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50 anos de horror: Let's Scare Jessica to Death

Let's Scare Jessica to Death saiu aqui no Brasil como Sonhos Alucinantes em 1971, mais um filme que completa 50 anos em 2021. Levemente inspirado em Carmilla, de Sheridan Le Fanu, a cada revisão se torna melhor. 

O longa de John D. Hancock traz Zohra Lampert como a protagonista Jessica, recém-saída de um hospital psiquiátrico. Para ajudar em sua recuperação, seu marido Duncan tem a brilhante ideia de levá-la para morar numa fazenda afastada de tudo e de todos (aqui a semelhança com O Papel de Parede Amarelo, de Charlotte Perkins Gilman, é gritante). Woody, amigo do casal, os acompanha. 

Duncan vendeu tudo, e a única coisa que resta para o casal é essa fazenda. Um passo bastante arriscado, levando em conta que Jessica está em fase de recuperação. Aqui, ela se vê completamente dependente do marido, sem dinheiro e sem contato com outras pessoas. Ela está completamente nas mãos dele. 

Quando o casal e Woody chegam à nova casa, Jessica vê uma mulher no andar de cima. Ela fica com medo, mas logo o marido a tranquiliza dizendo que viu o vulto também. Descobrem Emily, uma moça que está vivendo sozinha ali, pois achou que a casa estava abandonada. 

Todos os velhos da cidade são bastante hostis com os novos habitantes. Não é o caso de Emily, ela parece ser uma jovem divertida e solícita. Jessica logo percebe que o marido e o amigo possuem interesse nela e, para não desagradá-los, convida Emily a ficar com eles. 

Jessica segue esse papel de agradar a todos e tentar manter o autocontrole o tempo todo. Ela ouve vozes, seus pensamentos não param, mas ela tem que se manter sã a qualquer custo, mesmo que passe por cima de seus próprios sentimentos. 

Eles precisam vender coisas que encontram na casa para poder se sustentar. No sótão, a protagonista encontra diversos objetos, entre eles uma foto antiga com três pessoas. Ela não quer se desfazer desse retrato, mas o marido a convence a levar para o antiquário. O dono da loja conta a eles que há muito havia vivido naquela casa a família Bishop, e que Abigail Bishop havia se afogado no lago que existe atrás da casa. Ela estava usando um vestido de noiva, e seu corpo nunca foi encontrado. A lenda é que Abigail havia se tornado uma vampira.

A semelhança com Emily é clara, e as visões de Jessica aumentam a cada dia. Ela vê uma jovem assustada que a leva até o corpo do homem do antiquário, as vozes ficam mais altas e o comportamento de Emily se torna cada dia mais estranho e violento. 

Jessica não é mais atraente para o marido, a dependência que ela tem dele não deixa espaço para o sexo. Depois de uma briga, Duncan vai dormir no sofá e Emily se aproxima dele. Eles passam a noite juntos e passam a agir como uma dupla, enquanto o estado emocional de Jessica fica cada dia mais frágil.


O desenrolar do filme é ambíguo. É claro que algo muito estranho naquela cidade está acontecendo, mas será tudo um exagero da mente de Jessica? Será que só ela consegue ver o que realmente se passa com Emily? O clima de suspense e a atuação de Zohra Lampert tornam esse filme um dos mais surpreendentes da década de 70. 

A sanidade da mulher muitas vezes é posta à prova no cinema de terror e aqui não é diferente. Ela é a louca digna de pena, a perturbada a quem não se deve dar ouvidos, e sua solidão se torna sua própria prisão. 






Arte em destaque: Mia Sodré

Comentários

  1. Um texto excelente, de quem mais uma vez me incentiva a conhecer mais obras de mulheres. Obrigada, Mi, mais um pra lista para ver e pensar na resenha <3

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  2. Texto afiado! Parabéns!

    Embora o roteiro pudesse ser melhor ainda, eu adorei, vide locações e cenários esplendorosos, clima/ambientação/atmosfera fenomenais, boa direção, bom elenco, trilha muito, muito boa, e uma história bacana.

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