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Roaring 20s: o período pós-guerra, pós-pandemia e pré-crise


Imagine um mundo em que, diariamente, diversas pessoas lutam contra um vírus que pode ser fatal, em um período em que não havia nem mesmo vacina contra gripe. Ao mesmo tempo, está acontecendo uma guerra que atravessa diversos países. A situação é semelhante à nossa realidade atual, mas muito pior — assim foram os anos precedentes à década de 1920, quando a Primeira Guerra Mundial e a gripe espanhola provocaram tragédias, especialmente entre 1918 e 1919. Estima-se que a influenza deixou mais de 50 milhões de vítimas, enquanto a Grande Guerra provocou mais de 10 milhões de mortes no mundo todo. O coronavírus ainda não atingiu essas proporções, mas os dados são alarmantes. Até o momento, quase 2 milhões de pessoas morreram no mundo por conta da Covid-19.

Mas o assunto aqui são as coisas boas que aconteceram nos anos 1920, depois desse triste período do século XX — e muitos acreditam que anos de progresso estão por vir, também, após o fim da pandemia do coronavírus. Os roaring 20s, ou “loucos anos 20” foram um período de muita euforia no mundo todo. A partir de 1920, no pós-guerra, quando a gripe espanhola havia sido controlada, o mundo passou por diversas e rápidas transformações sociais, artísticas e, principalmente, culturais. Essas mudanças tiveram um impacto muito grande na sociedade. Foi nessa década que o cinema passou a ser uma atividade de lazer, por exemplo, e foi o momento em que o jazz se tornou algo muito popular nos Estados Unidos.


As transformações ocorreram em decorrência do clima de euforia em que o mundo estava imerso, principalmente nas grandes cidades. Paris, Londres, Berlim, Los Angeles, Nova York, Nova Orleans e Chicago tiveram um importante papel nesse processo. As pessoas estavam empolgadas com a possibilidade de sair sem medo às ruas e o consumismo desenfreado estava em alta. O progresso material caminhava junto ao desenvolvimento de novas tecnologias. Dentre outras conquistas, os anos 1920 foram um período de ampla ascensão do rádio como meio de comunicação na Europa e nos Estados Unidos, o que levou ao sucesso muitos artistas e provocou maior engajamento das pessoas na cena musical — a juventude, majoritariamente.

O jazz se popularizou nos Estados Unidos a partir de 1910. Contudo, os roaring 20s foram o auge da popularidade desse gênero musical. Na Era do Jazz, como ficou conhecida, o ritmo passou a ser um forte elemento cultural no país. Ele embalava as festas noturnas e era amplamente divulgado nas rádios, influenciando uma geração de jovens imbuídos dos valores da época. O jazz desse período tinha muito a ver com o caráter da sociedade: agitada, selvagem e retumbante.


Mesmo tendo se desenvolvido e repercutido no decorrer do século XX, o jazz teve importantes avanços na década de 1920, quando passou a ser representado nos filmes e também na literatura estadunidense. Autores como F. Scott Fitzgerald e Gertrude Stein influenciaram fortemente as narrativas sobre esse período. Em suas obras, estão retratados o glamour e, ao mesmo tempo, a decadência que os intensos roaring 20s exalavam. O hedonismo e o consumismo exacerbados, característicos da década, foram alguns dos fatores que levaram à queda da bolsa de Nova York, resultando na crise econômica de 1929, que afetou o mundo todo.

A quebra de tradições que se deu nos “loucos anos 20” também passa pelas questões da mulher na sociedade. A década começou com a conquista do direito ao voto feminino nos Estados Unidos, em 1920. Apesar disso, em alguns países, o sufrágio feminino foi conquistado apenas muitos anos depois, após fortes mobilizações das mulheres. Na Inglaterra, por exemplo, isso só aconteceu em 1928, e no Brasil, em 1932. Mas o clima dos anos 1920 era de euforia e de libertação feminina — a moda da época diz muito sobre isso. Roupas menos marcadas, mais esvoaçantes e confortáveis, cortes de cabelo curtos e maquiagem carregada foram algumas tendências da época.


Cada vez mais, as mulheres priorizavam as suas vontades. Talvez o aspecto mais marcante e mais abordado dos roaring 20s seja a imagem da melindrosa: a mulher jovem que tem um estilo de vida boêmio, fuma e bebe, além de dançar usando roupas curtas e vibrantes em festas noturnas embaladas pelo jazz. Estereótipos sobre a aparência à parte, o comportamento irreverente atrelado à figura da melindrosa influenciou e, até hoje, exerce influência sobre as mulheres. Obra prima da literatura na década de 1920, O Grande Gatsby é um romance que retrata bem esse período. Paralelamente à leitura coletiva do mês, também estamos lendo a obra de Fitzgerald — recomendamos a leitura para quem quer mergulhar nesse universo.




Texto: Sofia Lungui 
Imagem de destaque: Mia Sodré 

Sofia
Jornalista e instrumentista com as emoções à flor da pele. Tenta parecer menos pisciana neurótica do que realmente é. Santista perdida em Porto Alegre que sente falta da praia mas adora explorar os sebos. Sonha com uma vida em que não seja necessário dormir para que possa assistir e ler tudo o que gostaria.

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