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A literatura clássica na saga Crepúsculo


Diversas são as críticas que até hoje acompanham a repercussão causada pela saga Crepúsculo (Twilight). Aos olhares de diversos críticos, a obra não é considerada boa, mas será que era este o real objetivo? Stephenie Meyer, escritora da saga, já revelou não reconhecer todo o hype que acontece até os dias de hoje. 

Não tenho nem ideia. Nunca entendi por que os leitores reagiram dessa maneira.

Toda clichê em sua essência, a saga Crepúsculo é uma história de amor: Bella é a intérprete perfeita da adolescente colegial, jovem leitora e solitária, enquanto Edward é o garoto do sonhos das adolescentes do ensino médio. Os empecilhos desse romance são apresentados por vampiros e lobisomens, sendo Bella o centro de todo o sentimento de amor e disputa. No entanto, ainda que não seja considerada uma grande obra literária por muitos, a partir das leituras de Bella é possível observar conexões entre a saga e tantas outras obras clássicas da literatura.  

Jane Austen é uma das primeiras citações literárias de Bella, marcando presença no primeiro livro da saga e sendo ressaltada também no meio cinematográfico da obra.

Eu tinha uma pequena coleção de livros que eu trouxe comigo para Forks, o maior volume se tratava de um apanhado das obras de Jane Austen.

 

Austen foi uma das maiores romancistas da literatura inglesa do século XIX. Uma mulher à frente do seu tempo e revolucionária às tradições do século XVIII, a autora escreveu grandes sucessos que atravessaram séculos e se transformaram em clássicos da literatura. A mesma dedicou sua vida à literatura e suas heroínas. Dentre suas obras mais importantes então Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade.

No segundo livro da saga, Lua Nova, o escritor William Shakespeare é destacado por uma de suas principais obras: Romeu e Julieta. São muitas as referências da tragédia do autor inglês no livro de Stephenie Meyer, até mesmo nas semelhanças que acompanham o desespero dos casais Shakesperiano e de Meyer, como o anseio de estarem juntos, o momento em que Bella acorda de seu sonho e o livro encontra-se ao seu lado, e quando Edward é apresentado recitando um dos versos da peça: 

Aqui, fixar quero meu eterno repouso, e desta carne lassa do mundo sacudir o jugo das estrelas funestas.
Olhos, vede mais uma vez.
Braços, permiti-vos o último abraço.
E lábios, vós que sois a porta do hálito com um beijo legítimo selai este contrato com a morte exorbitante.

O sacrifício e a intensidade que se fazem presentes no relacionamento de ambos casais mostram o quão semelhante essas obras são. É sensível a dependência ou o amor de duas pessoas que não conseguem mais viver uma sem a outra.


O terceiro livro, Eclipse, traz o clássico de Emily Brontë, O Morro dos Ventos Uivantes. Ele é apresentado como o livro favorito de Bella e, por isso, se tornou uma grande apresentação aos leitores da saga aos clássicas e um ponto de introdução ao universo literário.

O livro Sol da meia-noite é narrado sob o ponto de vista do Edward, que nos guia um pouco mais às leituras da Bella, e novas obras são citadas. Dentre elas, Mulherzinhas (Little Women), descrita como o primeiro grande romance lido por Bella e uma leitura anualmente revisitada. 

Apesar de se assumir fã da escrita de Jane Austen e seus livros, Emma  não se encontra na lista de favoritos de Bella, pois tem uma protagonista convencida. A leitora assídua destaca as obras das irmãs Brontë, tendo várias vezes lido Jane Eyre, cuja protagonista é sua heroína favorita. Outras obras aparecem como parte do repertório literário de Bella, dentre elas encontram-se A viagem do peregrino da alvorada, E o vento levou, As Crônicas de Nárnia, uma coletânea dos trabalhos de Agatha Christie, etc. 

Sendo odiada ou aclamada, a saga sempre esteve em uma corda bamba, mas em equilíbrio. Não se pode negar o quão influenciadora ela foi a diversos leitores, trazendo clássicos e abrindo portas para um "passado literário". Tendo tamanho impacto, não seria positivo tentar desmerecer uma obra que somou tantas outras.

O sucesso da saga apresentou seus leitores a livros que um dia fizeram sucesso, mas que hoje retornam com o novo e destacam-se de outra forma. Um exemplo foi quando, em 2009, as editoras passaram a publicar exemplares com capas no mesmo estilo de Crepúsculo, com os mesmos detalhes na fonte, fundo preto, flores ou outros objetos semelhantes. Tudo isso fez com que essa retomada de clássicos tivesse uma maior repercussão e, assim, aumentasse suas vendas.


Há quem diga que daqui a alguns anos, a saga será um dos clássicos do cinema e da literatura. Possuindo aspectos positivos ou não, cada um tem sua visão acerca disso, mas ainda assim, Crepúsculo se destacou desde o primeiro momento e continua sendo bem visível e presente nos dias atuais.


Arte em destaque: Caroline Cecin
Lyriel Damasceno
Amante da arte, cinéfila na maior parte do tempo e leitora assídua nas horas vagas. Aspirante a escritora que transborda na poesia das canções de Taylor Swift e sofre incondicionalmente por Crepúsculo, Antes do Amanhecer e Sociedade dos Poetas Mortos. Suas principais inspirações se fazem presentes nas escritas de Jane Austen, na poesia de Emily Dickinson e na melancolia de Clarice Lispector.

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