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Clive Durham e a fuga da homofobia


Quais são os adjetivos que associamos a Clive Durham? Deduziria que muitos diriam: egoísta, covarde, detentor de um coração de pedra. Seu trágico final em Maurice é produto do carma; trazendo satisfação para o leitor e, até mesmo, para seu autor, E. M. Forster.

Sendo uma história facilmente tridimensional, sua profundidade corre de um resumo simples: garoto conhece garoto, garoto se apaixona por garoto, separam-se, e o outro garoto foge com o rústico caseiro, o famoso clichê másculo. Podemos extrair muito mais, um estudo subconsciente de comportamentos típicos da época.

Clive Durham não é um vilão. Visto de longe, não sabemos que ele irá partir o coração de alguém pela sua estranha risada, roupas excêntricas e atitude maligna. Clive é um jovem garoto de uma família privilegiada e problemática, palavras que andam juntas. Uma família que planejou cada passo seu desde quando ele se aconchegava no útero. Cair de paixões por outro homem é um obstáculo no caminho da trilha que o leva ao sucesso, dinheiro, política. Ignorar tal sentimento como a pedra no sapato que lhe frita os nervos ou o abraçar como um relacionamento genuíno e satisfatório? Nos resta deduzir o que se passava na mente de Clive quando Maurice anseia pela consumação da carne. De uma maldição que cairia sobre ele terminando em uma interpretação moderna de que talvez Clive nunca estará a fim de qualquer que seja o ato sexual.


Na adaptação cinematográfica de 1987, dirigida por James Ivory, o julgamento de um ex-colega da faculdade, Risley, pego tentando engajar em beijos com um servidor público, é o clique principal que faz Clive (Hugh Grant) fugir de seu grande amor. No livro, temos uma realização lenta, seu clímax na irônica, solitária viagem à Grécia. Não existe motivo para esse Clive, construído de linhas e papéis, ver com seus próprios olhos o que acontece com um típico “sodomita”: é sussurrado por todo o bairro quando alguém é descoberto, um “tipo como Wilde”, característica que o próprio Maurice acha para si.

Fugir juntos e ficar juntos para o todo sempre - nos dá uma sensação simplista de que é a melhor escolha. Por que não escolher a felicidade deitada bem embaixo de seu nariz?

A inspiração para a obra, o ativista Edward Carpenter e seu marido, George Merril, viveram essa verdade, essa imagem cercada de arco-íris que profetizamos para o amor entre Maurice e Alec Scudder. Mas eles são a minoria, no mundo fantástico ou no real. Enquanto acordavam sob o mesmo teto, trocavam juras de amor e construíam adoráveis lembranças, milhares de indivíduos LGBT+ estavam com os pés presos ao chão. Escondidos em cantos obscuros, casando e multiplicando para serem considerados imperceptíveis por tantos.


Clive com certeza considerou andando pelas ruínas gregas: uma vida incompleta com uma esposa ao seu lado, farta materialmente. Ou viver com Maurice, contente, apaixonado, abraços debaixo das cobertas e, mesmo assim, ter o constante medo pairando por entre a tempestade de terminar na prisão, morrer em uma cela, ter uma reputação arruinada por décadas que virão.

Maurice Hall e Clive Durham são mais similares do que imaginamos. Maurice foi corajoso, um valentão contra o invisível. Existe uma resposta definitiva para isso? Sinto dizer que não, muito menos quando acontece conosco.

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