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O amor numa galáxia muito, muito distante


Tudo é sobre amor. Ou a falta que ele faz. Sobre o que fazemos em nome dele, o estrago que um amor depositado numa pessoa errada pode fazer, a cura que ele traz quando nos é dado por vontade própria, sobre como não recebê-lo em fases da vida nos afeta para sempre, sobre como saber ou não amar corretamente sem ser egoísta faz toda a diferença para nós e para quem amamos.

Amor é essencial na vida de qualquer pessoa. E não, isso não é sobre romance. Ninguém precisa de um namoro ou casamento, mas talvez queira um, e está tudo bem querer ou não querer.

E sendo algo tão intrínseco do ser humano, é claro que o amor também faria parte da cultura popular. Pegue qualquer filme, série, livro, hq, conto etc., e se analisar com cuidado, verá que a narrativa fala sobre algum tipo de amor, mesmo que este não seja parte central da história - ele se fará presente em algum momento.

Mesmo a saga de uma galáxia tão distante com "magos" espaciais, espadas de laser, armas blasters, naves e muitas explosões, no coração de sua história e de sua verdadeira mensagem está o amor. Seja de um menino fazendeiro órfão que só queria mais da vida do que seu planeta tinha a oferecer e acaba virando um herói de toda a galáxia, não porque matou o vilão, mas sim ao descobrir que ele na realidade era um homem comum e seu pai, e escolheu perdoa-lo, salvando-o de si mesmo. Ou seja de um outro menino órfão que carrega a dor de não poder ter salvado sua mãe e de nunca ter aprendido a amar direito, sempre sendo controlado pelos seus intensos desejos e emoções e se deixando cair na arrogância de achar que pode controlar a vida e a morte para nunca mais perder aqueles a quem ama. O amor e a falta dele e o não saber como amar sem, mesmo com a melhor das intenções, machucar os que estão à sua volta, foi e continua sendo um ponto central da narrativa dessa saga, dentro dos filmes e dos diversos produtos da franquia Star Wars

Os clones e a república


Durante o período que se passa entre os filmes O Ataque dos Clone (Episódio II, 2002) e A Vingança dos Sith (Episódio III, 2005), aconteceu a Guerra dos Clones, evento que também é mencionado por Obi-Wan no filme Uma Nova Esperança (Episódio IV, 1977). Tal guerra foi um conflito entre os separatistas que, como o nome indica, queriam separar-se da república e criar uma nova ordem, liderada pelo sith Conde Dooku, aprendiz do Darth Sidious (o futuro imperador Palpatine). Do outro lado, temos os Jedi apoiando a república e a democracia e virando soldados e generais, o que os faz desviarem-se de seu verdadeiro propósito de pacificadores. A guerra em si não durou tanto tempo dentro da galáxia; foram aproximadamente 3 anos até a queda da república e a ascensão do império.

Na série Clone Wars (2008-2020), esse conflito é realmente explorado de todos os lados, e vemos assim pontos de vista diferentes. Um destaque válido a se mencionar é a forma como finalmente conhecemos os soldados do lado da república, fabricados (literalmente) em Kamino como se fossem porcos ao abate. Os clones. Um exército de homens geneticamente idênticos a um caçador de recompensas mandaloriano chamado Jango Fett. Todos sem nome, sem família, sem lar e sem poder de escolha, destinados a morrer lutando por uma república que nem ao menos os vê como pessoas.

E dentro da série eles ganham nome, forma, personalidade, opiniões e conflitos internos. Vemos eles formando fortes ligações entre si e se percebendo como irmãos. Podemos vê-los criando amizades genuínas com alguns Jedi, morrendo um pelo outro e até questionando seus propósitos. Finalmente os vemos como pessoas.

Normalmente na guerra, os que estão lutando nela formam um forte laço de irmandade e ao mesmo tempo tentam não se apegar a essas pessoas a cujo lado estão lutando porque sabem que com certeza perderão algumas delas. Mas mesmo se você for um soldado feito com a única intenção de servir a uma instituição até a morte, você não pode evitar, após tantas semanas, meses, anos com aquela pessoa, um sentimento de apego. Você o vê como sua família e eles lhe veem como a um irmão.

Constantemente esses homens encaram a morte levando pessoas a quem amam. A própria morte se torna uma velha amiga. E nenhum deles faz a menor ideia de quando ou se isso tudo irá acabar, se eles terão uma vida de verdade depois da guerra e, ainda assim, continuam mandando pessoas para encontrar sua morte. Os soldados ficam se dizendo que um dia, talvez, tudo isso irá fazer sentido. Mas não vai, e lá no fundo eles sabem. Algumas dessas feridas nunca irão sarar e muitas dessas cicatrizes irão continuar sangrando. Porém, os amigos e irmãos que eles fizeram sempre estarão com eles.

Nenhum deles, nem mesmos os sábios Jedi, sabiam que toda aquela guerra fazia parte de um quebra-cabeça maior. No fim, ninguém teve escolha em nada daquilo, ninguém exceto o grande responsável por isso: Palpatine. Os Jedi, os clones, até mesmo os separatistas e o Conde eram somente peças do grande plano para derrubar a república que o Sith planejou. Mas nem mesmo ele tinha poder suficiente para controlar a ligação e o amor que se criaria entre essas peças descartáveis para ele.


Algumas dessas ligações foram tão fortes que conseguiram se libertar de seu controle. Ahsoka e Rex, por exemplo. Ambos amigos que conseguiram escapar com vida da Ordem 66. Também outros clones que o Capitão Rex conseguiu tirar o chip que os controlava, os senadores Organa, dentre vários outros que fugiram e se rebelaram contra esse novo poder ditatorial que se instaurava com a queda da república.

“Os custos da guerra nunca podem realmente serem calculados.”

(Clone Wars)

O amor destrutivo: o Jedi que não sabia amar


Anakin Skywalker é o escolhido. Anakin Skywalker é um dos melhores pilotos da república. Anakin Skywalker é um dos mais famosos generais Jedi. Anakin Skywalker é o Darth Vader. Darth Vader matou Anakin Skywalker. Anakin Skywalker é... uma pessoa.

Com muitos nomes, muitos títulos, muitos apelidos, Anakin é uma peça central em toda a saga Star Wars. Sua ascensão, queda e finalmente cura dentro e fora da Força é a grande história de amor. Sua Força catastrófica e salvadora acaba tendo consequências igualmente boas e terríveis para o resto da galáxia.

A história de Anakin pode ser considerada o oposto da jornada de herói, a qual seu filho Luke Skywalker passa em sua trilogia de filmes. Porém, seu começo é parecido: de um menininho de 10 anos, escravo, morando em uma casinha simples com sua mãe, até chegarem os Jedi e a república o descobrir. O mestre Jedi Qui-Gon, servindo como o sábio de toda a história de herói, vê o potencial não explorado que o menino tem e como ele poderia ser o tal Escolhido da profecia que traria equilíbrio à Força (o que ele acaba fazendo mesmo no fim de sua história...). E, assim, o menino é salvo da escravidão, mas deve abandonar sua casa e sua mãe para juntar-se à Ordem Jedi e ser treinado por Obi-Wan Kenobi, que acaba se tornando quase uma figura paterna para o jovem Jedi.

Um dos defeitos fatais de Anakin, mostrado desde o começo de sua história, é o quão ele é apegado de maneira nada saudável a todas as pessoas a quem ama. Ele não aceita a morte, não aceita deixar ninguém ir. Claro que é compreensível sentir raiva e ódio do povo que matou sua mãe, é normal sentir ciúme de sua amada, não querer perder sua esposa ou seu mestre, a quem vê como um irmão. Porém, Anakin nunca conseguiu aceitar que existem coisas fora de seu controle e que não se pode controlar seus amados, e muito menos a morte.

Skywalker sempre flertou com o lado sombrio. Sua queda não foi só em não querer que sua esposa morresse no parto de seu futuro filho. É bom relembrar que ele já tinha cometido um genocídio antes com o povo da areia, mencionou apoiar um regime ditatorial se esta fosse a solução mais fácil para atingir a "paz", torturou pessoas durante a Guerra dos Clones para conseguir concluir suas missões, e exibiu várias vezes um ciúme descontrolado de Padmé. Anakin sempre demonstrou ser extremamente arrogante.


Ao mesmo tempo, ele demonstrava grande compaixão por seus soldados, sempre saltava ao perigo para salvar pessoas que às vezes ele nem conhecia, foi um ótimo mestre para sua aprendiz, Ahsoka Tano, e lutava pelo que acreditava.

Anakin era, essencialmente, uma boa pessoa, com um bom coração e boas intenções, mas até os mais puros dos corações podem sucumbir à própria vontade e egoísmo se não forem bem instruídos. E ainda que não sejam os vilões, o conselho Jedi pecou ao cegar-se para os conflitos do menino e focar tanto na guerra, deixando de lado seus valores pacifistas da Ordem Jedi.

Possivelmente, o conjunto de fatores de insegurança, perda de sua mãe, perda de sua aprendiz, o grande medo de perder sua amada e sua incapacidade de seguir em frente em relação ao seu passado e às pessoas que o deixaram foram os fatores que o fizeram ser facilmente manipulado pelo lorde sith Palpatine. Anakin amava não como alguém que realmente queria o melhor para aquelas pessoas; ele amava intensamente, como alguém que tinha medo dessa pessoa ir embora. E o lado sombrio é o prato perfeito para pessoas assim. Lá, você não precisa temer a morte; você é temido. Você não precisa sentir nada além da raiva lhe consumindo por dentro; você pode permitir-se se isolar num falso casulo da segurança. A segurança de não arriscar mais amar nada, principalmente si mesmo.


"Medo leva à raiva. Raiva leva ao ódio e o ódio leva ao sofrimento."

(Star Wars - Episódio III:  A Vingança dos Sith)

Anakin passou seus próximos 22 anos se odiando por ser a razão de Padmé morrer, de ter perdido seu filho, seu mestre, sua aprendiz e tudo e todos a quem ele amava. Tudo por suas próprias escolhas. Seu amor foi consumido por seu medo. E Vader consumiu o que restava de Anakin nele, ou assim ele queria acreditar, por anos e anos se escondendo atrás da máscara. Até o amor de ninguém mais que seu filho, Luke Skywalker, o salvar de si mesmo. Ao escolher não matar seu próprio pai, Luke não só salvou a galáxia, ele se salvou de cair no mesmo caminho que seu pai. Luke, possivelmente, foi a única pessoa em anos que viu Vader como ele é realmente, não uma máquina, não um monstro, mas um homem triste e perdido, consumido pelo próprio medo.

Star Wars é, afinal de contas, uma história sobre esperança e amor. Seja você um Jedi, um rebelde, um caçador de recompensas, ou só um mero mortal comum, escolher o caminho do amor e da compaixão definitivamente não é fácil, muitas vezes machuca demais ser gentil, um coração machucado demora para curar e tudo bem também, leve seu tempo. Mas não desista de si mesmo. Amar também é deixar ir, é saber seu tempo e se dar espaço, é ter a coragem de se deixar sentir e perdoar-se, entendendo que ninguém é capaz de salvar o mundo todo sozinho; nenhum Jedi luta sozinho. 

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Arte em destaque: Caroline Cecin
Nicole Hildebrand
2000, carioca de nascença e de coração para sempre (mesmo fora de lá). Universitária cansada. Fã de carteirinha de fantasia e sci-fi desde pequena e sempre fascinada por boas histórias, independente de gênero. Escreve umas coisas por aí nas horas vagas.

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