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Edgar Allan Poe já sabia de tudo: a pandemia da Covid-19 e A Máscara da Morte Rubra


Com o início do seu contágio em 31 de dezembro de 2019, na cidade chinesa de Wuhan, considerada um centro comercial do país, a pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) se alastrou, causando, inicialmente, uma infecção respiratória séria e ainda sem cura, com possível desenvolvimento de outras condições fisiopatológicas em consequência da sua contaminação inicial.

No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, até o dia 05 de agosto de 2020 o número de contaminados confirmados era de 2.801.921 habitantes, enquanto o de óbitos se aproximava dos 96 mil. Apesar do aumento crescente e dos poucos locais sem novos contaminados no país, as esferas federais e estaduais prezaram pela chamada "reabertura da economia" com o retorno de atividades não essenciais, incluindo bares, academias e demais locais de grande aglomeração humana – comprovadamente um dos principais meios de proliferação, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).

A indiferença das representações máximas com os atuais acontecimentos é, no mínimo, revoltante, mas não data de hoje. Em maio de 1842, o autor estadunidense Edgar Allan Poe publicava seu conto de horror, A Máscara da Morte Rubra. De acordo com pesquisadores da literatura, o conto é baseado em um relato do poeta Nathaniel Parkers Willis, muito próximo de Poe na época, que esteve presente em um “baile de cólera”, realizado em Paris enquanto a doença ganhava grandes proporções.

Quadro de Pavel Fedotov, retratando uma morte por cólera no século XIX

Logo em seu primeiro parágrafo, somos ambientados: uma terrível peste contaminou o país. Dentre os seus sintomas, “Dores agudas, vertigens, hemorragia pelos poros. Manchas vermelhas pelo corpo, a morte”, e ainda assim, o príncipe Próspero, confiante da jovialidade de seus amigos e de si, ao ver seu reino sendo despovoado pela doença reuniu-os em uma de suas abadias fortificadas, aglomerando mil pessoas, sem qualquer contato com o mundo externo, a fim de impedir o contágio dos convidados.

“O mundo exterior que se arranjasse.”

Os meses passaram, as mortes cresceram, a doença não tinha seu fim e, em total desunião com o externo, o príncipe organizou para seus convidados um baile de máscaras. Porém, mesmo o ignorado, não é de fato esquecido.

As diferentes salas do baile possuíam luzes provenientes dos vitrais, que as tornavam coloridas, e para o incomodo dos presentes, uma delas se tornou escura do chão ao teto, com vitrais em um tom de vermelho sangue e um relógio antigo cujo barulho os incitava “[...] a pensar, a lembrar, e a temer”, pois uma doença fatal e de alto índice de contágio, mesmo quando deixada para trás das muralhas, ainda pode acometer um mero mortal. 

Ao final do conto, sabemos que, com o tardar da madrugada, um convidado mascarado surge, com vestes manchadas de sangue, e um ataque ao príncipe se inicia. Após a morte do anfitrião, os demais convidados perdem, um a um, a vida. Se este convidado é, afinal, a própria doença contagiando mesmo aqueles que não a tiveram como algo a ser temido e cuidado, cabe a cada um de nós refletir.

Referências



Tati
Estudante que ainda não sabe o que vai ser quando crescer. Escreve na internet há mais tempo que se lembra. Sonha com um mundo mais literário e justo.

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