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Casas de autores clássicos que viraram museus


Segundo a nova proposta de significado para "museu", cujo processo ficou sob responsabilidade do Standing Committee on Museum Definition, Prospects and Potentials (MDPP), comitê instituído na 24ª Conferência Geral do International Council of Museums (ICOM) em 2016, na cidade de Kyoto (Japão), a definição é:

“Os museus são espaços democratizantes, inclusivos e polifônicos que atuam para o diálogo crítico sobre os passados e os futuros. Reconhecendo e abordando os conflitos e desafios do presente, mantêm artefatos e espécimes de forma confiável para a sociedade, salvaguardam memórias diversas para as gerações futuras e garantem a igualdade de direitos e a igualdade de acesso ao patrimônio para todos os povos.”

Desse modo, olhando com carinho para o passado, suas produções clássicas e o berço delas, dentre elas a literária, hoje trazemos algumas casas de escritores de clássicos que se tornaram museus devido a grande relevância de suas obras no passado, presente, e com certeza, para o futuro. Além disso, também falaremos sobre os grandiosos livros escritos em cada casa e, obviamente, a história de cada museu.

A casa de Anne Frank



Comecemos pela, talvez, casa mais conhecida de todas e com uma importância histórica grandiosíssima, porém trágica.

O prédio fica localizado às margens do canal Prince, na Prinsengracht 263, na cidade de Amsterdã, na Holanda, no qual se encontra o anexo secreto onde a família Frank se escondeu após a convocação de Margot Frank – irmã de Anne – pelo governo nazista, durante a Segunda Guerra Mundial, para trabalhar na Alemanha. No esconderijo, foram acolhidos pelos Frank Fritz Pfeffer e a família Van Pels.

Anne começara as anotações em seu diário muito antes de se mudar para o esconderijo. Então nesse momento, encontramos uma adolescente alegre, contente com sua rotina, e a narração de alguns problemas normais acarretados por sua faixa etária. 


Contudo também vislumbramos uma Alemanha nazista e antissemita, narrada pelo olhar de uma jovem, a qual expressa suas aflições acerca da problemática, mas não tanto quanto no período em que estava escondida já no anexo no prédio de trabalho de seu pai. Nessa parte a adolescente conta a Kitty – seu diário – fatos históricos importantíssimos sobre os horrores da Segunda Guerra Mundial e os trâmites dessa, narrações essas que foram de enorme utilidade para historiadores e pesquisadores. Desde 6 de julho de 1942 até 1º de agosto de 1944 – três dias antes do esconderijo ser encontrado pela polícia nazista –, Anne Frank conta o dia a dia do anexo, suas relações com os moradores e seus conflitos internos, tanto pela perspectiva de uma adolescente normal, quanto a de uma adolescente vista como perigo e aberração para o governo nacional.

O museu da Casa de Anne Frank apenas teve acesso a grande parte do atual acervo de informações devido a ajuda de pessoas próximas a Anne e de Otto Frank, pai de Anne e Margot, o único membro da família sobrevivente aos horrores dos campos de concentração. A Casa também conta com projetos educacionais acerca da história a Segunda Guerra Mundial, o Holocausto e o antissemitismo.

A casa de Graciliano Ramos



O que muitas pessoas podem desconhecer é que a casa de um dos maiores romancistas do Brasil, Graciliano Ramos, é considerada um monumento nacional por ter sido tombada pelo Patrimônio Histórico do Brasil. Além disso, o museu fica localizado na pequena cidade de Palmeiras dos Índios, no estado de Alagoas, município este que já contou como prefeito o próprio escritor de Vidas Secas.

A Casa-Museu contém um acervo recheado de objetos utilizados nas gravações do filme Vidas Secas, adaptação de uma de suas mais conhecidas obras, utensílios pessoais, alguns originais de seus escritos, como o manuscrito do romance Infância, e arquivos de quando foi prefeito, nos quais a escrita de Graciliano já despontava para um tom mais literário.


Foi nesse lugar onde começou a escrever seu livro de estreia, Caétes, e segundo alguns estudiosos de suas produções, foi onde terminou o romance S. Bernardo.

Além disso, no museu também podem ser encontrados manuscritos da carta que enviou ao então ditador, Getúlio Vargas, após ser preso devido à perseguição a opositores do governo Vargas e à caça aos comunistas promovida na época. Vale ressaltar que por ter sido uma época marcada por um governo ditatorial, Ramos foi preso sem ter que passar pelos trâmites formais da justiça, ou seja, sem provas nem processo. Esses escritos representam um grande marco na vida pessoal e literária do escritor em questão, uma vez que viria a ser publicada, mesmo que postumamente, a obra Memórias do Cárcere, uma verdadeira denúncia das condições subumanas a que eram submetidos aqueles presos políticos durante a Era Vargas.

A casa de Jane Austen



A casa da magnífica escritora Jane Austen é localizada em uma pacata vila chamada Chawton, em Hampshire, na Inglaterra, onde viveu com uma amiga da família, Martha Lloyd, Cassandra Austen, sua irmã mais velha, que era aquarelista, e a mãe, que também se chamava Cassandra. Foi nesse local em que Jane escreveu e revisou todos os seus romances.

As Austen mudaram-se para Chawton logo após a morte do pai, o Reverendo Charles Austen, pois foram convidadas a se instalarem no local por Edward. Antes da mudança para o vilarejo, a família residia em Bath, - cidade para a qual foram após Charles se aposentar -, onde estava localizada grande parte da aristocracia britânica. É importante salientar esse fato porque, segundo estudiosos das obras e da vida de Jane, a escritora foi para Bath contra sua vontade, e assim representou esse descontentamento na descrição de Bath em seu livro Persuasão.

O acervo do museu garante uma imersão não só na vida de Jane Austen, mas também na vida de personagens de seus escritos, como Elizabeth Bennet e Emma Woodhouse, pois há exposições de peças de roupas utilizadas nas adaptações fílmicas dos livros.


Além disso, há também uma decoração toda inspirada no século XIX, pois, de fato, os móveis que lá estão pertenceram à época em que a família Austen residia na casa. Um dos objetos mais emocionantes da casa que sobrevive desde quando Jane era moradora do Cottage é a mesinha que a escritora usava para dar vida aos seus escritos.

A curadoria da casa-museu oferece também algumas representações de cenas marcantes na vida de Jane utilizando sons e objetos do próprio lugar. Uma dessas representações é a do nascimento da autora, e no museu há a exposição de uma carta escrita por seu pai, enviada à tia de Austen na noite em que a prodígio veio ao mundo. Uma ótima experiência imersiva para os fãs de Jane e da literatura inglesa!

A casa de Vladimir Nabokov



Para finalizar a seleção de algumas casas-museus espalhadas pelo mundo, iremos, pois, à casa de um dos escritores de uma das obras mais polêmicas e divisora de opiniões: Vladimir Nabokov, autor de Lolita.

O casarão fica localizado em São Petersburgo, na rua Bolshaya Moskaya, 47, na Rússia. A luxuosidade da construção deve-se à vida economicamente privilegiada do russo, visto que sua mãe era herdeira e seu pai, um grandíssimo jornalista e político.

O museu funciona no primeiro andar do prédio e pertence à Universidade Estatal de São Petersburgo. Foi nesse local em que Nabokov viveu boa parte de sua vida, e sua “infância perfeita”, como ele próprio a denominou. Durante esse período de sua vida, lhe foi ensinado francês e inglês antes mesmo de aprender a escrever. A Casa Nabokov também foi o berço da criação dos poemas escritos por Vladimir ainda durante sua adolescência, produções essas presentes em seu primeiro livro publicado, intitulado Poems, de 1916, todos escritos em russo.


O acervo do local é composto, basicamente, por paixões do escritor, como exposições de livros de sua família, primeiras edições de suas obras, boa parte de seu trabalho como lepidopterista (especialista em borboletas) - fato esse não muito conhecido pelas pessoas – e desenhos de borboletas feitos pelo próprio autor em capas de alguns de seus livros. Uma curiosidade é que na década de 1990, um grupo de cientistas da Universidade de Harvard, liderados por uma curadora de lepidópteros, comprovou um dos estudos realizados por Nabokov acerca da evolução das borboletas Polyommatus azuis.

Em 2013, a Casa Nabokov sofreu diversos atos de vandalismos por um grupo ultraconservador russo, chamado “Os cossacos de São Petersburgo”, o qual afirmava que o escritor foi um grande promovedor da pedofilia.

Referências 

Laura Ferracini
Futura professora de línguas e apaixonada por Virginia Woolf, mas lê tudo o que lhe prende. Espalhando leituras no interior do interior de São Paulo, ou para os íntimos, Dolcinópolis.

Comentários

  1. São posts assim que eu sento pra ler já com um cadernozinho, pois logo depois vira parte de um roteiro de viagem - especialmente se ama literatura e história. Não tem como ler obras e não querer saber como era o "backstage", né? Amei.

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