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O terror onírico de Suspiria

Suspiria, de Dario Argento, é um dos grandes clássicos do terror e, com toda certeza, um dos meus filmes favoritos da vida. Eu o assisti pela primeira vez há mais de dez anos e desde então tento rever todo ano. A cada revisitação ele cresce ainda mais. Sou do time que não gostou da versão de 2018, dirigida por Luca Guadagnino, por inúmeros motivos, mas o principal é que, para mim, ele perdeu toda a aura criada por Argento. 

Neste filme de 1977, que possui uma trilha sonora impecável da banda Goblin e roteiro do próprio Argento em parceria com Daria Nicolodi, encontramos vários elementos que tornaram o filme um clássico. Acompanhamos Suzy Bannion (Jessica Harper) em sua chegada à Alemanha para fazer parte de uma prestigiosa academia de balé, mas desde o começo podemos perceber que há algo de estranho. 

Ao descer do táxi e bater na porta da academia, ela ouve gritos e vê uma mulher sair correndo. Ao pedir para entrar, não a deixam. Chove muito, ela vai embora e retorna no dia seguinte. As pessoas a recebem como se nada tivesse acontecido. Madame Blanc, uma das responsáveis pela escola, é interpretada por Joan Bennett, em seu último filme. A atriz ganhou certa fama ao trabalhar em diversos filmes do diretor Fritz Lang, de quem Argento era muito fã. 

Começa então a rotina das aulas para Suzy, enquanto estranhos acontecimentos começam a cercá-la. Ela fica subitamente doente, e receitam a ela uma espécie de suco que a deixa com muito sono. Em meio a essa perda da percepção da realidade, ela começa a desconfiar que a fundadora da escola, Helena Markos, esteja presente lá, mesmo que digam que não. Vermes desabam nas alunas, ela ouve gritos, vê sombras em meio à forte luz vermelha, característica do terror italiano.  

Suspiria é o primeiro filme da Trilogia das Mães de Dario Argento, que tem como sequências A Mansão do Inferno e A Mãe das Lágrimas. Aqui a mitologia das mães é brevemente apresentada, enquanto que nos outros filmes é mais aprofundada. O roteiro nasceu de uma ideia de Argento, após ouvir as histórias da avó de Daria Nicolodi a respeito de uma escola de dança tomada por bruxas. 

Originalmente o roteiro havia sido escrito para que as alunas fossem crianças, com no máximo treze anos. O pai do diretor, Salvatore Argento, que produziu o filme, o aconselhou a colocar atrizes maiores de idade, por conta da violência que toma o enredo. Dario concordou, mas manteve os diálogos no roteiro, de forma que eles são bastante infantis, o que torna tudo ainda mais estranho. 

A cena final do filme foi baseada num sonho que Daria Nicolodi teve, o que explica muito do clima do enredo todo. Parece que estamos dentro de um sonho, sem entender muito bem o que acontece com aquelas personagens. E é justamente isso que me fascina na obra. Nada é explicado claramente, e a princípio parece tudo sem conexão, mas aos poucos vamos montando esse quebra-cabeça. 

Por isso acabei não gostando tanto da versão de 2018, apesar da presença de minha amada Tilda Swinton. Na refilmagem, temos muitas explicações, muitos porquês a respeito das Mães, e isso não me agrada. Gosto muito do clima de pesadelo criado na primeira versão do filme.






Texto: Michelle Henriques 
Arte em destaque: Tati Ferrari

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