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4 musicais para se apaixonar


O gênero "musical" é o famoso oito ou oitenta: ou você ama muito, ou odeia. Isso acontece nesse gênero específico por ele acrescentar em cenas números musicais representados por personagens. Há quem diga que isso faz parecer a história menos realista e mais fantasiosa. Mas terei que discordar. 

O musical requer muito da interpretação do espectador; uma canção dentro do contexto da obra faz com que ela reforce mais ainda a sua mensagem e objetivo do projeto - isso, é claro, se o número musical for bem trabalhado e contextualizado dentro da narrativa. 

O nascimento desse gênero cinematográfico ocorreu principalmente no anos 1920, quando o cinema mudo entrava em decadência e o cinema sonoro nascia. A população queria ouvir a voz dos atores, e também ouvir eles cantarem. Foram produzidos mais de 200 musicais entre os anos de 1927 e 1930, ou seja, era algo que fazia muito sucesso com o público. Nosso primeiro filme da lista aborda um pouco disso. 

A nossa seleção conta com 4 filmes fantásticos, obras-primas do cinema e favoritíssimos dentre as listas de melhores musicais de todos os tempos. Nesta semana, preparamos pautas temáticas do Dia dos Namorados e, para celebrar o amor, selecionamos aqui casais que marcaram os musicais e possivelmente nossos corações.

Cantando na Chuva (1952)
Dir. Gene Kelly, Stanley Donen 


Acredito que seja quase impossível alguém nunca ter ouvido falar ou visto a famosa cena de Gene Kelly cantando alegremente na chuva. A cena é do musical Cantando na Chuva (Singin' in the Rain no original), lançado em 1952 pelo estúdio MGM. 

O filme, que em sua época de lançamento fez um sucesso modesto, hoje é considerado o melhor musical já feito segundo a lista da AFI's. Não tem como discordar: a película é uma obra-prima tanto pela qualidade das músicas e direção, quanto pelo elenco fantástico que conta com Gene Kelly, Debbie Reynolds, Donald O'Connor e Jean HagenCantando na Chuva é um filme otimista, daqueles que transbordam felicidade desde a abertura até a cena final. O romance nessa obra é um fator crucial para o musical ficar ainda mais lindo. 

No começo do filme, somos apresentados a Don Lockwood (Gene Kelly), um astro do cinema mudo que, apesar de fazer par romântico nos filmes com Lina Lamont (Jean Hagen), não tem nenhum tipo de interesse amoroso por ela, pelo contrário, sempre foge das investidas da atriz. Após fugir de fãs, Don literalmente cai dentro de um carro dirigido por Kathy Selden (Debbie Reynolds), uma jovem atriz de teatro que, sem papas na língua, acaba desdenhando do talento do ator nas telas. Isso, lógico, o deixa enfurecido, e ele debocha dela também; o resultado é um embate divertidíssimo entre os dois. 

Mais tarde no mesmo dia, os dois se encontram e Don não esconde o interesse que tem pela moça, mas ela consegue fugir, gerando um sentimento ainda maior no ator que a essa altura já está apaixonado por ela. Mesmo depois de semanas sem vê-la, ele sente o mesmo por ela quando finalmente a reencontra, resultando em declarações de ambas as partes, pois Kathy admite ser fã dele há muito tempo. 

O que eu mais gosto no relacionamento dos dois é como eles são personagens queridas e fáceis de gostar, o que é uma característica bem marcante do cinema da época, por sinal. Kathy é espirituosa e inteligente, tem um carisma e um brilho angelical, e não baixa a guarda quando é confrontada. Don é o típico galã de cinema, tem uma aura encantadora, possui tudo e todos aos seus pés. Assim como Kathy, ele almeja conquistar algo maior no cinema. E dentro disso percebemos a admiração que cada um sente pelo outro e o apoio que eles se dão. O romance deles é o mais doce e feliz desta lista. É a felicidade de um novo amor que fez nossa personagem cantar na chuva, interpretrando uma das cenas mais memoráveis de toda a história do cinema. 

Vale lembrar que o filme se passa nos anos 1920; era o fim dos filmes mudos e o início do cinema sonoro. Esse é o conflito principal da obra, como se adaptar a mudanças. 

Canção: You Were Meant For Me

I'm content 
Estou contente
The angels must have sent you
Que os anjos a enviaram
And they meant you just for me
E que a fizeram só para mim


Nasce uma Estrela (1954) 
Dir. George Cukor


Vale começar dizendo que esse é o mais doloroso dos relacionamentos desta lista de musicais clássicos, portanto preparem os lencinhos.

Nasce Uma Estrela (A Star is Born no original) é uma obra-prima, isso é inegável. É o tipo de filme que fica na sua mente por dias. Ele conta a história de Esther Blodgett, uma aspirante a cantora que sonha em alcançar o estrelato na indústria cinematográfica. A atriz que a interpreta é a maravilhosa Judy Garland, que está simplesmente fantástica. 

Esther faz parte de uma banda e, à noite, se apresenta no Shire Auditorium, mas a performance que parecia ir bem acaba quase sendo atrapalhada por Norman Maine (James Mason), um astro de cinema alcoólatra que tem sua carreira decaindo cada vez mais. Esther consegue salvar Maine da humilhação, e depois, em agradecimento, o ator resolve chamá-la para jantar, mas ela recusa.

Norman não desiste e vai atrás da jovem, encontrando ela cantando em um bar, e fica fascinado com seu talento, propondo que a mesma largue tudo e se torne uma estrela de cinema. A partir disso, inicia-se uma trajetória na qual Esther se torna fenômeno no cinema, em especial dos musicais. Tendo que trocar inclusive seu nome para um artístico, Vicki Lester. 

Quando Norman escuta a voz de Esther pela primeira vez, percebemos que dentro dele surge o encantamento por ela. Arrisco dizer que ele se apaixonou primeiro pela voz da moça e depois completamente por ela. Isso é tão nítido que, mesmo depois de um período distantes, o ator consegue reconhecer a voz de Esther em um comercial qualquer da TV. 

Esther é fascinante, linda, talentosa e generosa. Mas é um pouco insegura. Quando Norman elogia o seu talento, ela mal consegue acreditar. A relação dos dois é de confiança e conexão desde o inicio. Após Esther conseguir um papel de grande destaque em um filme, ela se torna uma atriz admirada e querida por todos, e uma estrela, agora visível não apenas para Norman, mas pelo mundo. Em um momento a sós, ela se declara para ele, e é a partir disso que percebemos o quão complexa é sua personalidade. Ele não consegue aceitar de início, alegando que não presta e que pode acabar com a vida da atriz se eles ficarem juntos. A moça insiste e enfim eles iniciam um namoro que mais tarde resulta em um casamento.

Acompanhamos o crescimento da carreira de Esther ao mesmo tempo que a de Norman chega ao fim. Ele não consegue largar seu vício, deixando sua esposa triste cada vez mais triste; em certo momento, ela chega até mesmo a dizer que o ama, mas também o odeia por se destruir, expressando sua dor por não conseguir ajudá-lo com a frase "amor não é suficiente". É algo doloroso de ouvir e imagino que de falar também. Mas ela ainda mantém a esperança, disposta até em abrir mão de sua carreira para cuidar do marido. 

O final é de cortar o coração. Nasce Uma Estrela é uma história de amor dolorida, mas ao mesmo tempo linda. É a história de quando traumas e vícios infelizmente acabam superando o amor, o afeto e a vontade viver. Também é um alerta sobre o papel da psicoterapia na vida de uma pessoa.   

Canção: It's a New World

The tears have rolled off my cheek
As lagrimas da minha face secaram
And fears fade away every time you speak
E os medos desaparecem cada vez que você fala


Amor, Sublime Amor (1961)
Dir. Robert Wise, Jerome Robbins 


Dentre os títulos aqui citados, esse é o mais belo visualmente. Ele abusa das cores e de coreografias lindas. Lançado em 1961, é até hoje um dos melhores musicais já produzidos e foi, na época, a trilha sonora mais vendida de um filme. 

Amor, Sublime Amor (West Side Story no original) é uma livre adaptação do clássico Romeu e Julieta, de William Shakespeare. E aqui o foco é no romance dos protagonistas, Maria e Tony. Os dois jovens se apaixonam em meio a algo que parece impossível, uma rivalidade entre suas gangues. Os Jets, composta por estadunidenses, odeia os Sharks, a gangue de imigrantes latinos, originários especialmente de Porto Rico. Maria (Natalie Wood) é uma jovem latina que tem como irmão Bernardo (George Chakiris), o é o lider dos Sharks. Do outro lado temos Tony (Richard Beymer) que, apesar de demostrar não ter interesse naquela rivalidade, faz parte indiretamente dos Jets - seu melhor amigo, Riff (Russ Tamblyn), é quem a comanda. 
 
A forma como o casal se apaixona é instantânea. Após se encontrarem pela primeira vez em um baile, ambos se entregam àquele sentimento novo. Maria é a mais pura das personagens dentro de toda a história; ela expressa uma confiança em todos ao seu redor, principalmente em Tony, não se importando com o perigo daquele amor. Ele não é muito diferente, é sonhador e tem dentro de si uma esperança daquele romance ter futuro. 

Apesar de rápido sentirmos que a paixão dos dois é sincera, os números musicais reforçam isso. Em especial a canção Tonight. Desde o início já sentimos que aquele amor é trágico, ao mesmo tempo tão lindo e puro quanto perigoso. 

O filme foi um grande sucesso, vencendo 10 Oscars nas 11 categorias a que foi indicado. É um clássico que merece ser visto pelo menos uma vez na vida. E vale lembrar que a obra vai ganhar um remake com a direção de Steven Spielberg. O lançamento é para dezembro deste ano. 

Canção: Tonight

Tonight, tonight
Esta noite, esta noite
The world is full of light
O mundo está coberto de luz
With suns and moons all over the place
Com sóis e luas por toda parte


A Noviça Rebelde (1965)
Dir. Robert Wise


Por último, mas não menos importante, eu precisava colocar na lista o filme que me motivou a fazê-la. Para mim, trata-se do melhor musical de todos os tempos, e foi graças a ele que comecei a me apaixonar pelo gênero. 

Em A Noviça Rebelde (The Sound of Music no original) somos apresentados a Maria (Julie Andrews), uma jovem noviça que até tenta se adaptar às regras do convento, mas não consegue. A reverenda Madre Superiora (Peggy Wood) manda a noviça para uma casa de campo onde ela terá de ser governanta e cuidar dos sete filhos do Capitão von Trapp (Christopher Plummer). 

Maria muda a vida de todos com seu jeito carinhoso e bondoso ao trazer amor e música de volta àquele lar que estava tão carente de tudo aquilo. Com uma voz impecável, Julie Andrews nos entrega uma personagem cativante e divertida; é impossível de não se apaixonar por ela. Em seu primeiro encontro, Maria e o Capitão von Trapp não parecem se dar muito bem. Ela o confronta e critica o jeito militar de educar seus filhos. Pouco depois, ele começa a nutrir o que seria uma admiração pelo jeito da moça, que consegue encantar a todos da casa. Maria é possivelmente a minha personagem favorita de musicais. Ela tem um natureza livre e sincera. Seu jeito espirituoso e jovial cativa o espectador. Ela acaba se tornando o centro das atenções de todas as cenas em que participa. 

O relacionamento dos dois nasceu através de olhares e gestos. Isso é perceptível especialmente na cena em que Maria e o Capitão dançam juntos. Mesmo que pareça tímido, é algo grandioso de se ver, uma espécie de declaração. Mas muito antes disso, é fácil para o público convencer-se de que eles estão apaixonados um pelo outro. 

Esse casal é a personificação do amor e da esperança em um período tão difícil - lembrando que a história se passa em meados de 1930, no período entreguerras, quando o mundo estava prestes a adentrar nos horrores da Segunda Guerra Mundial, o que fica implícito, ainda que não seja o foco principal da trama. 

A Noviça Rebelde é de uma delicadeza incrível que expressa o quanto a fé, o amor e a esperança são necessários para superar dificuldades. O filme é até hoje uma das maiores bilheterias de todos os tempos, sucesso de crítica, e sua trilha sonora é lembrada como uma das melhores já feita. 

Canção: I Have Confidence

With each step I'm almost certain
A cada passo, tenho mais certeza
Everything will turn out find
Tudo vai dar muito certo
I have confidence, the world can all be mine 
Eu tenho confiança, o mundo todo pode ser meu 




Texto: Maria Fontenele 
Arte em destaque: Mia Sodré 
Maria Fontenele
Piauiense, nascida em 2000, se arrisca a escrever desde pequena. Apaixonada por reprises de filmes antigos, sonha em viver num musical dos anos 60, mesmo sem saber cantar. Chora ouvindo Scorpions, e tem uma lista tão grande de livros que jura que vai ler tudo antes de morrer.

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