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Dirty Dancing e a resistência ao protagonismo feminino

É difícil imaginar que um filme de tanto sucesso, popularidade, com faturamento de mais de US$ 217 milhões em todo o mundo, quase não foi feito. Essa é apenas uma das curiosidades que envolvem a produção cinematográfica de Dirty Dancing Ritmo Quente, lançado em 1987, dirigido por Emile Ardolino e estrelado pelos atores Jennifer Grey e Patrick Swayze.

Antes de toda a aclamação do público e de ter se tornado um dos filmes mais encantadores da cultura pop, Dirty Dancing Ritmo Quente foi rejeitado por 42 estúdios, dos maiores aos menores. E o motivo? Era considerado muito feminino.

Com roteiro de Eleanor Bergstein, à primeira vista, parece ser um filme musical, com uma história de romance como pano de fundo. Mas, se observado com atenção, vários outros temas são abordados com intenção política e social, como a diferença entre estruturas de classe, direitos civis, entre outros. Mas, na época, ninguém enxergava as qualidades do roteiro, que foi fortemente desacreditado por muito tempo.

Resumidamente, a história de se passa em 1963, antes dos Beatles estourarem como sucesso e antes do assassinato do presidente John F. Kennedy, nos Estados Unidos. O filme mostra o verão da família Houseman na Colônia de Férias Kellerman, em Catskill, um lugar voltado para o lazer da alta sociedade estadunidense. Frances “Baby” Houseman, de 17 anos, filha de pai médico, viaja com a irmã e os pais e se apaixona pelo instrutor de dança do hotel, o bailarino Johnny Castle. Aos poucos, ela percebe as diferenças entre as classes sociais, o preconceito e a injustiça que cercam aquele ambiente e suas relações.

Para escrever o roteiro, Eleanor Bergstein buscou algumas inspirações na própria história. A roteirista também era chamada de "Baby" quando jovem e tinha o pai médico. Na década de 1950, aos 12 anos, ela viajou para as montanhas de Catskill com a família. Alguns anos mais tarde, Eleanor ia a porões com amigos para apreciar e curtir o dirty dancing. Era como uma dança de rua, mais sensual, praticada às escondidas das famílias. “Usei muitas coisas da minha vida, mas não é a história da minha vida”, conta na série documental Filmes que marcam época (2019), produção da Netflix. Um dos episódios é dedicado ao filme de Ardolino.

As várias facetas de Dirty Dancing

Diferente da irmã Lisa (Jane Brucker), que é muito vaidosa e não demonstra outros interesses, Baby (Jennifer Grey) é uma garota politizada, curiosa por diferentes temas, decidida a fazer faculdade de Economia de Países Subdesenvolvidos e ir para o Corpo da Paz, com o propósito de poder ajudar as pessoas. Em uma cena, o pai de Baby, Jake Houseman (Jerry Orbach) diz que ela vai mudar o mundo, e ela provoca ao dizer que a irmã vai enfeitá-lo. Ali, ela faz uma crítica implícita a quem não ousa pensar no bem do próximo e nos problemas da sociedade. Apesar disso, Lisa não precisava ter sido apagada – a irmã aparece pouco no filme, em geral, o que acontecia muito com personagens femininas na época.

Como Baby não gosta de ser tratada apenas como uma dama, com sua curiosidade e seu hábito de ser solícita, logo no início do filme ela ajuda um dos funcionários do hotel com uma tarefa e descobre que há uma área distante dos olhos dos visitantes. Um local privado, somente para os funcionários, em que hóspedes são proibidos. É lá que Baby tem contato e vê pela primeira vez o estilo de dança dirty dancing, e, a princípio, fica chocada com o que vê, constrangida com o jeito sensual como as pessoas dançavam.

Mas, rapidamente, Baby se encanta pela dança de Penny Johnson (Cynthia Rhodes) e Johnny Castle (Patrick Swayze), bailarinos do hotel pagos para dançar mambo e entreter os hóspedes. Já seduzida desde o primeiro olhar para Johnny, ele a conduz para o meio da pista numa tentativa de mostrar o ritmo contagiante, e faz de maneira que ela se solta e sente-se segura com ele. Numa atitude quase prepotente, com a certeza de que é o melhor dançarino da colônia, Johnny deixa Baby no meio da pista, sozinha e desnorteada, logo que acaba a música.

Em vários momentos do filme fica evidente a desigualdade de classes. Os bailarinos e funcionários têm um espaço próprio para sua diversão para não se misturarem com as famílias ricas que estão aproveitando as férias. Os dançarinos são vistos como inferiores aos garçons, já que esses fazem faculdade, o que demonstra a forma como os artistas eram desvalorizados. Em outro momento, fica bem claro que a única função dos bailarinos é entreter os visitantes, nada mais, nenhuma outra intimidade. Enquanto isso, os garçons podem tomar a liberdade de levar as garotas para passear e ver as estrelas, mesmo que às escondidas dos pais, não era algo mal visto. Ao longo dos anos isso não mudou, infelizmente – o elitismo e a falta de consciência de classe por parte das pessoas ainda é um problema grave.

A década de 1960 foi marcada por transformações sociais e políticas, revoluções culturais e mudanças de comportamento, como a revolução sexual, com a popularização de roupas mais provocativas e da pílula anticoncepcional. Mesmo assim, um aspecto que chama a atenção no filme é a tentativa de fragilização e emolduração da mulher em um quadro que lhes era imposto por padrões comportamentais. O roteiro de Eleanor Bergstein mostra isso quando, em uma das atividades da colônia de férias, as personagens femininas se preparam para um desfile de perucas inspiradas em mulheres famosas, como Cleópatra e Elizabeth Taylor, como se as mulheres não tivessem interesses para além de moda e beleza. Em outra cena, a mãe de Baby, Marjorie Houseman (Kelly Bishop, a mãe de Lorelai em Gilmore Girls), diz que ela deve arrumar a postura. Mais um exemplo de que era exigido à mulher estar bem apresentável e performar a feminilidade. Em pleno século XXI, muitas famílias e grupos conservadores ainda tentam impor rótulos às mulheres.

Na medida em que personagens como Lisa se mostravam frágeis, outras eram consideradas subversivas, como Penny, que engravida do garçom Robbie Gould (Max Cantor), e é sobre ela que recai a culpa por ter se envolvido com ele, demonstrações do conservadorismo da época. Sem o apoio de Robbie para seguir com a gravidez, Penny opta pelo aborto, e é com a ajuda de amigos que consegue o dinheiro para pagar alguém despreparado para fazer o serviço. Nesse momento, Baby vê claramente a diferença de classes quando Penny, por não ter condições financeiras, precisa da ajuda de terceiros para realizar a interrupção da gravidez. Como consequência de um procedimento sem cuidados, Penny sofre e Baby decide por envolver seu pai e ajudá-la.

No contexto da trama, a década de 1960 condenava o aborto. Nos Estados Unidos era ilegal e a sociedade considerava algo vergonhoso. Mas, assim como vemos atualmente, quem tinha mais condições financeiras podia pagar mais por um serviço mais sigiloso e “melhor”, hipocrisia que vigora ainda hoje. Na mesma situação, Baby percebe o preconceito e pré-julgamento por parte de seu pai, que supôs que Johnny era pai do filho de Penny, sem saber da verdade.

Para o pai de Baby, ser bailarino do hotel era uma desqualificação de classe e até mesmo de caráter, o que também o faria acreditar que o jovem rapaz e dançarino não seria uma boa companhia para sua filha, especialmente em uma relação romântica. Era um romance “impossível” dentro dos padrões de sociedade impostos e estabelecidos na época: uma moça de família, com estudo e visões políticas, apaixonar-se por um rapaz sem muitas oportunidades na vida, instrutor de dança e dançarino do hotel. Em outro momento, Johnny é desacreditado de sua honestidade quando uma ex-aluna de dança põe em dúvida seu caráter por vingança.

Ao final da trama, quando Johnny já não faz mais parte da equipe de bailarinos do local, e Max Keller (Jack Weston) precisa cumprir com a apresentação protocolar e sem graça para as “famílias de bem”, com o festival final de temporada, que ele percebe que é preciso mudanças, era o momento de modernizar aquela tradição. É neste momento que Johnny volta e diz a célebre frase, “Ninguém deixa Baby num canto” (Nobody puts Baby in the corner), e está disposto a realizar sua última dança no hotel. A cena traz um dos momentos mais lindos e famosos do cinema, mostrando que dança unifica todas as classes, cumprindo um papel que vai muito além da performance.

A abordagem de todas essas questões acabou por colocar o roteiro em um estigma de interesse feminino. Assim foi a avaliação e o motivo da rejeição dos diferentes estúdios, que não aceitavam e acreditavam em um filme com o olhar de diversas mulheres.

A saga pela aceitação do roteiro

O roteiro estava pensado, mas Eleanor precisava de parceria. Em um almoço com a produtora Linda Gottlieb (que tinha contrato com a MGM, estúdio com longa história de dança e música), foi Linda quem disse que Dirty Dancing era um título de US$ 1 bilhão, e que depois elas pensariam melhor na história. Já com a trama definida, para elas, não seria difícil ter aprovação do presidente da MGM, Frank Yablans. E realmente não foi. Ele adorou, ficou decidido que fariam o filme e, no dia seguinte, ele foi demitido. Assim, os direitos da obra passaram para Linda, que detinha o contrato e tinha um ano para produzir o filme, caso contrário, os direitos voltariam para o estúdio. “Nós duas decidimos que esse filme seria feito”, afirma Linda.

Então, teve início a peregrinação para levar o roteiro aos mais variados estúdios: aos grandes 20th Century Fox, Universal, Warner Bros Pictures, aos menores, como New Line Cine e Orion, e a estúdios independentes (Miramax Film). “Era a história de uma mulher contada por mulheres, o que era uma raridade”, relata o ator Wayne Knight, que interpreta Stan no filme.

Naquele ano de 1986, entre as estreias do cinema estavam Top Gun – Ases Indomáveis, Crocodilo Dundee, Loucademia de Polícia 3, Karatê Kid II A hora da verdade continua e Aliens, O resgate, todos com muita ação, que eram os prediletos das bilheterias. Poucos foram os lançamentos que figuravam em categorias diferentes. “Os estúdios eram geridos por homens, e homens queriam filmes de muita ação”, afirma Gottlieb.

Cansadas de bater de porta em porta para apresentar a ideia do filme, Eleanor e Linda quase já não tinham mais esperanças. Finalmente, o roteiro caiu nas mãos do chefe de produção da Vestron Video, Mitchell Cannold, há milhares de quilômetros, longe de Hollywood. Com sede em Stamford, em Connecticut, ficava a empresa de filmes para VHS, a Vestron Video, que não tinha muita preocupação com a qualidade de suas produções. Conforme Mitchell Cannold conta no episódio, as pessoas começaram a ver fitas de vídeo em casa e surgiu uma oportunidade de gerar lucros. Mas, até 1983, as fitas de vídeo eram de cunho sexual, e “os estúdios maiores nem reconheciam o valor das fitas de vídeo”, explica Cannold.

Com foco na oportunidade de produzir novos filmes, a Vestron Video pegou todos os roteiros rejeitados por outros estúdios (cerca de 5 mil roteiros), sendo que vários foram lidos, alguns somente as primeiras páginas porque eram muito ruins, até que Mitchell se deparou com o de Dirty Dancing. O produtor teve uma identificação imediata porque ele também tinha ido a Catskill na infância com os pais e irmãos mais novos. “A vida que era retratada no filme eu conhecia e amava. Foi parte da minha história. Eu estava rindo e chorando. Entendi as piadas, todo o sentido, todo o tema. Mas, acima de tudo, chorei porque significava algo para mim. Não importava que tivesse passado de mão em mão. Eu tinha de fazer esse filme”, conta Mitchell.

Ele entrou em contato com Linda, afirmando estar interessado em fazer seu filme, o que a fez pensar que era um trote. “A Vestron comercializava VHS. Claramente não sabiam o que faziam. Mas pensei: ‘Que ótima oportunidade! Se eu for rápida, podemos fazer esse filme’”. Assim, a produção ganhou forma.

Os empecilhos da produção 

Ainda era necessário escolher um diretor para convencer os executivos da Vestron Video a apostarem na história. Então, os produtores pensaram grande e contrataram o vencedor do Oscar, Emile Ardolino, alguém que sabia como fazer um longa-metragem – pelo menos, era o que todos achavam. Na verdade, ele nunca havia dirigido um longa-metragem, o diretor tinha recebido o Oscar por conta de seu trabalho em um documentário de curta-metragem, He Makes Me Feel Like Dancin’. Pelo menos, Ardolino tinha conhecimento sobre a dança, e isso foi suficiente para os interessados levarem adiante o projeto de Dirty Dancing junto ao diretor.

Assim, em uma reunião da Vestron, Ardolino teve de convencer a todos que sabia o que fazia e que o filme seria uma boa ideia. Para piorar, ele teve um ataque de pânico e não conseguiu argumentar nada. O fato de não conseguir falar sensibilizou os executivos inexperientes da Vestron, que consentiram na realização do filme, o primeiro longa-metragem da empresa. O orçamento era pouco menos de US$ 4,5 milhões. Mesmo para a época, o valor era considerado muito baixo.

Outro problema era a locação. Embora a história se passasse em um resort caro, em Catskill, a produção não tinha como dispor de dinheiro para alugar um local caro no verão, além de ser lotado. Assim, mudaram os planos e encontraram um alojamento em uma montanha próxima a um lago, o The Mountain Lake Lodge, local semelhante à colônia de férias em Catskill. A empresa só teve condições de arcar com os custos de 14 dias da locação para filmagem. Posteriormente, também foram gravadas algumas cenas em um acampamento na Carolina do Norte.

Mais difícil do que achar o lugar ideal foi encontrar a atriz para dar vida à personagem Baby. Atrizes como Winona Ryder e Sarah Jessica Parker foram algumas das opções, mas Jennifer Grey era a preferida de Linda e Eleanor. A atriz foi levada ao teste pelo pai e pediu que lhe desejasse boa sorte antes de entrar. Até então, ela só tinha atuado como coadjuvante, como em Amanhecer Violento (1984) e em Curtindo a Vida Adoidado (1986), interpretando Jeanie Bueller. Todos gostaram dela, exceto a Vestron, que exigia que fosse qualquer outra atriz.

Jennifer Grey conhecia um pouco de dança, mas, para o personagem de Johnny Castle, o ator deveria ter muito mais domínio da dança e ter o visual certo. Eleanor queria alguém com “os olhos velados”. Entre tantos currículos encontrou o de Patrick Swayze, que dizia que não dançava. Continuaram a procurar o ator certo. Testaram outros atores como Benicio Del Toro e Billy Zane, sendo que o último quase foi o escolhido. Contudo, Eleanor não havia esquecido os olhos de Swayze. Então, Ardolino revelou à produtora que o ator, na verdade, era bailarino, e que sua mãe era a melhor dançarina do Texas.

Patrick havia atuado pela primeira vez em A Febre dos Patins e em outros filmes em que não dançou. Assim que fez o teste, as produtoras sabiam que ele devia ser o Johnny. Mas, ainda precisavam de aprovação da Vestron. A disputa dos papeis ficou entre Patrick Swayze e Billy Zane para dar vida a Johnny Castle, e Sarah Jessica Parker e Jennifer Grey para Baby.

O coreógrafo Kenny Ortega testou os atores em todos os pares possíveis, e a química explodiu entre Grey e Swayze. Enfim, tinham encontrado o par perfeito. Mas Patrick hesitava, ele odiou o título da produção e queria ser reconhecido como ator, não apenas como o cara que dançava no filme, por isso não constava a dança em seu currículo. No colégio, era conhecido por jogar futebol americano, período em que praticamente destruiu um de seus joelhos. Após a grave lesão, não queria mais dançar. Com a insistência de Eleanor, ele aceitou. Mas ainda havia outro problema: Jennifer não queria Patrick, ela pediu para contracenar com qualquer outro ator, exceto ele. Eles haviam trabalhado juntos anteriormente em Amanhecer Violento e a experiência não fora das melhores. Entretanto, após uma conversa sincera, concordaram participar da produção juntos.

A filmagem iniciou no dia 5 de setembro de 1986. Com o rápido passar dos dias, surgiu outro problema: a falta da trilha sonora. Eleanor havia gravado uma fita cassete com as músicas que imaginava para os diálogos, canções como Do You Love Me (The Contours), Love Man (Otis Redding), Big Girls Don’t Cry (The Four Seasons) e These Arms of Mine. Mas boa parte do orçamento teria de ser utilizada para o licenciamento das músicas, o que seria inviável. Portanto, precisavam também de composições originais.

A equipe já estava em locação, fazendo coreografias para músicas que não estariam no filme, por conta dos impasses financeiros. Os responsáveis por buscar as canções nada conseguiram. Foi então que Patrick Swayze ofereceu uma canção composta por ele mesmo, anos antes, She’s Like the Wind, que entrou na trilha da produção na voz do próprio. Depois, finalmente, foram resolvidos os direitos autorais das músicas que estavam na lista e imaginário de Eleanor.

Assim como os temas abordados, as músicas teriam também um papel muito especial no filme. “A luta de classes estaria em três danças. A esfregação e o Dirty Dancing refletiam a classe baixa, os ricos dançavam foxtrote em família, e, no meio tínhamos Johnny Castle e Penny sendo a dupla de dança cênica com ambições”, contou a assistente de coreografia, Miranda Garrison.

(I’ve Had) The Time of my Life, a principal música do filme, foi a última a ser definida, depois de parte da equipe passar uma noite inteira escutando diferentes canções em pilhas de fitas cassetes para escolher aquela que seria a perfeita. E encontraram a canção na última fita, na voz de Bill Medley e Jennifer Warnes. A música foi escolhida na noite anterior à filmagem da cena final. 

Curiosidades extras

A maior parte do filme foi gravado na Carolina do Norte, onde foram utilizados os mesmos itens do cenário da Virgínia para parecer que não havia mudanças de ambiente, e, de fato, isso não é perceptível na obra.

Foram muitas horas de ensaios até de madrugada para que tudo ocorresse conforme o planejado. Assim como Johnny ensina Baby a dançar, na realidade, Patrick Swayze também ensinou Jennifer Grey a coreografia. Embora ela já tivesse um pouco de contato com a dança, foi nos sets de gravação que ela aprendeu o que mostrou nas telas. Exigente, Patrick desejava que os movimentos fossem perfeitos e, para isso, se arriscou algumas vezes. Na cena em que Johnny ensina Baby a se equilibrar em cima de um tronco – para posterior apresentação em outro hotel –, o ator Patrick Swayze caiu e se machucou, piorando sua lesão no joelho e fazendo com que toda a equipe perdesse tempo de produção.

Quando os personagens de Baby e Johnny ensaiam no meio da noite, é uma cena que não estava prevista no roteiro. Era real a irritação de Patrick pela falta de concentração de Jenny. O diretor Emile Ardolino simplesmente deixou a câmera ligada, e o resultado é o que vimos no filme e ficou sendo uma das cenas mais icônicas de Dirty Dancing.

Na última dança, em que Johnny pula do palco e rodopia, o ator machucou seriamente o joelho, novamente, e teve que repetir a cena cerca de 14 vezes. Exausto e com muita dor, o ator sussurrou para o coreógrafo Kenny Ortega que só conseguiria mais uma vez, assim, pediu para que todas as câmeras gravassem, e foi a tomada perfeita. Mas, ainda seria preciso mais resistência por parte de Patrick para o salto de Baby, que também foi feito várias vezes até o resultado final.

O pós-produção

Foram 45 dias de trabalho e, após a finalização da obra, Dirty Dancing foi exibido a Aaron Russo, que havia produzido alguns filmes em Hollywood. Ao final da apresentação ele disse: “Queimem o negativo e recebam o seguro”. Como a Vestron havia gasto US$ 4,5 milhões, resolveu dar mais uma chance ao filme nas telas grandes antes de rebaixá-lo para as fitas VHS. Foi organizada uma exibição para cerca de mil pessoas e, ao final, os presentes ficaram muito entusiasmados, com aplausos e gritos.

Em seguida, iniciaram a campanha de marketing e o filme recebeu classificação restrita para menores de 17 anos. Assim, Linda testou uma nova proposta e foi aceito para classificação de 13 anos. O patrocinador nacional queria que tirassem a cena do aborto. Relutante, Eleanor não quis abrir mão da cena, caso contrário, toda história perderia seu propósito. Ela queria que fossem mantidas as questões importantes de Dirty Dancing. Por não abrir mão disso, ela foi convidada para dar uma entrevista ao jornal The New York Times.

No artigo, escrito pelo jornalista Samuel Freedman, ele afirmava que Dirty Dancing tinha mais história e conteúdo do que outros filmes musicais, como Flashdance e Footloose. “Esse filme aborda questões de classe, de injustiça racial, de identidade, de direitos civis, de guerra. E também mantinha um nível de entretenimento puro”, ressaltou. Na primeira exibição do filme, havia muitos adultos na plateia, mas poucos adolescentes. No segundo final de semana, o sucesso continuou. Por seguidos 19 finais de semana, Dirty Dancing seguiu sendo sucesso de bilheteria. Na época, era o filme independente de maior bilheteria já feito, e ainda hoje o filme lucra, mas a Vestron faliu e fechou suas portas em 1991. A produção foi recorde de exibições em cada canto do mundo.

A luz do sucesso

Para quem gosta de música e dança, é impossível não se encantar com o filme. Na época do lançamento, o álbum de Dirty Dancing vendeu 270 mil discos, pois as pessoas assistiam ao filme, adoravam e corriam para comprar o álbum. Dançar a coreografia da música (I’ve Had) The Time of my Life, executada com maestria por Patrick Swayze e Jennifer Grey, foi o desejo de muitos que assistiram ao filme. A obra ganhou espaço na cultura pop e vida das pessoas, sendo que a música principal foi utilizada em muitas coreografias de cerimônias de casamento.

Além de ser considerado um ótimo filme com músicas e coreografias louváveis, Dirty Dancing também ganhou o título de uma linda história de amor. Para quem ainda não assistiu à produção, vale a pena conferir. No ano seguinte ao lançamento, em 1988, o filme venceu em quatro premiações das oito indicadas – recebeu o título de Melhor Canção Original por (I’ve Had) The Time of my Life no 60th Academy Awards; a mesma música ganhou também nesta categoria o Golden Globe Awards; no Grammy Awards, foi vencedor na categoria Melhor Performance Pop de Dueto (para Bill Medley e Jennifer Warnes); e foi considerado o Melhor Filme Independente no Independent Spirit Awards.

Mesmo com todas as dificuldades, o filme se tornou um grande sucesso, assim como o álbum, que vendeu mais de 32 milhões de cópias no mundo e é um dos mais rentáveis de todos os tempos. A trilha sonora era uma atração à parte, que foi pensada cuidadosamente. Duas das canções se destacaram na produção e, mais tarde, fizeram parte de duas novelas da Rede Globo em 1988, dando ainda mais visibilidade para as canções. (I’ve Had) The Time of my Life integrou a trilha sonora de Sassaricando e She's Like the Wind fez parte da novela Fera Radical. Ainda hoje, são duas músicas que fazem parte do imaginário do público a que assistiu o filme.

Em 14 de setembro de 2009, Patrick Swayze faleceu em decorrência de um câncer de pâncreas que enfrentou por anos. Sua trajetória profissional de ator e bailarino nunca foi esquecida. Em The Mountain Lake Lodge, local de algumas gravações do filme, há um monumento em sua homenagem, como reconhecimento ao grande sucesso de Dirty Dancing.



Texto: Ana Paula Figueiredo
Ana Paula Figueiredo
Jornalista, gaúcha, capricorniana, perfeccionista, às vezes ansiosa. Apaixonada por histórias de verdade e de mentira. Fascinada por literatura, filmes, séries, gatos e café. Vê na escrita e leitura formas de terapia, e de vez em quando pratica a produção literária com contos.

Comentários

  1. Muito bom adorei, nem imaginava as dificuldade que foi para exibir esse clássico.Parabens.

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  2. Mais uma vez vendo Dirting Dancing, peço á Deus que proteja aí em cima, porque tenho vontade mesmo é de pedir que você volte! Tudo de bom paravsua família com saúde e paz

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  3. Meu deus, que texto incrível, sorri do começo ao fim! Eu sou apaixonada na obra e to quase chorando porque acabou. Muito obrigadaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, foi perfeito!

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