn Ferrer, com o ator Mel Ferrer, com quem se casou em 1954, casamento este que durou catorze anos, até dezembro de 1968.

Audrey foi uma das vitimas da mídia, que sempre se destacou por lucrar em cima da imagem manchada de um artista. Em 1964, a atriz protagonizava o musical Minha bela dama, o que fez com que a mídia criasse uma rivalidade entre Audrey e Julie Andrews, pois o papel havia sido escalado a ela, mas optaram por escolher Audrey, com a visão de que ela seria mais lucrativa, ainda que ela tivesse oferecido abrir mão do papel para sua amiga.

Com o passar dos anos, a atriz continuou atuando e se destacava em diversos gêneros cinematográficos, trabalhando em seus últimos filmes de sucesso e sendo indicada aos prêmios uma outra vez, ganhando pela quinta e última vez a competição ao Oscar de melhor atriz. Foi em 1967 que Audrey decidiu fazer uma pausa das telas por motivos válidos, decidindo ir cuidar de sua família e também de si mesma.

Para além do cinema 


Em 1988, foi nomeada embaixadora da UNICEF, e no mesmo ano visitou um orfanato em Etiópia, onde cuidou de 500 crianças que precisavam de alimentos e mantimentos. A atriz começava ali sua jornada de movimentos e causas sociais. Hepburn fora chamada a uma missão "Operation Lifeline’’, que prestava assistência humanitária, e ela ajudou a transportar comida para o sul do Sudão.

O ano era 1992, e Audrey era reconhecida com a maior honraria civil dos EUA, a Medalha Presidencial da Liberdade pelo presidente George H. W. Bush, em reconhecimento ao seu trabalho com a UNICEF, que em 2002, homenageou o seu legado humanitário ao inaugurar uma estátua "The Spirit of Audrey’’ na sede da UNICEF em Nova York. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas lhe concedeu também o Prêmio Humanitário Jean Hersholt, o qual premiava personalidades em causas humanitárias.

Audrey nos deixou em 1993, em virtude de um câncer de apêndice, que se espalhou de forma rápida para o colón intestinal, e mesmo todos os processos de quimioterapia não foram o suficiente para que ela pudesse resistir, partindo aos 63 anos em 20 de janeiro de 1993. A atriz, mãe, pessoa humanitária e dançarina partiu, mas seu legado se mantém vivo até os dias de hoje, sua arte se faz presente por toda sua trajetória. 

Sua luta e todo legado foram imortalizados por cada um que acompanhou e ainda hoje acompanha a inocência de sua alma jovial e a bondade de seu coração, que lutou pelo bem dos seus, nos mostrando que foi bem mais do que apenas um dos rostos de Hollywood, mas, também uma talentosa artista que usou sua voz e sua arte para o bem do que acreditava.

Referências  

  • A vida pessoal da icônica Audrey Hepburn (Aventuras na História)
  • Audrey Hepburn, uma atriz gentil (Culturalizando) 
  • Operation Lifeline 
  • Audrey Hepburn e William Holden, a paixão que saltou da tela 



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Lyriel Damasceno
Amante da arte, cinéfila na maior parte do tempo e leitora assídua nas horas vagas. Aspirante a escritora que transborda na poesia das canções de Taylor Swift e sofre incondicionalmente por Crepúsculo, Antes do Amanhecer e Sociedade dos Poetas Mortos. Suas principais inspirações se fazem presentes nas escritas de Jane Austen, na poesia de Emily Dickinson e na melancolia de Clarice Lispector.

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