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Mindhunter Profile: na mente de serial killers


A febre dos serial killers começou bem antes que o termo existisse. Antes, sequer, de ser feito um estudo ao redor dessas pessoas, cujo limite para a crueldade parece não existir. No livro Mindhunter Profile: Serial Killers, conhecemos Robert K. Ressler e seu parceiro, John E. Douglas, responsáveis pelo desenvolvimento de um elaborado e exaustivo estudo que levou o FBI à linha de frente na busca por assassinos em série.

A elaboração de perfis psicológicos para a captura de assassinatos nem sempre foi prioridade para os Departamentos de Polícia. Contudo, um caso que aconteceu no Norte de Sacramento acabou transformando tudo isso. Russ Vorpagel, uma lenda no FBI, ligou para Ressler, que era detetive e atuava em Quântico, enquanto a pista ainda estava quente — ou seja, havia acontecido um assassinato cruel e a cena do crime ainda não estava comprometida. Essa decisão foi fundamental na história da caça aos homens mais procurados dos Estados Unidos. Ressler passou por momentos difíceis e, ao ler o livro, podemos perceber que essas dificuldades são impostas a ambos os personagens principais da série Mindhunter, da Netflix. 

Foram Ressler e seu time em Quântico os responsáveis por separar os perfis de assassinos em duas categorias: organizados e desorganizados. Outro dado interessante é que, a maioria deles, quando finalmente comete um crime, está abaixo dos 35 anos. Para adquirir tanta experiência em estudar perfis, foi necessário realizar diversas entrevistas, que eram orientadas por pesquisas feitas previamente. Tudo isso aconteceu em um espaço que, no começo, era apenas um pequeno departamento. Durante a apresentação do livro, podemos perceber diversos detalhes da atuação dos investigadores. Por exemplo, é preciso de esforço para que o entrevistado tenha confiança no entrevistador e consigam conversar com tranquilidade. O agente não pode demonstrar que desaprova o crime, ou estar em condição agitada. Você tem de mentir, omitir, deixar que o assassino pense que está conduzindo a entrevista.

Foi destacado no livro um caso em San Quentin, perpetuado por um homem chamado Richard Trenton Chase — responsável por uma sequência de mortes que aterrorizou os moradores da região. Richard era esquizofrênico e, graças à falta de suporte do sistema prisional, acabou cometendo suicídio ao ingerir algumas pílulas. Ele colecionava as pílulas que recebia diariamente para o autocontrole. Mas o interesse de Ressler não nasce aí. Ele foi uma criança influenciada pelos crimes que aconteceram em sua época. Os agentes do FBI eram, para ele e seus amigos, um tipo humano de super-herói, prontos para interromper e capturar criminosos repulsivos. Seus amigos acabaram superando essa fixação, mas não ele, que seguiu acompanhando casos criminais — mais especificamente, do tipo William Heirens, homem responsável pela morte de uma garotinha e duas mulheres. A semente já estava plantada. Ao tornar-se adulto, Ressler dedicou a vida ao que sempre quis: estudar, capturar e compreender a mentalidade de pessoas que cometiam crimes em série. Matadores ainda sem nome, mas que seriam cunhados graças aos seus esforços.

Mas ele não foi direto ao seu sonho. Antes disso, Ressler foi até mesmo tenente da Polícia do Exército e um cargo na Alemanha. Ao retornar para os Estados Unidos, liderou seu próprio time de combate, mas o sonho da aposentadoria começou a bater. Uma vida tranquila talvez fosse o que precisava naquele momento — mas nada disso aconteceu. Isso porque ele tinha apenas 32 anos, além do fato de que seus amigos do FBI lhe convenceram a tentar entrar no sistema novamente. E assim o fez. Entretanto, como tantos sonhos na vida, não foi tudo perfeito como ele pensou que seria. "(...) A rigidez e inflexibilidade do Bureau em fazer tudo conforme o manual, postura que continuei à combater até o dia da minha aposentadoria, vinte anos depois." 

Ressler trabalhou por muitos anos com tutores para perceber que sua carreira deveria entrar em Quântico e todo seu ambiente acadêmico. Para subir na hierarquia do FBI, a pesquisa acadêmica era de grande ajuda. Fora isso existia, ainda, a fonte de todo o futuro estudo que solidificou sua carreira: a Unidade de Ciências Comportamentais, que tinha somente duas pessoas trabalhando nela. "Quem comete crimes contra a pessoa, em que não há nenhum tipo de ganho material envolvido, é uma espécie diferente de criminoso daqueles que infringem para lucro pessoal"

Agora ele não era apenas mais um agente, mas também um professor. Ensinava desde comportamentos anormais até métodos de interrogatório. O termo "assassino em série" foi conhecido por ele, pela primeira vez, em uma viagem que fazia para dar treinamentos. Antes, homens como "o filho de Sam" (David Berkowitz) eram chamados por "assassinos de estranhos". Em Bramshill, na Inglaterra, os policiais definiram os crimes que se repetiam como "crimes em série". Para Ressler, isso pareceu perfeito, e foi assim que nasceu o termo, levado da Inglaterra direto para os acadêmicos de Quântico, nos Estados Unidos. Na época, para ele, a nomenclatura pareceu uma trivialidade. Mas ela se tornou muito mais do que aquilo, sendo que até hoje utiliza-se o termo.

Por outro lado, um fator que perdeu sua mística nos estudos do Departamento foi o fato de que, antigamente, havia uma visão sobre os serial killers análoga à figura do Médico e o Monstro. Homens que durante alguns dias eram completamente normais e, em outros, assumiam uma personalidade transtornada. Mas nada disso é assim, pois eles perseguem uma fixação. Tal fixação é uma fantasia que vive na mente daquele que sonha diariamente com atos de violência, até que ele se torne, de fato, um assassino. O estudo do FBI foi tão importante que ajudou a diminuir a letalidade da SWAT em suas operações. A adoção de uma abordagem menos letal contribuiu para o controle de homicídios, tanto por parte dos criminosos, como por agentes da lei. E foi assim que a conversa entrou nas negociações antes do que as armas. Ressler se especializou nessa questão por dois anos, em casos com reféns do FBI. 

O interessante é que o próprio Ressler foi atrás do seu estudo de assassinos em série, pagando viagens para consultas psiquiátricas e psicólogos e especialistas da mente, como a Associação Americana de Psiquiatria, a Academia Americana de Ciência Forense e a Academia Americana de Psiquiatria Legal. Essa proximidade com profissionais e estudiosos da mente lhe fez entrar com tudo no mundo da pesquisa. Assim como foi retratado na série Mindhunter, da Netflix, dirigida por David Fincher, ele foi de presídio em presídio, gravando entrevistas com os mais diversos tipos de criminosos. 

Na série, temos algumas mudanças sobre a vida de Ressler. Alguns atos foram distribuídos entre os dois personagens protagonistas, Bill Tench (Holt McCallany) e Holden Ford (Jonathan Groff). No caso de Ed Kemper, por exemplo, quem viveu a cena de estar confinado com ele sem o portão funcionar ou os guardas chegarem foi Ressler, diferentemente do que apresenta o seriado. Mas algo fiel na série é o fato de o agente nunca ter dado muita bola para Charles Manson — um chefe de culto que, para ele, não teria conseguido tornar-se grande sem a sua capacidade de entender a fraqueza das pessoas que escolhia ao seu redor.

Com a mesma fidedignidade da série, eles começaram suas amigas entrevistas antes mesmo de conseguir permissão legal. "Para não ser impedido de realizar a pesquisa antes mesmo de começar, considerei que seria melhor conduzir meu projeto de entrevistar assassinos sem comunicar nada ao pessoal da chefia que supervisionava o meu trabalho", conta Ressler no livro. 

O livro conta algumas de suas primeiras entrevistas, com Sirhan Sirhan, Manson e Tex Watson, Juan Corona, Herbert Mullion, John Frazier e Ed Kemper. Todas as entrevistas são retratadas no livro da coleção Crime Scene, escrita por Robert K. Ressler e Tom Schachtman. Em Mindhunter Profile, conhecemos um minucioso trabalho de um detetive que revolucionou o estudo dos assassinatos em série. Tudo pelas mãos metódicas da Darkside, que fez uma de suas edições mais belas nesse livro. O alinhamento, as frases marcadas em laranja, as imagens dos assassinos em preto e branco, a textura da página, e o grande ponto: a tradução fluída, que permite ao leitor ingressar em uma verdadeira jornada. Uma viagem pela mente dos responsáveis pela captura de assassinos com métodos cruéis, e também daqueles que cometeram crimes abomináveis o suficiente para durar na mente do público décadas depois.

É uma leitura difícil para aqueles com maior sensibilidade ou que se afetam por descrições de crimes, mas uma aventura de pouquíssimos intervalos para os mais entusiastas pelo gênero true crime. A leitura é fácil, o personagem já possui uma contraparte audiovisual no qual podemos nos basear, e a Darkside caprichou nos detalhes incluídos em cada página. Seja para conhecer a construção do método aperfeiçoado constantemente mas usado todos os dias, ou para ler trechos de entrevistas e detalhes dos crimes mais famosos na memória recente dos Estados Unidos, essa é uma obra indispensável.


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Texto: Nathália Morais
Imagem de destaque: Sofia Lungui

Nathália Morais
Pernambucana com o sertão nas veias. Apaixonada por fantasia, true crime e escrever mundos.

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