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As polêmicas envolvendo O Grande Gatsby


O Grande Gatsby (The Great Gatsby no original) é muito mais que um romance estadunidense trágico: possui também as suas peculiaridades dramáticas, envolvendo tanto o texto quanto a história por trás da obra.

Escrito por F. Scott Fitzgerald, com a data de lançamento em 10 de abril de 1925, o romance se tornou um clássico mundial por tratar da caoticidade da Primeira Guerra Mundial e personificar em Jay Gatsby o american way of life, servindo de importante fonte de estudos literários para a história dos Estados Unidos da América.


Entretanto, a obra nem sempre foi grandiosa. Logo após o lançamento, vendeu menos de 25.000 cópias. Fitzgerald nem chegou a sonhar com a fama que sua obra receberia mais tarde. Porém, seria mesmo sua obra? Há aqueles que discordam: na verdade, quem teria escrito a obra que se consagrou como um dos 100 melhores romances do século XX, de acordo com a Modern Library, teria sido uma mulher: Zelda Fitzgerald, ninguém menos que a esposa de Scott Fitzgerald.

Zelda era uma artista, também romancista, contista, dançarina; uma socialite estadunidense, vivendo nas noites embebidas de jazz, participando do que a sociedade era na época: agitada e excessiva. Zelda bebia em público e também fumava, deixando para trás aquele estereótipo de “boa moça” que existia. Não demorou muito para conhecer Scott Fitzgerald e, aos 18 anos, eles já estavam juntos. Dois artistas, bem apresentáveis, fazendo sucesso nos gloriosos anos 20.

Os gloriosos anos 20, que também aparecem em O Grande Gatsby, estão contextualizados sob uma narrativa que apresenta o tédio e a decadência daqueles anos. Hedonismo, materialismo, consumismo são fortemente apresentados no livro como parte crucial da narrativa, emoldurando a vida das personagens que, também, são partes desse “tédio”. As exuberantes festas de Jay Gatsby são uma forma de escape, uma fuga aos excessos. Assim como Scott e Zelda pareciam escapar também.

Zelda e Scott Fitzgerald
A narrativa é rica porém nebulosa, pois quase todos personagens são envoltos por uma aura de mistério, por uma nuvem que não nos deixa enxergá-los direito. Para começar, a história é narrada por Nick, o vizinho recente de Gatsby. Tudo que lemos é pela sua perspectiva da história, sejam os fatos, as falas e a forma que visualizamos as personagens. Nick diz que Daisy, o grande amor de Gatsby e o real motivo por trás de suas festas, tem “voz de dinheiro”, o que deixa o leitor com uma ideia um pouco equívoca de quem era Daisy: ela era apenas uma mulher que precisava de segurança, tanto financeira como emocionalmente. É necessário lembrar que quem narra é um homem, porém Daisy, em uma cena bem comovente até, diz que deseja que sua filha “seja boba”:

"Espero que ela seja linda e boba, uma linda boba." 

Essa fala foi dita por ninguém menos que Zelda Fitzgerald, no meio de um delírio, logo depois de dar à luz sua filha. Scott Fitzgerald ouviu a frase e a usou em seu livro, sem nenhuma menção à sua esposa.

Episódios como esse já haviam acontecido antes: Zelda permitiu uma vez que Scott lesse seu diário, e ele copiou várias frases e trechos e usou-os no seu livro Este Lado do Paraíso (This side of Paradise), de 1920.

Em 1922, Zelda foi convidada pelo New York Tribune para fazer uma resenha, buscando atrair mais leitores. Nessa resenha, ela mencionou um possível uso/cópia de trechos de seu diário em obras de Fitzgerald, que apesar de ter sido uma ponderação mais espirituosa, foi o suficiente para que começasse aos poucos uma onda de ressentimentos entre o casal. Apesar disso, Zelda começou cada vez mais a ser chamada para escrever para outros jornais e revistas. Fitzgerald não gostou muito, e enquanto Zelda foi ficando mais famosa na época e ele “para trás”, o relacionamento dos dois começou a se deteriorar.

Em Paris, enquanto nascia a grande obra de Scott, Zelda se apaixonou por um piloto francês e logo em seguida pediu o divórcio. Scott, além de não aceitar a separação, ainda trancou Zelda em casa, até que ela tentou suicídio. O relacionamento já estava destruído e agora a vida de Zelda também: em 1930, ela foi internada com o diagnóstico de esquizofrenia.


Apesar de doente, Zelda não deixou de escrever: produziu um romance semi-autobiográfico, Esta Valsa é Minha (Save Me the Waltz), ao qual Scott teve uma reação violenta, pois queria usar em seu próprio livro o que Zelda tinha dito no dela. Ainda por cima, Fitzgerald chamou Zelda de uma escritora de “terceira categoria”, e disse que ela o havia plagiado, como se ele não a tivesse plagiado ao longo do casamento dos dois.

Em O Grande Gatsby, vemos muitas pinceladas e resquícios do que fora o casamento conturbado e agitado dos Fitzgerald, com todas as rupturas, traições e o “amor” que, um dia, existiu entre Gatsby e Daisy; entre Scott e Zelda. Gatsby é praticamente colocado em um pedestal e morre, tragicamente, fazendo um papel de vítima enquanto Daisy “trai” Gatsby e nunca mais aparece na história, sendo dessa forma vista como uma personagem egoísta e fútil, ainda que Daisy estava apenas se salvando, se assegurando na vida. De certa forma, também tentou Zelda. 

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Arte em destaque: Mia Sodré (para ver mais, clique aqui
Giovanna
Gaúcha, leitora, colunista, estudante de Letras, recente dona de um Instagram literário e atualmente rendida à fofura dos gatos.

Comentários

  1. Gostei do artigo, Parabéns. Li quando procurei algo sobre a historia após assistir ao filme O Grande Gatsby

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  2. Vi parar aqui após assistir o filme. Confesso que me segurou nessa áurea de suspense e sempre procurando entender qual será o desfecho. Fiquei um pouco decepcionado com o final, mas se trata de um romance trágico. Só essa classificação já responde muita coisa. Pessoalmente, achei a personagem da Deyse fraca no sentido de lutar pelo que realmente queria( seja viver com o Gratsby ou se separar de um marido que a traia). Mas temos que levar em conta a época que ela vivia tbm. Sobre o Gratsby, só lamentar que foi o grande "romance trágico" ( nadou nadou e morreu na praia)- DiCaprio como sempre em ótima atuação. No geral gostei do filmes 😁

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