Antes de parar para escrever, resolvi reler a novela O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson, que já ganhou diversas adaptações para o cinema e hoje é uma história conhecida na cultura pop. Dr. Jekyll, fascinado com a dualidade do ser humano, começa a pensar muito sobre o fato de termos o bem e o mal dentro de nós mesmos.
Cientista curioso, ele desenvolve uma fórmula que acaba aflorando o lado "mau", aquele que tentamos esconder a todo custo. Nele, esse lado tem um nome: Mr. Hyde. Mais baixo, esquisito, como se tivesse alguma deformidade da alma. Aos poucos ele começa a tomar o lugar do Dr. Jekyll e não há nada que ele possa fazer para detê-lo.
Na produção da Hammer, o diretor Roy Ward Baker comete algumas licenças "poéticas". A história se passa na era vitoriana e o Dr. Jekyll busca a vida eterna; para isso, precisa de hormônios femininos roubados de cadáveres frescos. Ele sabe que mulheres vivem mais que homens, então ele acha que esse é o caminho para a imortalidade.
Ele decide então injetar o soro em si mesmo e se transforma numa bela mulher. Para os vizinhos, ela é a irmã do Dr. Jekyll, e está ali a passeio. Após algum tempo, ele precisa de mais cadáveres para continuar produzindo o soro, e logo começam as notícias de prostitutas assassinadas em Londres.
Aqui a licença poética: o diretor usa o caso real de Burke e Hare, dois homens que assassinaram diversas pessoas e as venderam para um médico usar em aulas de anatomia. E, além disso, o filme se passa em Whitechapel, local em que Jack, o Estripador cometeu seus crimes. As datas não batem, mas aqui entra o famoso "entrar na história", e, por acaso, deu bastante certo.
A Hammer produziu diversos filmes desses, filhos de personagens famosos, Drácula no mundo da minissaia (Dracula A.D. 1972 no original) e etc. Na maioria das vezes deu tudo muito errado, mas aqui não. É um filme visualmente lindo (como tudo da Hammer), com um enredo que convence e te faz sentir a dualidade enquanto espectador.
Texto: Michelle Henriques
Arte em destaque: Mia Sodré
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